Quando estava mais ou menos no meio da subida, acompanhando a equipe Atac Guenoa Orion Design, de Caxias do Sul, subitamente senti que não chegava mais água pela mangueira do cantil flexível que levava na mochila (popularmente conhecido por Camelback). Rapidamente retirei a mochila, para procurar algum ponto onde algo estivesse pressionando ou obstruindo a mangueira e fiquei pasmo quando vi que a água havia acabado! Em pouco tempo de prova, havia consumido dois litros e meio!!! O jeito foi continuar sem água pirambeira acima naquela escalaminhada que parecia não ter fim... Parecia, mas teve, justamente ao lado da rampa de decolagem de vôo livre. Logo adiante estava o PC04/AT03, onde começaria o trajeto em mountain bike. Que felicidade: além de parar de caminhar, passando a pedalar, ainda por cima seria para baixo!!! A felicidade não durou muito, mas ao menos eu tinha água nas duas caramanholas que levava na bicicleta. Antes de chegar à Linha Pirajá era preciso pedalar forte para subir uma lomba íngreme. Depois de passar pela localidade, era preciso encontrar uma estradinha que rapidamente ia se deteriorando até se transformar em trilha com várias bifurcações e, mais adiante, encontrei o próximo ponto de controle (PC05). Dali em diante o mapa indicava uma grande descida, o que significaria mais alegria!!! Que engano, novamente! A descida era tão íngreme e a trilha tão ruim - alternando passagens por dentro de mato com muitos cotovelos e cipós prendendo o guidom com trechos erosionados formando grandes valetões - que era preciso descer segurando a bicicleta e se equilibrando para não rolar morro abaixo! No final da trilha até foi possível pedalar novamente, chegando ao arroio Paixão, onde encontrei estrada de chão novamente. Naquele ponto era possível optar entre dois caminhos: o mais curto, à esquerda, subia; o mais longo, à direita, descia. Como estava me sentindo cansado, optei pelo caminho mais longo, descendo, para poder parar na Sociedade Arroio Paixão e me abastecer com água. Ali aprendi uma das lições da prova: por mais improvável que pareça, leve sempre dinheiro em uma corrida de aventura!!! Os refrigerantes estavam ali, geladinhos, cheios de energia que entraria diretamente na corrente sanguínea, mas eram como uma miragem para mim...
Tratei de pôr o pé na estrada para continuar descendo até encontrar novamente o vale do rio Caí e logo em seguida começar a subir pelo arroio Temerária rumo ao PC06. A subida se mostrou extremamente desgastante para mim, logo eu estava empurrando a bicicleta e ao mesmo tempo me apoiando nela. Quando faltavam pouco mais de dois quilômetros para o PC06 sucumbi à exaustão e me atirei na valeta ao lado da estrada. Pensei em comer algo, mas estava tão enfraquecido que me apoiei na mochila e acabei dormindo (ou desmaiando, não sei...). Fiquei ali imóvel por mais de uma hora, até aparecer uma equipe - casualmente a mesma Famastil Adventure que eu havia passado no rio Caí. Eles também pararam para descansar e comer alguma coisa. Enquanto isso, o tempo corria...
...e, com ele, as equipes de ponta se aproximavam cada vez mais da chegada. Alheio à competição, lembrei-me apenas que havia um horário de corte no PC06. Após esse horário as equipes que passassem por lá deveriam se dirigir diretamente para a linha de chegada. Foi nesse momento que optei por não concluir o que havia me proposto (meu objetivo era concluir a prova), seguindo tranquilamente para o ponto de controle. Nesse ponto fui registrado às 13 h 13 min. Estava, portanto, oficialmente fora da prova. Naquele PC deveria haver distribuição de frutas e água. Das frutas nem sinal, já haviam sido distribuídas. A água havia acabado e a solução foi apanhar água num riacho próximo, de modo que a organização tinha somente água turva a oferecer. Não sei se foi pela amizade ou por pena, acabei recebendo uma água limpa e geladinha que o pessoal que cuidava do PC havia levado para consumo próprio e, em vez das frutas, prepararam algumas chuletas em uma chapa! Obrigado, pessoal, estava uma delícia!!!
Depois de tanta mordomia, acabei recebendo uma carona de camionete juntamente com a Famastil Adventure até a chegada na Praça das Flores, centro de Nova Petrópolis, onde várias equipes descansavam e outras chegavam (havia também a categoria Adventure, mais curta, e os iniciantes). Foi um grande momento de descontração e de confraternização entre os participantes e também hora de saber as últimas notícias da prova, como um resgate de helicóptero e um tombaço de bicicleta de um integrante da K'Lango, de Nova Petrópolis logo no início da descida do Ninho das Águias, assim como o desempenho impressionante do vencedor geral da prova, Marcelo Santos. Apesar de não atingir o meu objetivo, que era conseguir completar o percurso, valeu a pena a participação, pois foi um impulso necessário para retomar as atividades físicas de maneira frequente. Já comecei a treinar para a prova do ano que vem!!!
Não é fácil organizar um evento desse porte e pequenas falhas sempre aparecerão e podem ser corrigidas na próxima edição; felizmente a segurança sempre esteve acima da competitividade e o trajeto demonstrou quão variável pode ser o terreno de Nova Petrópolis, o que certamente torna a cidade uma excelente opção de local para atividades de aventura na natureza! Parabéns aos organizadores, especialmente ao Sammy Ueno!
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