Na primeira remada com Trieste Ricci para a Ilha dos Lobos, em Torres - RS, o amigo Marcio Pereira não estava presente. Tratamos então de marcar uma nova data. No dia seguinte à "
Remada frustrada, mas nem tanto!", encontramo-nos em Torres.
Marcio foi o primeiro a chegar ao ponto de encontro, no Morro do Farol, onde observamos as condições do mar.
Vista do Morro do Farol para a Praia da Cal
É lá a Ilha dos Lobos!
"No Brasil os Pinípedes estão protegidos por lei, e não podem ser perseguidos, capturados, pescados ou caçados em águas sob jurisdição nacional, de acordo com a Portaria SUDENE N-011/1986 e a Lei 9605/1998 (LODI e BARRETO, 1998). Ao longo da costa brasileira existem apenas dois pontos de parada regulares de pinípedes: o Refúgio da Vida Silvestre (REVIS) da Ilha dos Lobos, em Torres, e o Refúgio da Vida Silvestre (REVIS) do Molhe Leste, em São José do Norte, ambos no Rio Grande do Sul (NEMA, 2005). A Ilha dos Lobos apresenta uma ocorrência de pinípedes durante todo o período do ano, sendo o leão-marinho-do-sul, Otaria flavescens, a espécie mais abundante, estando presente todo o ano. Já o lobo-marinho-do-sul, Arcocephalus australis, ocorre entre os meses de maio a novembro, apresentando a segunda maior abundância (NEMA, 2005).
Originalmente criada como Reserva Ecológica (RESEC), com a aprovação do Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC), em 2000, esta unidade foi alterada para Refúgio de Vida Silvestre (REVIS). E junto com essa recategorização veio a necessidade da elaboração de um Plano de Manejo.
Esta nova categoria, que tem como objetivo a conservação ambiental com uma maior integração da comunidade e os demais atores envolvidos, podendo ser desenvolvidas diversas atividades, mas que devem estar presentes no Plano de Manejo da UC. Destas, as duas atividades que se destacam e mais pressionam para estarem presentes são o Tow-in (ou Surfe de Reboque) e o Turismo de Observação Embarcado. O tow-in deve início na Ilha dos Lobos em de 2003, e após uma determinação do Ministério Público o IBAMA proibiu provisoriamente esta atividade na unidade.
Apesar dos poucos registros no local de ondas adequadas para esta atividade, ela já é considerada a maior onda do país e uma das melhores do mundo, o que trousse uma grande visibilidade para Torres. Já o Turismo de Observação vem sendo explorado no REVIS da Ilha dos Lobos, desde 1987, com duas empresas atuando nesse setor, que realizam até quatro passeios diários."
O texto acima é parte do interessante artigo científico "Análise do impacto causado pelo tow-in (surfe de reboque) e pelo turismo de observação embarcado sobre os pinípedes do Revis da Ilha dos Lobos, Torres - RS" de autoria de Furtado, J.A.M.F.; Barreto, A.S. e Silva, K.G. que pode ser acessado aqui:
http://www.alicmar.org/congresos/documentos/decimoSegundo/docs/4001799.pdf
Trieste telefonou avisando que chegaria mais tarde, então Marcio e eu decidimos que iríamos logo para a água e quando Trieste chegasse remaríamos novamente. Eu estava com dois caiaques, o Weir Markopolo de fibra de vidro "Lagarantíasoyyo" e o "Black Jack", qajaq tradicional groenlandês skin-on-frame feito de madeira e tecido. Optei por remar primeiro com o Black Jack. Marcio estava com seu caiaque Sioux de fibra de vidro. Nós dois remamos com remos groenlandeses NLP - Northern Lights Paddles de fibra de carbono.
Obrigado, Tiane!
Tiane me ajudou a estabilizar o caiaque enquanto eu me ajeitava. Em seguida começava a negociação para passar a arrebentação. Com um pouco de calma, escolhendo o momento de mais calmaria entre as séries, não foi difícil.
Passando a arrebentação
Marcio com o Morro do Farol ao fundo
Nas fotos acima e abaixo, a mudança na cor da água.
Após passar a arrebentação a água estava turva, por causa da movimentação de areia causada pelas ondas. À medida em que avançávamos em direção à ilha, a cor da água foi se modificando e remávamos em um belo mar esverdeado!
Ilha dos Lobos
Sem contratempos, chegamos à Ilha dos Lobos e ficamos alguns minutos observando os lobos e leões-marinhos. Não nos aproximamos muito, para garantir que não perturbaríamos a tranquilidade dos animais. Uma aproximação maior também exigiria cautela, pois as águas estão coalhadas de rochas submersas.
