Saturday, July 31, 2010

Volta pelo Guaíba


[Trajeto e legendas sobre imagem do Google Earth]
O percurso da remada em um contexto amplo

[Trajeto e legendas sobre imagem do Google Earth]
Percurso da remada

Já fazia algum tempo que eu propusera um trajeto um pouco mais longo pelo rio Guaíba: sairíamos de Ipanema, subindo pela margem até o Gasômetro, atravessaríamos para a ilha Mauá, de lá para a Ilha das Pombas e daí para Guaíba, retornando a Ipanema pela Ilha das Pedras Brancas. Desta vez pensamos em realizá-lo. Tiane, saindo de uma gripe, não remaria. O amigo Padaratz desistira. Germano sugeriu uma pequena alteração: como viria de Canoas, preferia sair da marina pública, evitando o trajeto de carro até Ipanema. Tudo combinado.

Cheguei no horário combinado e topei com um portão fechado. Lá dentro da marina pública, dois seguranças...

Portão fechado na Marina Pública

Um espaço público e gratuito que deixa de existir...

Guardas orientados a não deixar ninguém entrar

Um dos seguranças veio até o portão onde eu estava e informou que tinha ordens para não deixar ninguém entrar ou sair da marina, pois havia uma determinação judicial nesse sentido por causa do projeto de "revitalização do cais do porto". Bem típico dessa nossa terra: primeiro se fecha o que já existe, para depois se pensar (ou não) em uma solução. O que há de concreto é que não existe mais marina pública em Porto Alegre.

Bem em frente, descaso com a iluminação gastando energia em plena luz do dia!

Germano chegando

Quando Germano chegou, conversamos a respeito com outro agora ex-usuário da marina, que trabalha com a restauração de infláveis. Ele esperava o responsável para tratar da retirada do seu material.
Germano e eu decidimos voltar ao plano original, seguindo para Ipanema.

[Trajeto e legendas sobre imagem do Google Earth]
Início da remada, acompanhando a margem.

Início da remada em Ipanema

Começamos a remada com água calma, boa temperatura e uma brisa bem suave do quadrante Norte. Para estragar a paisagem, além do onipresente lixo largado no rio e que acaba se acumulando nas margens, as chaminés poluidoras do município de Guaíba, que dia e noite ininterruptamente lançam poluição no ar.

A longa nuvem de poluição das chaminés de Guaíba

Ponta dos Cachimbos à frente


Seguimos acompanhando a margem do rio, com Germano um pouco mais longe e eu procurando remar sempre próximo da terra para perceber melhor a ocupação - intensa urbanização, aliás - da margem.

Raia 1 Wind & Kite
Para conhecer a Raia 1, por favor acesse http://raia1.com.br/html/modules/news/

Sem comentários...

Em certos lugares as cercas das residências avançam água adentro, inclusive transformando-se em perigo à navegação. Alguns proprietários chegam a colocar placas do tipo "propriedade particular reconhecida pelo governo"...

Ponta dos Cachimbos


Como o nível da água do rio estava acima do normal, passei por lugares onde normalmente há pedras que impossibilitam a navegação, mesmo de caiaque.

Biguás empoleirados nas ruínas de um trapiche. Ao fundo, as chaminés poluidoras de Guaíba e a longa nuvem de poluição.


Pouco antes de chegarmos à ilha que é ocupada pela sede do clube Jangadeiros, passamos pelas ruínas de um trapiche. Cada pilar servia de poleiro para um biguá aproveitando o sol.

Germano remando. Ao fundo, as chaminés poluidoras de Guaíba.

Biguás. Ao fundo, as chaminés poluidoras de Guaíba.

[Imagem capturada de vídeo]
Ponte de acesso à ilha ocupada pelo clube Jangadeiros

[Trajeto sobre imagem do Google Earth]
Ilha ocupada pelo clube Jangadeiros

Chegando à ilha, passamos sob a ponte que dá acesso aos usuários. Não é um local público, é privativo para sócios. O acesso é controlado por guardas em uma guarita na entrada do clube. Como estávamos remando, tivemos oportunidade de ver de perto os belos veleiros atracados na marina. Para saber mais sobre o Jangadeiros, por favor acesse http://www.jangadeiros.com.br/

O belo veleiro Green Nomad

Um dos veleiros que mais me chamaram a atenção foi o Green Nomad. Trata-se de um Kiribati 36 pés que foi completamente construído pelos proprietários Marli e Luis desde 2007, após velejarem pelo mundo de 1997 a 2006 e venderem o primeiro veleiro na Austrália. Para saber mais, por favor veja o interessante site http://greennomadsail.com/

Germano e o veleiro de madeira, do qual gostou muito.

