Tuesday, April 30, 2013

Remada na Ilha de Santa Catarina - parte 1


A Ilha de Santa Catarina - onde está situada Florianópolis, capital do Estado de Santa Catarina - tem praias e recantos muito bonitos, a despeito da verdadeira 'invasão' que ocorreu nos últimos anos; muitas pessoas para lá migraram em busca do sonho de viver na Ilha da Magia.
Sendo uma ilha, também alimenta os sonhos dos remadores: que tal uma tentativa de circunavegação?
Foi sonhando com essa ideia que começamos a sondar possiveis interessados, que no final das contas foram Trieste e Maria Helena, de Porto Alegre, Álvaro, de Brusque, Márcio, de Osório, e Tiane e eu.

[Legenda sobre imagem do Google Earth]

A organização ficou dividida entre Trieste e Álvaro, que acabou por não participar. A ideia geral seria sair do Sul da ilha e seguir para o Norte primeiramente pela região mais abrigada, ou seja, entre a ilha e o continente. Nessa parte Maria Helena e Tiane remariam. Chegando no Norte, em Ponta das Canas, elas passariam a nos encontrar nos pontos de parada, pois a partir dali remaríamos em condições que poderiam ficar mais adversas, levando em consideração a exposição da costa ao mar aberto. Todo o trajeto seria feito em sete dias. Essa era a ideia...

[Roteiros diários sobre imagem do Google Earth]

Trieste e Maria Helena já estavam em Florianópolis quando Tiane e eu saímos rumo ao estado vizinho; Marcio nos encontraria somente no quarto dia de remada. Saímos de Porto Alegre e passamos em Rondinha, onde deixaríamos o Tombinho aos cuidados "do vô e da vó".

 [Fotos da Tiane]
Coitado do Tombinho, ficou com aquela expressão
"Ei, não estão me esquecendo? Olha eu aqui!"

De Rondinha seguimos pela BR 101 até Florianópolis sabendo no caminho que o carro da Maria Helena e do Trieste estava com problemas, portanto mudaríamos nosso ponto de encontro.

[Foto da Tiane]
Bem vindos à Ilha da Magia!...

Na concepção original, Trieste e Maria Helena deixariam seu caiaque duplo e as tralhas de remada e acampamento no ponto de saída, no Sul da ilha, e nós nos encontraríamos então em Ponta das Canas, onde ficaria o carro deles. No dia seguinte, o da partida, iríamos todos para o Sul da ilha e a Spacefox ficaria lá. Assim as mulheres já teriam o carro à sua espera quando terminassem a remada delas em Ponta das Canas.
Com o problema no carro, no entanto, esses planos tiveram que ser modificados e ficamos com um clima de grande incerteza no ar. Entre idas e vindas ao mecânico, no final do dia conseguimos levar os três caiaques (o duplo, o da Tiane e o meu) de Spacefox até o Sul da ilha e o carro do Trieste acabou rodando, entre trancos e barrancos, até Ponta das Canas.

No dia marcado, rodamos até o local de saída, conhecido por Costeira do Ribeirão. Dia espetacular, com tempo bom, sem vento e com águas calmas. Arrumamos os caiaques e tralhas na beira de uma bela praia.

 Arrumando as tralhas

Prontos para remar!

Primeiras remadas

As primeiras remadas foram em águas bem calmas, sem vento, prenunciando um dia quente. Para os lados da serra, algumas poucas nuvens. Ao longo do dia provavelmente essa nebulosidade iria aumentar muito e a possibilidade de chuva no final do dia não podia ser descartada. Nos últimos dias esse havia sido o padrão de comportamento do tempo localmente.

Um dia espetacular

O primeiro acidente geográfico que ultrapassamos foi a ponta Caiacanguçu, logo no início da remada. A partir dessa ponta, fomos pouco a pouco nos distanciando da costa, seguindo em direção a Ribeirão da Ilha.
Remando para o Norte, olhando para a esquerda, ao longe, era possível observar a grandiosa Serra do Tabuleiro; para a direita, as grandes elevações da Ilha de Santa Catarina; para a frente, bem ao longe, a região de Estreito, estrangulamento do mar entre as baías Sul, onde estávamos, e Norte, onde remaríamos no dia seguinte. Entre as duas baías, as pontes, só visíveis pelo potente zoom da máquina fotográfica.

