Thursday, December 01, 2011

De caiaque do rio Cardoso a Maquiné - primeiro dia

Tudo começou com uma solicitação do Fabiano aos amigos que remam: queria comemorar a passagem dos 41 anos refazendo a remada de Imbé a Dunas Altas em dois dias, mas dessa vez passando por margens diferentes nas lagoas. A Remada 4.1 foi programada, mas houve um problema logístico; na data marcada, não poderíamos contar com auxílio de motorista para deslocamento tão longo no final da jornada (um domingo). Poderíamos simplesmente abortar a remada, mas amigos já haviam agendado a data, adiado compromissos e conseguido o "alvará de soltura" de suas respectivas caras-metades, de modo que trajetos alternativos surgiram; enviei por e-mail a seguinte sugestão:

"Olá,
segue roteiro que fiz para termos como opção à Remada 4.1 no próximo final de semana.
Primeiro dia: a saída seria no rio perto de Três Cachoeiras (rio Cardoso), em uma ponte da estradinha que liga Três Cachoeiras a Lajeadinho. Dali desceríamos 6,5 km de rio até a Itapeva, seguindo pela margem até uma prainha de pedras muito bonita (km 8). Continuando mais ou menos pela margem e cortando um pouco as entradas, seguiríamos até o rio Três Forquilhas, onde entraríamos para fazer uma parada debaixo das frondosas figueiras. Baita lugar para um almoço e parada mais demorada, pois até ali seriam 24 km percorridos. Em vez de voltar pelo rio e depois ter que desviar por uma grande ponta de juncos, faríamos uma portagem (para acrescentar emoção ao dia) carregando os caiaques pelo potreiro por pouco mais de 100 metros. Dependendo das condições, poderíamos seguir dali mais ou menos em linha reta até o local de acampamento, na extremidade Sul da Itapeva, com 31 km percorridos.
Segundo dia: depois de poucos metros estaríamos na Barra do Quirino, entrando no Canal dos Cornélios. Mais ou menos 11,5 km depois da saída passaríamos por Cornélios, entrando na Lagoa dos Quadros. Dali (dependendo das condições) poderíamos fazer uma travessia de mais ou menos 8 km até a Ilha do Benjamim (km 19,7), parando por ali ou na encosta do morro para almoço (lanche). Costeando o morro chegaríamos na balsa (km 25) e logo em seguida no Recanto Maquiné, totalizando 27 km de remada.
Seria um belo trajeto, não?
Buenas, fica a sugestão.
Abraço,
Leonardo.
Seguem os anexos:
 [Trajetos sobre imagem do Google Earth]
Sugestão: percursos para o primeiro e o segundo dias.

 [Trajeto sobre imagem do Google Earth]
Sugestão: percurso para o primeiro dia.

 [Trajeto sobre imagem do Google Earth]
Sugestão: saída e rio Cardoso.

 [Trajeto sobre imagem do Google Earth]
Sugestão: rio Três Forquilhas, parada para almoço e portagem.

 [Trajeto sobre imagem do Google Earth]
Sugestão: percurso para o segundo dia.

 [Trajeto sobre imagem do Google Earth]
Sugestão: percurso no rio Cornélios.

 [Trajeto sobre imagem do Google Earth]
Sugestão: travessia da Lagoa dos Quadros.

 [Trajeto sobre imagem do Google Earth]
Sugestão: percurso da ilha ao Recanto Maquiné.
......................................................................................."
Como segunda sugestão, surgiu a ideia do Germano de remar na Lagoa do Casamento, com percurso que provavelmente contemplaria a Ilha Grande, mas que não ficou muito claro no seu e-mail. Provavelmente a saída e a chegada seriam em Palmares do Sul, mas o roteiro carecia de mais detalhes.
Depois de inúmeros e-mails trocados, de desistências e de reavaliações, algumas farpas, finalmente decidiu-se pela aceitação da minha sugestão. Confirmaram presença oito remadores: Fabiano, Germano, Márcio, Fernando Bueno, Cristian, Egon (meu pai), Tiane e eu. Combinamos encontro na BR 101, no acesso para Cantagalo (Maquiné), para de lá seguirmos juntos ao local de saída, evitando assim que alguém se equivocasse e tivéssemos problemas de localização da ponte onde pretendíamos sair (ponte da estrada entre Três Cachoeiras e o distrito de Lajeadinho).
Na véspera da Remada Tiane e eu, passando pela margem Sul da lagoa Itapeva, resolvemos verificar um possível local para acampamento, pois toda a região é de propriedade particular e tem muitas chácaras e sítios, dificultando um acampamento selvagem. Encontramos um camping sendo preparado para o Verão. Não estava oficialmente aberto, mas obtivemos permissão para acampar na área no dia seguinte e utilizar os banheiros. Essa informação foi passada pela Tiane via telefone para o Germano, que a repassou por e-mail aos participantes. Embora nem todos manifestassem concordância pelo fato de acamparmos em um camping, Tiane e eu ficamos mais tranquilos em relação ao pernoite, pois já houve ocasião em que fomos recebidos por pessoas armadas impedindo o acesso à margem para acampamento com a justificativa de que se tratava de propriedade privada.
A lagoa Itapeva estava bastante revolta devido ao forte vento Nordeste, o que causou bastante inquietação na Tiane. Inquietação essa que também transmitiu ao meu pai mais tarde, quando estivemos em Rondinha. Ambos não tinham certeza de que realmente remariam; esperariam para ver as condições de vento e água na hora da remada.

