No feriado de Páscoa de 2007 o roteiro realizado não foi a pé ou de bicicleta, tampouco de caiaque: foi de Parati. Objetivo principal: conhecer o Monte Negro, em Silveira, interior de São José dos Ausentes. Para lá chegar, saindo de Caxias do Sul, o itinerário proposto seguiu inicialmente pela Rota do Sol até Lajeado Grande (São Francisco de Paula). Depois de uma breve parada para comer pastel feito na hora à beira da estrada, foi hora de seguir por estrada de chão bastante precária até a cidadezinha de Jaquirana e de lá até São José dos Ausentes por uma estrada que não é muito utilizada, visto que o caminho principal passa pela cidade de Bom Jesus. Um bom texto sobre a cidade, de autoria do historiador Sebastião Fonseca de Oliveira, é aqui reproduzido:
"São José dos Ausentes
Portal dos Campos de Cima da Serra
Sebastião Fonseca de Oliveira, historiador.
Falamos da história dessa magnífica região onde, no ano de 1727, o jesuíta, juntamente com o índio Tape (Guarani) levantou uma cruz, registro de um domínio na Vacaria dos Pinhais. Este marco foi encontrado quando o Rio Grande do Sul era guri, em 1729, pelo Sargento-Mor Francisco Souza e Faria, que abriu o primeiro rasgão na mata virgem e fez o reconhecimento deste rincão. A partir deste caminho surgem os domadores de terra xucra. Sendo um dos pioneiros, Francisco Pereira Gomes, que iniciou sua posse na paragem chamada Saída dos Conventos, este logo a abandonou, passando para o outro lado do Rio das Antas, onde fixou domínio. Em 17/08/1754, Gomes Freire de Andrada concedera a carta de sesmaria ao tropeiro Francisco Carvalho da Cunha e a José Pinheiro Soares do Lago, em 11/08/1755, moradores nos mesmos campos lindeiros a outro posseiro, Miguel Felix de Oliveira, falecido em 1760.
Falecidos estes grandes posseiros de terras, foram os campos arrematados, em "Juízo de Ausentes", pelo capitão Antônio da Costa Ribeiro, no ano de 1764, já proprietário da Fazenda São Gonçalo, entre os aparados da Serra Geral e as nascentes do Rio das Antas. Falecido este outro em 24/07/1785 sem descendentes, foram novamente os mesmos campos colocados em "Praça de Ausentes" e arrematados em 1787 pelo padre Bernardo Lopes da Silva, tenente José Pereira da Silva e Manoel José Leão, que repassam em 1789 ao povoador Antônio Manoel Velho que a denominou Fazenda Santo Antônio dos Ausentes.
As três sesmarias conhecidas como dos Ausentes, na medição e demarcação somaram a área de 1.296.336.900 metros quadrados, passando de dez sesmarias, que só foram subdivididas a partir de 1874, data do falecimento de Ignácio Manoel Velho, um dos herdeiros que manteve a área intacta.
Abraçada pelo Estado de Santa Catarina, entre Rio Pelotas, Serra Geral e o colo do Rio das Contas, está a empinada sesmaria de São José do Silveira, assim batizada pelo pioneiro, o Sargento-Mor José da Silveira Bitencourt. O velho soldado do brigadeiro Silva Paes faleceu em 1769. A sua viúva, Arcângela Xavier Ramos, a vende ao Capitão-Mor da Laguna João da Costa Ribeiro e ao sócio deste, Antônio José de Freitas. Freitas e sua mulher Ignácia de Jesus vendem em 08/07/1776 a metade da estância ao Capitão da Primeira Cavalaria Auxiliar dos Campos de Cima da Serra, Joaquim José Pereira. A outra metade, com gados mansos e alçados, cavalos com marca e sem ela, Moreira e sua mulher Ana Joaquina de Jesus vendem em 22/06/1781 ao genro Joaquim José Pereira. Os herdeiros e testamenteiros do último comprador, Paulo José Pereira, José Joaquim Pereira e a irmã Ubelina Pereira, repassam em 02/01/1818 as duas sesmarias com área de 565.140.000 metros quadrados de campos com gados xucros, mangueiras, casas e currais ao comprador e povoador Antônio Manoel Velho.
No município de São José dos Ausentes, Recanto da Serração, estão as mais altas nascentes de águas claras do Estado e aproximados 107 quilômetros de paredão (muralhas) da Serra Geral, os capões que guardam segredos, as araucárias topetudas e a vegetação da quina dos peraus barbados de musgos multicoloridos formam cartões postais. As taipas levantadas pelos antigos sesmeiros das vetustas mangueiras de pedras e divisas de fazendas bordadas com musgos brancos e as tronqueiras e palanques crinudos de musgos amarelo-acinzentados, cernes das mais nobres madeiras da variada vegetação serrana compõem um poema vivo à espera de um recitador."