Pequeno farol no Jangadeiros

Após algum tempo admirando os veleiros, era hora de voltar a remar, visto o longo trajeto. Segui próximo à margem, enquanto Germano optou por cortar caminho mais próximo ao centro do rio.

Boias de sinalização do canal de acesso ao clube

Ilha das Pedras Brancas e as chaminés poluidoras de Guaíba ao fundo. A fumaça começava a indicar mudança na direção do vento.


A fumaça expelida pelas chaminés poluidoras de Guaíba começava a indicar uma mudança na direção do vento, que ainda não era percebida na água. Segui rumo ao SAVA - clube náutico originalmente fundado como Sociedade Amigos da Vila Assunção. Para saber mais, por favor acesse o site http://www.savaclube.com.br/

 
[Trajeto sobre imagem do Google Earth]
Sede do SAVA

SAVA


Após a passagem pela Ponta do Dionísio, onde fica a Vila Assunção, já era possível enxergar a Ponta da Cadeia e a chaminé do Gasômetro bem ao longe. A água continuava lisa, sem sinais de presença de vento, apenas com forte correnteza contrária. Divisei ao longe uma figura caminhando sobre as águas. Esfreguei os olhos para ver se desfazia a miragem, mas ela continuou... Seria efeito do sol em excesso, já que eu remava sem chapéu?


Chegando mais perto, suspirei aliviado! Não era uma alucinação, nem Cristo caminhando sobre o lixo acumulado no Guaíba. Era Felipe, praticante de stand up paddle (literalmente, "remada em pé") do SAVA.

Ocupação urbana da orla do rio

Veleiros do Sul

O próximo clube pelo qual passei, também privado, foi o Veleiros do Sul, no lado Norte da Ponta do Dionísio. Quando remava pelos molhes passou um inflável em alta velocidade com várias crianças a bordo (provavelmente da escolinha de vela do clube), o que me deixou um pouco aborrecido com a falta de consideração do condutor, que possivelmente nunca tenha remado - mas que já deve ter ficado aborrecido quando estava velejando e alguma lancha passou a seu lado a toda velocidade... Como a embarcação entrou no clube, achei melhor deixar uma visita para outra oportunidade. Não queria que essa má impressão prejudicasse um belo passeio por entre os veleiros.

[Trajeto sobre imagem do Google Earth]
Sede do Veleiros do Sul
Conheça mais sobre o Veleiros em http://www.vds.com.br/


Bem próximo ao Veleiros do Sul há mais um clube privado, o Iate Clube Guaíba. Havia nas proximidades uma placa solicitando contato prévio via rádio para adentrar pela água no interior da proteção dos molhes, então decidi não me aproximar - afinal, não estava portando rádio para solicitar permissão.

Iate Clube Guaíba

[Trajeto sobre imagem do Google Earth]
Sede do Iate Clube Guaíba

[Trajeto sobre imagem do Google Earth]
Remei acompanhando o contorno da margem


Após a passagem pelo Iate Clube Guaíba continuei próximo à margem, monitorando a remada mais afastada do Germano. Segui para a Ponta do Melo, muito mais conhecida por ter sido a área do Estaleiro Só.

"O Estaleiro Só S/A foi uma empresa construtora de navios brasileira, localizada em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul. A empresa teve seu auge nos anos 70, os melhores anos da indústria náutica brasileira. Porém, com seu declínio, acabou falindo em 1995, após amargar inadimplência de empresas gregas. Suas ruínas se encontram às margens do rio Guaíba, no bairro Cristal. Em agosto de 2009, após se discutir uma revitalização do local, através do projeto "Pontal do Estaleiro", que inclui prédios residenciais e comerciais na área, uma consulta pública foi realizada, e 80,7% dos votos disseram não ao uso residencial do terreno. A consulta mobilizou associações de moradores e ambientalistas, tendo tido muita propaganda na internet."


