Wednesday, January 29, 2014

Cachoeira do Sul a Rio Pardo de caiaque - primeiro dia

[Foto da Tiane]

Já fazia algum tempo que Leonardo Maciel compartilhava em nosso grupo de e-mails a vontade de remar no rio Jacuí desde Cachoeira do Sul. Lançada a ideia, combinamos a data e a logística. Participaria conosco o Germano Greis, de Canoas, que no entanto deixou de participar por conta de desconforto nas costas. Formamos então um grupo de apenas dois remadores para essa descida.
Na data combinada, Maciel, Tiane e eu - acompanhados pelo Tombinho - fomos até Rio Pardo, onde Maciel deixou seu carro na guarnição da Brigada Militar; dali para a frente seguimos no carro da Tiane até a saída em Cachoeira do Sul. Chegando ao meio dia, passamos pela Ponte do Fandango e fomos ao centro da cidade almoçar.
Após o almoço encontramos um belo ponto de saída com uma conveniente sombra de árvores e ali arrumamos caiaques e tralhas sob constante vigilância do Tombinho.

[Foto da Tiane]
Sacolas com as tralhas

[Foto da Tiane]
Caiaques e tralhas
[Foto da Tiane]

[Foto da Tiane]
Vigilância do Tombinho

Enquanto arrumávamos as tralhas nos caiaques apareceu um sujeito remando em uma prancha de SUP - Stand Up Paddle. Por muita coincidência, tratava-se do Palito Cruz, um autêntico 'aventureiro das águas' de Cachoeira do Sul que eu já conhecia virtualmente, por ter visto seu vídeo na onda formada algumas vezes quando são abertas as comportas da Barragem do Fandango (sob a ponte de mesmo nome) - para ver, por favor clique no link: http://www.youtube.com/watch?v=n1Zy82ckkWU
Por mais coincidência ainda, no mesmo lugar que escolhemos para começar a remar, Palito tem uma casa onde guarda os apetrechos náuticos. Logo foi ali trocar a prancha pelo superveloz K1 para dar uma remadinha breve conosco.

[Foto da Tiane]

[Foto da Tiane]
Palito Cruz no K1

[Foto da Tiane]
Saindo

[Foto da Tiane]
Tchau!

Despedi-me do Tombinho e da Tiane, que mais uma vez se prestou a ajudar na logística. Obrigado!
Começamos a remada subindo o rio, pois queríamos ver a barragem e a eclusa debaixo da Ponte do Fandango. E ninguém melhor do que o Palito para nos levar! :)
Palito é um exemplo de superação diária proporcionada pela canoagem, que foi o agente transformador de uma grande e salutar mudança em sua vida. Parabéns por servir de exemplo a todos nós, Palito!!!

Barragem, eclusa e a Ponte do Fandango.

Eclusa do Fandango

Segundo o Palito, no local onde hoje existe a barragem, antigamente havia uma cachoeira, um salto no leito do rio, daí originando o nome da cidade, Cachoeira do Sul.

[Fonte: http://historiadecachoeiradosul.blogspot.com.br/2012/09/albino-pohlmann-e-nossa-primeira-lancha.html]
Antiga Cachoeira do Fandango