[Fotografia de Tiane]

No dia e horário combinados encontramo-nos na BR 101 no acesso para Cantagalo. O meu pai, a Tiane e eu estávamos a bordo da Parati (levando os três caiaques), Germano pilotava o seu carro levando Fernando Bueno de carona, Márcio estava levando o amigo Black para auxiliar no retorno dos carros e Fabiano dava carona para o Cristian. Acertamos que o carro com o Black e o Márcio seguiria na frente, pois o Black é um profundo conhecedor de cada recanto da região, por conta do seu trabalho. Atrás seguiram, na ordem, o carro do Fabiano, a Parati e o carro do Germano. Seguimos para o Norte via BR 101 e em Três Cachoeiras sairíamos da rodovia para tomar a estrada secundária. Dirigíamos mantendo contato visual. Durante o deslocamento, por algum motivo, o carro do Fabiano tomou a dianteira e aumentou a velocidade, induzindo o carro com Márcio e Black a também aumentar a velocidade; o contato visual foi quebrado e da Parati só enxergávamos o carro do Germano, que vinha atrás. Chegando em Três Cachoeiras, por pouco perdemos o acesso, pois quando vimos os carros do Fabiano e do Márcio estacionados já na via marginal já estávamos em cima da saída, o que obrigou uma manobra brusca para saírmos da BR 101. Germano, que vinha logo atrás, passou reto e não conseguiu sair da pista. Estacionei a Parati, e esperamos para ver se o Germano retornava. Fabiano (levando Cristian) decidiu seguir adiante para encontrar Germano enquanto Márcio, Black, Egon, Tiane e eu esperávamos. O tempo foi passando e, na falta de notícias, conseguiu-se contato por celular; ficamos sabendo que Germano (levando Fernando Bueno) e Fabiano (levando Cristian) já estavam quase chegando à ponte onde planejávamos começar a remada; sem mais perda de tempo, tratamos de nos deslocar até lá. Chegamos à ponte e percebemos que Germano e Fabiano já seguiam adiante, em uma estradinha que margeava o rio Cardoso, procurando local propício para acessar a água. Germano seguia na frente quando Fabiano subitamente parou e ele e Cristian começaram a soltar os caiaques. Germano continuou até uma propriedade mais adiante onde pediu permissão para acessar o rio, desta forma seria fácil chegar com carros, caiaques e tralhas até bem perto da água. Fabiano já havia soltado os caiaques do carro e obstruía a estrada, de modo que precisamos esperar até que prendesse novamente os barcos e seguisse ao encontro do Germano. Definido o local para saída, tratamos de preparar o equipamento para a remada.

[Fotografia de Tiane]

Como precisávamos levar os carros de volta para Maquiné, retornamos, cada um em um carro: Fabiano, Germano, Black e eu. Em Maquiné três carros ficaram e nós quatro mais uma vez fomos (com minha Parati) para o local da saída, onde os demais já estavam aguardando com alguma ansiedade. Antes de sair distribuímos quatro rádios, dois do Márcio (para Márcio e Fernando) e dois meus (para Tiane e eu). Finalmente começamos a remar.


O dia estava magnífico, com sol, céu azul e praticamente sem vento. Remamos  em ritmo lento pelas águas calmas do rio Cardoso, serpenteando pela planície litorânea em direção à lagoa, ora ladeados por árvores, ora pelo campo com algumas vacas pastando. De vez em quando passávamos por alguma ave pernalta.








Lentamente chegamos à ponte da BR 101. Logo adiante encontraríamos a lagoa Itapeva.