Ponta do Melo

"Pontal... Progresso ou caos?"

Resquícios do Estaleiro Só


[Trajeto sobre imagem do Google Earth]
Ponta do Melo, onde existia o Estaleiro Só.


Passei pela Ponta do Melo refletindo sobre essas questões de especulação imobiliária, ocupação dos espaços urbanos e arquitetura. Como um mortal comum, provavelmente eu nem faça a menor ideia do que existe por trás dos bastidores dessas questões. O que sei é que prefiro uma margem com areia e cheia de mato nas encostas dos morros - como ainda existe em Itapuã - do que belas obras arquitetônicas como o prédio da Fundação Iberê Camargo [que, aliás, foi construído em terreno doado pelo Governo do Estado do Rio Grande do Sul, conta com estacionamento subterrâneo para 100 carros - localizado sob a via pública, em área cedida em comodato pela Prefeitura Municipal de Porto Alegre - e com 12.000m² de área verde, cedidos formalmente pela Secretaria Municipal do Meio Ambiente à Fundação, que a adotou. Tem patrocínio de Gerdau, Itaú, Camargo Corrêa, Vonpar, de lage landen, IBM, Petropar, apoio do Canal Futura e da Trensurb e financiamento da Lei de Incentivo à Cultura do Ministério da Cultura, do Governo Federal do Brasil, da Lei de Incentivo à Cultura da Secretaria da Cultura do Rio Grande do Sul e da Secretaria da Cultura do Rio Grande do Sul]. Nada contra a arte (apesar de particularmente não apreciar o trabalho de Iberê Camargo - gostos são gostos...), mas torço pela doação de um novo local para a marina pública recém fechada...

Prédio da Fundação Iberê Camargo

Ainda há um pouquinho de verde graças ao parque Marinha do Brasil



Continuei remando próximo à margem, percebendo que Germano seguia ao largo. Nas proximidades do estádio Beira Rio procurei traçar um rumo direto para o Gasômetro, de maneira a evitar um pouco a poluição lançada pelo riacho Ipiranga (popularmente, arroio Dilúvio).

Farolete. Ao fundo, o Gasômetro.

Faroletes do canal de navegação

Navio contornando a Ponta da Cadeia


Biguás em galhos de árvore submersa. Ao fundo, as chaminés poluidoras de Guaíba indicando a mudança no vento.

Essa chaminé ao menos não polui mais!

[Trajeto e legendas sobre imagem do Google Earth]
Proximidades do Gasômetro

Ao chegar na margem em frente ao Gasômetro, desembarquei e puxei o caiaque para o seco. Saquei o monóculo para procurar Germano, mas não consegui encontrá-lo. Tentei telefonar, mas a chamada caía na caixa postal. Enquanto isso, tratei de comer alguma coisa. Distraído por alguns passantes curiosos que faziam perguntas, alguns minutos depois fui surpreendido pelo Germano chegando. Que boa notícia, pois estava ficando preocupado!

Germano chegando no Gasômetro

Tratei de preparar uma comida: montei o fogareiro, fervi água e em pouco tempo comíamos um belo strogonoff com massa. Enquanto isso apareceu um senhor com quem conversamos um bocado. Tratava-se de Alaor Pinto, um senhor com uma cultura náutica invejável e que fazia questão de frisar que aprendera tudo lendo. Houve época em que havia se candidatado para ser faroleiro na Marinha, mas com a substituição dos antigos sistemas pelos faróis automáticos, não havia logrado êxito. Já havia viajado bastante pelo país e mesmo pela América do Sul e agora pretendia retomar as viagens, deixando para o filho o trabalho como restaurador de móveis. Muito obrigado pela companhia, seu Alaor!!!

Conversamos bastante com Alaor Pinto

Depois de uma boa conversa e bastante tempo parados em frente ao Gasômetro, era tempo de voltar para a água. Ainda tínhamos um bom percurso para remar. Conversei com Germano e decidimos modificar o trajeto, voltando pelo centro do rio até a Ilha das Pedras Brancas e de lá até Ipanema. Foi uma boa decisão, se mantivéssemos o plano original teríamos remado no escuro.