Para escrever esta postagem, pesquisei um pouco na internet sobre essa obra de transposição do rio Jacuí:
"Recorrendo à coleção do jornal O Comércio, cuja fundação se deu em 1900, é possível perceber o quanto a transposição do rio Jacuí por meio de uma ponte era sonho acalentado por comerciantes, industrialistas e a comunidade em geral. As autoridades municipais, muitas vezes recorrendo às instâncias superiores, muito pleitearam a ponte e projetos para a sua execução chegaram a ser esboçados sem, entretanto, encontrarem utilização.
                A primeira reunião noticiada pelo O Comércio remete ao distante 1912, quando o industrialista Jorge Franke, cujo nome está associado indissoluvelmente ao pioneirismo de Cachoeira na irrigação mecânica das lavouras de arroz, realizou uma reunião em sua residência para tratar da incorporação de uma companhia para levar adiante a ideia de construir uma ponte no Jacuí, próxima da cidade, provavelmente sobre a Cachoeira do Fandango. O projeto abrangia também as construções das pontes sobre os arroios Capané e Irapuá. Esta reunião resultou em outra, dia 17 de março daquele ano, no salão da Intendência Municipal, reunindo comerciantes, industrialistas, fazendeiros e agricultores. Houve a eleição de uma comissão para as ações necessárias para a organização ou contratação da companhia. A comissão era composta por Jorge Franke (presidente), Emilio Barz, Virgilio de Abreu, Aurélio Porto, Carlos Schmidt, Pedro Werlang e Affonso Fonseca.
                Mas as águas do Jacuí rolaram muito até que de fato as tratativas para construção da ponte se concretizassem. Concorreram bastante para este fim os esforços dos prefeitos Liberato Salzano Vieira da Cunha, Virgilino Jayme Zinn e Moacyr Cunha Rösing. Somente em 1944 as demarcações da ponte começaram a ser feitas e, finalmente, em 1951, tiveram de fato início as obras para sua construção.
                A execução da Barragem-Ponte do Fandango foi coordenada pelo Departamento Nacional de Portos, Rios e Canais, sendo projetada pela Societé de Construction des Batinolles, de Paris, e construída pela firma Brasília Obras Públicas, do Rio de Janeiro.  O engenheiro-chefe da obra era o egípcio Mustafa Hussein. Joaquim Vidal e uma desenhista francesa colocaram no papel os projetos do engenheiro egípcio. Por onde andarão tais projetos?
Foi em um domingo que o engenheiro desviou o canal do rio. A cidade correu para assistir à explosão das rochas. Feito isto, teve início a construção, onde foram consumidos 16.000 mde concreto e 170 toneladas de ferro. 15.000 m3 de rocha foram escavados, com um movimento total de 59.000 mde terra. As estruturas metálicas foram fabricadas na Alemanha. Um antigo oficial do exército de Hitler, chamado de alemão Frederico, veio para Cachoeira para temperar o aço. No verão, o número de operários, vindos das mais diversas cidades do Estado, chegava a 500. Boa parte desta gente fez história em Cachoeira, pois moraram aqui por longos anos até que a ponte estivesse concluída e participaram ativamente da vida da sociedade.
Localizada no rio Jacuí, a dois quilômetros da cidade, e construída sobre a Cachoeira do Fandango, como imaginava a comissão constituída em 1912, a Barragem-Ponte do Fandango é uma obra em concreto e aço, sendo a primeira do gênero a ser construída no Brasil. Tornou navegável para embarcações de até 1,80 m de calado o trecho de 63 quilômetros a sua montante. A barragem é móvel, com eclusa conjugada a uma ponte rodoviária metálica, de primeira classe, que serve também de passarela para os guindastes de madeira dos paineis móveis da barragem. Está assentada sobre quatro pilares de concreto, distantes 60 metros entre si. No vão contíguo à margem esquerda, situam-se a eclusa e o passe regulador constituído de alças metálicas do tipo Aubert. No vão junto à margem direita está situado o vertedor fixo, constituído de um muro de concreto armado. Todas as partes móveis da barragem são comandadas hidráulica e eletricamente, sendo os comandos automáticos. A torre de comando, com 15 metros de altura, está situada a jusante, próxima ao pilar da margem esquerda. Os viadutos de concreto armado que dão acesso à ponte, por ambas as cabeceiras, permitem o livre escoamento das águas durante as enchentes.
A ponte tem 180 metros de comprimento e nove de largura, incluindo os passeios. Seu peso atinge 750 toneladas. A eclusa tem 85 metros de comprimento e 15 de largura; as alças do passe regulador, em um número de 23, têm a altura de 3,25 m e 1,50 de largura; as alças do passe navegável, em número de 38, têm 4,75 metros de altura e 1,50 de largura. O volume total de concreto utilizado foi de aproximadamente 16.000 m3.
Na solenidade de inauguração, dia 25 de janeiro de 1961, compareceram o engenheiro Camilo Menezes, Diretor Geral do Departamento Nacional de Portos, Rios e Canais, e Pedro Viriato Paregot de Souza, engenheiro responsável. Paregot de Souza recebeu o título de Cidadão Cachoeirense em 1972. Era, à época, governador do Paraná.
Transcorridos 50 anos do gesto simbólico da abertura oficial da ponte ao trânsito, uma vez que ela já vinha sendo utilizada desde o final da década de 1950, a cidade debate as reais condições de sua estrutura, pondo em suspense a sua capacidade de continuar resistindo ao desgaste do tempo, à manutenção ineficiente e ao excesso de uso.
Mirian R. M. Ritzel,
25/1/2011
Fontes: Banco de dados do Museu Municipal, coleção jornal O Comércio, Enciclopédia dos Municípios Brasileiros, de Jurandyr Pires Ferreira (1959), Ione M. S. Carlos, Lygia Riccardi, funcionária da Brasília Obras Públicas, e Albino Martins, operador de máquinas durante a construção."