Na lagoa Itapeva fomos recepcionados por uma leve brisa vinda do Nordeste, plenamente favorável ao nosso curso, tendo em vista que dobramos à direita para acompanhar a margem. Icei a vela para aproveitar a aragem e praticar com o caiaque carregado. Tiane pôde ficar mais tranquila, pois constatou que as ondas vistas na lagoa na véspera haviam desaparecido. A partir da entrada na lagoa tínhamos um rumo bem definido, marcado pelo morro entre a lagoa e a cidade de Três Cachoeiras. Ao pé desse morro haveria uma parada na pequena praia de seixos polidos pela água.







[Trajeto e legendas sobre imagem do Google Earth]
Percurso da saída no rio Cardoso até a prainha na lagoa Itapeva

Na prainha aproveitamos para admirar as frondosas figueiras que resistem ao tempo e principalmente à ação do homem, alguns aproveitaram para fazer um lanche, jogar pedrinha na água e todos ficaram deslumbrados com os mais diferentes formatos das pedrinhas que forravam o chão. Houve até alguém que encontrou uma com formato perfeito de um Toblerone!!! A parada serviu também para reagrupar a turma, que nesse pequeno trajeto já havia se dispersado bastante.
Nossa próxima parada seria na margem do rio Três Forquilhas, para almoçarmos na sombra de belas figueiras. Para chegar lá precisaríamos contornar algumas pontas de junco e encontrar a saída do rio (não muito óbvia) na lagoa.







Para encontrar a entrada do rio segui um pouco à frente e fui me guiando pela topografia; sabia que precisava me aproximar do pé do morro onde existem duas antenas, pois o rio Três Forquilhas desce pelo vale entre os morros (Serra do Pinto, onde passa a Rota do Sol) e quando chega nas proximidades da lagoa Itapeva segue quase paralelamente à margem. O mapa pré-instalado no gps não ajudou muito:



















Fomos entrando naturalmente na foz do Três Forquilhas, o que foi muito bom. Poderíamos ter que procurar em meio ao emaranhado de juncos por onde é difícil visualizar a passagem, mas tivemos um pouco de sorte na navegação intuitiva. Dentro do rio remamos praticamente todos juntos. Quando faltava pouco para chegarmos ao ponto de parada para almoço eu me adiantei um pouco, com o objetivo de conseguir fotografar os amigos chegando.


[Trajeto e legendas sobre imagem do Google Earth]
Percurso da prainha na lagoa Itapeva à parada no rio Três Forquilhas




















A sombra das figueiras foi muito bem aproveitada e cada um achou um canto para se acomodar para o almoço. Tiane tinha providenciado na véspera aqueles deliciosos pasteis que ela faz, de modo que saciar a anaconda foi fácil. Germano dividiu um delicioso café com leite - obrigado, Germano! - e preparou a sua tradicional massinha, sempre muito apreciada por todos.















Depois de devorar uns pasteis resolvi subir em uma figueira inclinada para enxergar um pouco melhor os arredores, especialmente o trecho onde segundo a sugestão inicial faríamos a portagem - evitando assim ter de remar por todo o trajeto no rio até voltar à lagoa.




















Enquanto alguns ainda terminavam o almoço começamos a conversar sobre a opção de portagem. A distância até a água da lagoa não parecia muito grande, algo em torno de cem metros ou um pouco mais. Germano e Fabiano se manifestaram dizendo que não pretendiam arrastar os caiaques com tanto peso e preferiam remar e  Cristian e Fernando estavam com vontade de encarar o desafio; havia um certo clima de indecisão no ar. Resolvi caminhar até a água para verificar o terreno e fui seguido pelo pai, que também demonstrou interesse na questão. O restante do grupo preferiu ficar na sombra das árvores.
Antes de chegarmos à beira da água (uns quinze ou vinte metros) o terreno deixava de ser firme e seco, começando a ficar alagadiço e instável. Caminhei alguns metros mais na direção da água afundando os tornozelos no barro e logo concluí que transportar os caiaques carregados por ali não valeria a pena, mesmo que fossem somente arrastados pelo capim.


 Seguindo em direção à água, percebe-se a mancha de vegetação mais escura onde o solo estava alagadiço e instável.