 Olhando para a frente...
 ...bem ao longe...
...nosso destino do dia.

O calor aumentava gradualmente, bem como minha vontade de testar o meu rolamento. As condições estavam ótimas, com água calma e relativamente limpa e a companhia da Tiane e dos amigos para auxiliar em um eventual reembarque caso eu não conseguisse completar a manobra. Respirei fundo, e me joguei, rolando com facilidade...

 
 
 
 
 
Rolamento para refrescar!


Chegando em Ribeirão da Ilha, desembarcamos na praia bem ao lado do restaurante Ostradamus, com suas paredes majestosamente pintadas com motivos náuticos e marinhos. O casario colorido também é digno de nota e essa região será merecedora de uma visita posteriormente. Quem sabe, de bicicleta?

 Ribeirão da Ilha

Casario colorido

 Uma linda pintura






Depois dessa bela parada, continuamos a remada. Passamos ao largo da Baía do Ribeirão em direção à ilha Maria Francisca, deixando-a pela direita. Logo em seguida chegamos à pequena e bela Ilha das Laranjeiras, onde ficamos algum tempo apreciando a água e as pedras. Enquanto Maria Helena, Trieste e Tiane seguiam para nossa próxima parada - uma bela sombra na Ilha de Santa Catarina -, decidi dar a volta na ilha.

 Ponta Norte da ilha Maria Francisca

 Ilha das Laranjeiras

 Volta na Ilha das Laranjeiras

É bonito esse remo!!!

Paramos em uma bela sombra na praia nas proximidades da Ponta das Laranjeiras e fizemos um lanche. As nuvens começavam a se acumular na serra, ao longe, seguindo o padrão de comportamento do tempo. Pela frente ainda teríamos a região de mangues nas proximidades do aeroporto e a travessia do Saco dos Limões antes de adentrarmos a região do Estreito. Tínhamos bastante tempo para uma remada tranquila.


 Uma bela rocha erodida na ponta Caiacangamirim


Após a Ponta das Laranjeiras, passamos pelas belas pedras da ponta Caiacangamirim e pela região de domínio da Aeronáutica, nas proximidades do aeroporto. Ali não esperávamos encontrar nada mais do que uma região lodosa de mangue, mas estávamos enganados...




Em meio ao manguezal nos deparamos com uma bela praia. Ao longe, a brancura parecia originária da areia, mas ao nos aproximarmos percebemos que era devida ao grande ajuntamento de conchas. Claro que precisamos parar para tomar um banho naquelas maravilhosas águas transparentes!

 Praia no mangue



 Conchas!


Praia de mangue nas proximidades do aeroporto

 Que banho bom!

Durante essa parada para o banho - muito bem vindo para mitigar o calor! - comentei acerca das nuvens, agora formando camadas compactas na serra. Não tínhamos pressa, mas era bom ficar de olho!
Acerca de pressa, tenho acompanhado relatos de travessias na internet. A mim alguns chamam a atenção, porque geralmente os trajetos são meras etapas a cumprir, parecendo que é mais importante a distância percorrida do que a interação com o ambiente. Parece que remar entre A e B em um tempo X é o que mais tem valor. Mas será que o relevante foi somente água que passou pela quilha ou foi realmente a beleza do lugar, suas peculiaridades, seus encantos, suas dificuldades, seus ocupantes, que deixaram marcas indeléveis no navegante que por ali passou? Todo o trajeto que fizemos em quase três dias de remada recentemente foi percorrido por um remador em apenas algumas horas. São propostas completamente diferentes, é claro, mais ou menos como percorrer um trajeto de automóvel ou percorrê-lo de bicicleta. De automóvel é rápido, fácil, confortável. Mas os cheiros, as cores, os detalhes do caminho perdem-se na velocidade do deslocamento.

Nossa frota

Depois do belo banho, passamos pela Ponta do Capim, que marca o início do Saco dos Limões. Poderíamos costear por todo esse trajeto, mas optamos por seguir em direção ao iate clube, na ponta José Mendes. A opção por costear pareceu-nos menos atrativa, pois passaríamos ao lado da movimentada rodovia que ali acompanha a margem. Eventualmente uma exploração do rio Tavares poderia ser interessante, mas deixamo-la para uma próxima oportunidade.