Começando a descer o rio

A partir da barragem começamos efetivamente a descer o rio. Palito nos acompanhou até onde havia nos encontrado, despedimo-nos com a intenção de nos encontrarmos em breve para remar; dali para adiante, Maciel e eu estávamos navegando em águas para nós desconhecidas.


Passamos por alguns barcos atracados na margem, por uma interessante barranca de arenito e por um grande porto de concreto.


Barranca de arenito



Porto de concreto

Maciel

O dia estava quente, mas uma brisa suave amenizava o calor e de vez em quando algumas nuvens nos agraciavam com uma bem vinda sombra. Como havíamos iniciado a remada tarde, por volta das duas horas, não estávamos preocupados em percorrer grandes distâncias nesse primeiro dia e remamos em ritmo relaxado, parando de vez em quando.


No mapa que eu havia impresso para a remada - na realidade, imagens de satélite do Google Earth com algumas informações anotadas - e que eu levava sob os elásticos do deck, havia uma praia que parecia interessante, em uma ilha com nome mais interessante ainda: Ilha do Caroço.
Ali seria um pouco cedo para parar e acampar, mas merecia uma visita.

Lá na frente, a Ilha do Caroço.

Desembarcando na Ilha do Caroço

[Por favor clique nas imagens para ampliá-las]
Panorâmica da Ilha do Caroço

O que eu achava que era uma praia de areia, olhando nas imagens, era na realidade uma bela praia de cascalhos - ou, como diria o Trieste, de seixos rolados. Enquanto os caiaques ficaram trancados no raso, fomos dar uma volta pelas redondezas.


[Trajeto e legenda sobre imagem do Google Earth]
Ilha do Caroço e a outra ilha

Um pouco adiante da Ilha do Caroço, encontramos outra ilha, essa com uma bela praia de areia, já ocupada por uma família e sua canoa.



Uma família e sua canoa



Remamos por belos trechos com exuberante mata ciliar - ao menos do ponto de vista de quem está quase ao nível da água, sentado em um caiaque. Mas por outro lado, passamos por muitas - muitas mesmo - árvores quase sendo tragadas pela água, árvores que em muito pouco tempo não passarão de troncos em apodrecimento boiando no rio. E a responsabilidade por isso é da extração de areia para a construção civil que está acabando com as praias do Jacuí.


Maciel e eu combinamos que lá pelas seis da tarde começaríamos a procurar um local para acampamento. Eu estava remando na frente e enxerguei um barranco alto com algumas árvores de pequeno porte em cima e fui conferir o local. Havia um local para aportar junto a uma grande árvore, uma subida íngreme por onde poderíamos passar carregando os caiaques e um belo local para acampamento em cima.

Vendo Maciel chegar ao local de acampamento


Fotografei o Maciel chegando e em pouco tempo chegamos a um acordo - o acampamento seria ali. Retiramos todas as tralhas dos caiaques, usamos as sacolas para transportar tudo para cima e finalmente subimos os caiaques. Escolhemos os locais para as barracas, montamos varais e em pouco tempo estávamos com tudo pronto para a janta.
Na viagem de ida para Cachoeira do Sul eu havia parado para abastecer o carro, aproveitando para colocar gasolina na garrafa do meu fogareiro. Deixei a garrafa debaixo do meu banco, no carro, e acabei esquecendo de levá-la na remada. Maciel ofereceu seu fogareiro a gás, mas aproveitei que tinha tempo e material disponível e fiz uma pequena fogueira para aquecer a água da janta.


Barraca do Maciel

Minha barraca

Vista panorâmica

Aquecendo a água da janta



A janta foi ainda com sol batendo no acampamento. Maciel foi o primeiro a descer para lavar sua louça e disse que encontrou uma cobra na água.


Companhia para lavar a louça

Quando desci para lavar minha louça - particularmente a panela, que ficou preta com a fuligem da fogueira - encontrei a mesma cobra, que chegou bem perto para conferir quem invadia seu quintal.


Pouco a pouco o sol foi baixando no horizonte, o vento sumiu e a água ficou espelhada, refletindo as cores do entardecer e depois o céu estrelado.


Informações disponibilizadas pelo gps:

Distância remada: 29,97 km;
Tempo remado: 3 h 51 min;
Velocidade média: 7,8 km/h;
Velocidade máxima: 12,2 km/h;
Tempo parado: 29 min 2 s;
Velocidade média geral: 6,9 km/h.

 [Trajeto e legendas sobre imagem do Google Earth]
Percurso feito no primeiro dia

[Trajeto e legendas sobre imagem do Google Earth]