Início do retorno

O início do retorno foi com água ainda bastante tranquila, mas com vento já manifestando sinais de mudança. Quanto mais para o Sul remávamos, mais as condições mudavam. Primeiro começou e entrar uma brisa fraca, causando uma ondulação bem pequena.

[Trajeto sobre imagem do Google Earth]
Retornamos pelo meio do rio

[Imagem capturada de vídeo]
Taquareira no meio do rio

[Trajeto e legendas sobre imagem do Google Earth]

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Grande árvore trazida pelas águas

Passamos por uma taquareira encalhada no leito do rio e, mais adiante, por uma grande árvore. Nesse momento já havia ondulação pequena. Vez por outra uma ondinha mais afoita mandava respingos no rosto só para lembrar onde estávamos. Acompanhando o trânsito das embarcações, diminuí um pouquinho o ritmo da remada para aguardar a passagem de uma chata.

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Chata passando pelo canal de navegação

Cruzei o canal de navegação quase perpendicularmente e aproei para a ilha, verificando constantemente a posição do Germano, que vinha mais atrás. As ondas aumentavam pouco a pouco e o vento permanecia fraco e estável do quadrante Sul.

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Rumo à Ilha das Pedras Brancas

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Primeiras ondas aparecendo

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Chegando na Ilha das Pedras Brancas

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Grandes pedras da Ilha das Pedras Brancas - ao fundo, as chaminés poluidoras de Guaíba.

[Imagem capturada de vídeo]

[Imagem capturada de vídeo]

Bem próximo à ilha as grandes pedras bloqueavam a ondulação, transformando completamente a superfície da água. Ao chegar, enquanto aguardava o Germano, fiquei admirando as pedras iluminadas pelo Sol que já se aproximava do horizonte. Germano chegou e sugeriu tomarmos um café. Aproveitei a parada para desembarcar e filmar rapidamente.

[Trajeto sobre imagem do Google Earth]
Percurso e aterragem na Ilha das Pedras Brancas

[Imagem capturada de vídeo]

[Imagem capturada de vídeo]

[Imagem capturada de vídeo]

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[Imagem capturada de vídeo]

Permanecemos aproximadamente meia hora no abrigo proporcionado pela ilha, tomamos café com leite e seguimos a remada. Nos primeiros metros tudo estava tranquilo, mas ao dobrarmos a extremidade da ilha as ondas vieram nos cumprimentar. E estavam bem maiores!

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[Imagem capturada de vídeo]
Rumo direto para Ipanema

Germano havia saído um pouco antes e, para enfrentar melhor as ondas, havia seguido por um rumo mais ao Sul. Eu optara pelo rumo direto para Ipanema, seguindo pelo caminho mais curto mas mais incômodo, pos as ondas atingiam o caiaque mais pelo través do que pela proa.

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Ondas!

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Retorno da Ilha das Pedras Brancas a Ipanema

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Entardecer

Foi uma belíssima remada de retorno, com direito a ver o Sol se pondo sobre o Guaíba. À medida que me aproximava de Ipanema a ondulação foi diminuindo e o céu ficando mais e mais colorido. O frio também chegava para ficar, mas remando eu me sentia aquecido.

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Olhando para o Sul - ao fundo à esquerda, Morro da Ponta Grossa.

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[Imagem capturada de vídeo]
Luzes de Ipanema

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[Imagem capturada de vídeo]

Chegamos em Ipanema já enxergando as luzes acesas sobre o calçadão. Germano vinha mais atrás, também em segurança. Foi um dia muito bem aproveitado através de uma bela remada!

Fim de remada

Germano chegando. Ao fundo, as chaminés poluidoras de Guaíba contribuindo dia e noite para deixar nosso mundo pior.


Informações do gps:

Distância percorrida: 32,64 km;
Tempo de remada: 5 h 18 min;
Velocidade média remada: 6,1 km/h;
Velocidade máxima: 10,5 km/h;
Tempo parado: 2 h 32 min;
Velocidade média total: 4,2 km/h.