 Atravessando o Saco dos Limões

 Rumo à ponta José Mendes

A ideia inicial era aterrarmos nas proximidades da ponta José Mendes, mas ao nos aproximarmos de uma ilha, decidimos seguir para lá, encontrando um local para aportar em meio às pedras. Era a Ilha das Vinhas, onde não encontramos nenhuma parreira, mas ruínas.
Desembarcamos, observamos as pedras - e uma delas parecia, segundo o Trieste, uma cebola descascada - e caminhamos pela pequena ilha, "descobrindo" uma ruína interessante. Não a ruína em si, mas a interação da ruína com a vegetação.
Da ilha também foi possível visualizar a ponte Hercílio Luz, cartão postal e nosso objetivo para o primeiro dia de remada.

Aterragem na Ilha das Vinhas


 "Parece uma cebola descascada..."

 Ruínas


Bloco da parede suspenso pela árvore



Prontos para zarpar

Terminada essa pequena incursão, retornamos aos caiaques. Ajudei a Tiane a embarcar entre as pedras e segui para o rumo oposto, com a intenção de passar por entre belas rochas e contornar parcialmente a ilha.

 Volta na Ilha das Vinhas




  
Quando terminei a volta, demorando-me para observar as pedras, quase não enxergava mais meus companheiros à frente. Seguiam já além do iate clube, rumo às pontes.
Durante a parada algum vento já havia aparecido e a água começava a se agitar. Quanto mais perto do estreito, mais agitação.


 Passagem agitada pelo estreito


As águas das grandes baías Norte e Sul, sob influência da variação de maré e dos ventos, precisam percorrer um estrangulamento entre a ilha e o continente, o lugar conhecido por Estreito. Ali a água pode ficar um pouco mexida, dependendo da interação entre as diferentes forças. Quando passamos, o mar estava relativamente mexido, mas nada que causasse preocupação.




Logo após a ponte Hercílio Luz remamos em frente ao Forte de Sant'Ana do Estreito e, logo adiante, aportamos na guarnição do Corpo de Bombeiros.


"O Forte de Sant'Ana do Estreito, ou simplesmente Forte de Santana, localiza-se na cidade de Florianópolis, estado de Santa Catarina, no Brasil.
Em posição dominante na altura do estreito entre a Ilha de Santa Catarina e o continente, destinava-se à defesa do antigo ancoradouro de Vila Nossa Senhora do Desterro (hoje cidade de Florianópolis)."


Nos Bombeiros Trieste tratou de se apresentar. Estávamos ansiosos para saber como seríamos recebidos, pois em princípio o amigo Álvaro havia contactado a corporação por intermédio de um parente, mas não sabíamos se o contato fora frutífero. Fomos muito bem recebidos, o local nos foi mostrado, foi possível acampar e inclusive utilizar as instalações; é necessário registrar o agradecimento ao Álvaro e aos próprios bombeiros da guarnição: muito obrigado!

 Montando acampamento

 Nosso acampamento

 Acampamento

Montamos acampamento e Tiane e eu fomos a pé ao centro para comprarmos um cabo de conexão para carregar as baterias da filmadora, já que eu estava levando o computador portátil e tínhamos acesso à energia elétrica. Como estava muito quente, foi urgente nos hidratarmos...

 Cervejinha no Mercado Público

À noite fomos todos à cata de sorvetes e encontramos uma pequena e deliciosa sorveteria. O melhor sorvete que já experimentei! Espetáculo!!!

Sorvete!!!

Assim terminou o primeiro dia de remada. O amontoado de nuvens na serra resultou em raios, relâmpagos e chuvas, mas bem ao longe. Nenhum pingo em nosso acampamento. Após um belo dia remando entre amigos, fomos dormir ao lado das luzes do cartão postal.

Ponte Hercílio Luz, cartão postal de Florianópolis.

Informações disponibilizadas pelo gps:

Distância remada no dia: 23,77 km;
Tempo remado: 4 h 8 min;
Velocidade média: 5,7 km/h;
Velocidade máxima: 9,6 km/h;
Tempo parado: 2 h;
Velocidade média geral: 3,9 km/h.

 [Trajeto e legendas sobre imagem do Google Earth]

[Trajeto e legendas sobre imagem do Google Earth]