Retornando ao local de almoço, manifestei a minha opinião de que não valeria a pena fazer a portagem e Germano comentou que havia visto no Google Earth um lugar onde existiria um canal de acesso entre o rio e a lagoa. Lembrei a todos que o ponto onde pretendiamos acampar ficava na margem Sul da lagoa Itapeva e como referência seria possível enxergar um catamarã vermelho que estaria um pouco antes do local para camping. Recolocamos as tralhas nos caiaques e o pai, que estava pronto antes, saiu primeiro, dizendo que remaria de olho na margem, para tentar encontrar o tal canal. Quando recomecei a remar todos já estavam a caminho e o pai já sumia de vista, bem à frente. Alcancei o Fernando e a Tiane e começamos a nos distanciar dos demais, que pareciam estar procurando uma passagem para a lagoa. Mantivemos contatos esporádicos com o Márcio, através do rádio, mas o sinal ficava cada vez mais fraco. Pelo que era possível compreender, todos continuavam remando, embora alguns parassem para verificar a margem à procura do canal referido pelo Germano.







Quando estávamos quase na foz do rio enxergamos Egon, que estava parado e sinalizando a posição com o remo na vertical. Fernando e Tiane chegaram até ele primeiro, enquanto eu fotografava alguns colhereiros na margem. A partir desse momento perdemos contato pelo rádio com Márcio, que continuava procurando um lugar para atravessar.
Fernando, Egon, Tiane e eu chegamos à lagoa e dobramos à direita, seguindo na direção de uma abertura na ponta de juncos que se estendia mais para o Sul, aproximadamente no rumo do ponto onde pretendíamos acampar.
Seguimos remando para o Sul e olhando para trás e para o lado, mas sem enxergar mais ninguém e nem conseguir contato via rádio. Em alguns momentos conseguíamos ouvir uma resposta entrecortada do Márcio e chegamos à conclusão de que ele e Fabiano haviam atravessado por terra arrastando os caiaques pela lama, já seguiam para a margem Sul mas não tinham notícias do Germano e do Cristian.


[Trajetos e legendas sobre imagem do Google Earth]
Nosso percurso do almoço no rio Três Forquilhas ao camping; em amarelo, o percurso estimado feito por Germano e Cristian.
Passamos pela abertura na ponta de juncos e continuamos remando em direção à margem da lagoa, que ainda estava muito distante para enxergarmos onde estaria o camping, de modo que prosseguimos aproximadamente na direção em que pensávamos estar o ponto correto para aportarmos. Aos poucos o contorno da costa foi ficando mais nítido, mas nada de enxergarmos o catamarã vermelho. Tiane remava mais pela direita, em direção a uma casa da qual gosta muito; o pai e Fernando remavam pelo meio e eu ia mais pela esquerda; somente bem próximos da margem é que foi possível ver o barco vermelho e um senhor que parecia esperar pelo pai e pelo Fernando. Chegando mais perto vi que o tal senhor era o Germano, que em vez de estar desaparecido na lagoa, como imaginávamos pela falta de contato, já nos esperava!!! Ficamos sabendo que ele e Cristian haviam transportado os caiaques por terra (!) para atalhar enquanto remávamos no rio Três Forquilhas, por isso já haviam chegado à margem. Já haviam conversado com o proprietário do local e acertado que acamparíamos naquele local - apesar de não ter sido o local que Tiane e eu havíamos reservado na véspera e que ficava logo ao lado.
Estávamos - Germano, Cristian, Fernando, Egon, Tiane e eu - olhando para a lagoa e não avistávamos nem sinal dos amigos que se separaram, Fabiano e Márcio. Transportamos os caiaques, retiramos as tralhas e já nos preparávamos para montar acampamento quando começaram a aparecer dois pontos ao longe, um vermelho e um azul - eram as velas do Fabiano e do Márcio. Quando chegaram já estávamos terminando a montagem das barracas.




Ficamos sabendo que Fabiano e Márcio passaram bastante trabalho para conseguirem transpor a margem do rio Três Forquilhas; precisaram arrastar os caiaques no meio do lodo e no final das contas não tiveram nenhuma vantagem no uso desse atalho para chegarem às águas da lagoa.
Alguns estavam mais cansados pela jornada, outros menos, mas logo o acampamento tomou sua forma definitiva, escolheu-se uma área para local de refeição coletiva e cada um tratou de se preparar para a janta e para passar a noite.
A janta foi uma mistura de cardápios diversos e várias coisas foram compartilhadas; tomamos vinho que eu havia levado para comemorarmos o aniversário do Fabiano e pouco a pouco todos foram se recolhendo para descansar.

Informações disponibilizadas pelo gps:

Distância remada: 34,42 km;
Tempo remado: 5 h 47 min;
Velocidade média: 6,0 km/h;
Velocidade máxima: 11,3 km/h;
Tempo parado: 2 h 17 min;
Velocidade média geral: 4,3 km/h.

1 comment:

Fabiano Krauze said...

Show de bola essa postagem, adorei a foto da Tiane, aquela dos carros parados na beira da estrada com os caiaques em cima!