Seguimos para a direita, iniciando a circunavegação no sentido anti-horário. Um pouco adiante encontramos o amigo Fernando, de Torres, pescando tranquilamente instalado no seu caiaque sit-on-top.
Encontro com Fernando
Conversamos um pouco e seguimos adiante. Para nossa surpresa e alegria, alguns pinípedes (não soube se eram lobos ou leões-marinhos) passaram nadando por perto, levantando a cabeça, curiosos.
Pinípedes
Boomer
Retornando
Terminando de contornar a ilha, iniciamos o retorno para a Praia da Cal.
Praia da Cal na proa
Quando estávamos quase chegando novamente na arrebentação, Marcio decidiu tentar um rolamento. Por pouco não conseguiu, mas teve que executar uma saída molhada. Aproveitamos para treinar a reentrada assistida, que foi executada rapidamente e sem problemas.
Retirando a água após reentrada assistida
Naquele momento não percebemos, mas possivelmente durante a reentrada Marcio deve ter deslocado a tampa do compartimento traseiro do seu caiaque, começou a entrar água e o caiaque foi ficando instável. Provavelmente isso deve ter ocorrido, pois quando nos aproximávamos da arrebentação, ele capotou. Eu já estava na zona de surfe, negociando a saída.
Instante em que Marcio capotava
Com o caiaque bastante inundado, foi difícil para Marcio manter o contato com o barco. A primeira onda levantou o caiaque e jogou com força para baixo, sem possibilidade de controle:
Acima, sequência da onda que atingiu o caiaque do Marcio.
Assim que cheguei na praia, deixei o Black Jack na areia e procurei ir em auxílio do Marcio, pois um caiaque descontrolado e extremamente pesado por causa da água pode causar ferimentos sérios em banhistas, especialmente em crianças curiosas que querem se aproximar do barco. Felizmente Marcio já tinha recuperado o contato com o caiaque e controlava a situação. A brincadeira rendeu algumas trincas no casco e decretou o final da remada para o Marcio.
Trieste já havia chegado e observava o ocorrido. Depois de conversarmos e tomarmos alguns chimarrões, fomos para a água. Trieste remaria no caiaque da Tiane, o "Clandestino" (Weir Markopolo) - 'irmão' do "Lagarantíasoyyo" que eu usaria, testando a haste para fixar a filmadora.
Pronto para a segunda volta
Desta vez foi Marcio quem ajudou a estabilizar o caiaque na saída.
Valeu, Marcio!
Mais uma vez processou-se a negociação com as ondas, esperando o momento de passar pela série. Tomamos algumas espumas de ondas pequenas na cara, esperamos acalmar... e dê-lhe remo!!!
Passamos...
Olha a onda!!!
Passando a arrebentação - tudo tranquilo!
Rumo à ilha
Trieste estava ainda um pouco inseguro com o caiaque diferente, mas aproveitava a ocasião para familiarizar-se com o caiaque que usará na parte mais exposta da tentativa de circunavegação da Ilha de Santa Catarina. Fez bem! Pouco a pouco, foi conseguindo aliviar a tensão, embora eu percebesse que ele não remava relaxado.
As condições do mar haviam mudado um pouco, com uma pequena ondulação superficial provocada pelo vento. O deslocamento foi tranquilo, sem incidentes.
Chegando na ilha, diminuímos o ritmo para a passagem de um barco com turistas. Ele cruzou por nossa proa e seguiu em direção ao rio Mampituba.
Turismo de observação embarcado
Ilha dos Lobos
Ficamos algum tempo observando os pinípedes, que pareciam estar bem tranquilos. Trieste me perguntou para que lado seguiríamos e então sugeri que fôssemos para a esquerda, contornando dessa vez a ilha em sentido horário.
Para que lado vamos?
A ondulação já estava um pouco maior do que na primeira volta e o amigo Fernando já não estava mais pescando por lá. Enquanto eu me aproximava um pouco mais da ilha, admirando as ondas, Trieste tratava de seguir em frente e acabou se distanciando. Quando terminei de dar a volta na ilha ele já estava rumando na direção da praia.
Mais uma vez me aproximei da ilha na parte mais abrigada, com um olho nos lobos-marinhos e outro no meu companheiro de jornada, que se afastava rapidamente na direção da costa.
Para manter o contato visual, eu precisava dar meia volta e acelerar a cadência no retorno. Trieste seguia em frente e aparentemente não olhava para trás, devia estar tenso com a remada.
Felizmente tudo correu bem e ele chegou à praia, capotou e manteve o controle do caiaque em meio aos banhistas.
Retornando
Logo chegava a minha vez de tomar um banho! Estava negociando o retorno para a praia em meio à arrebentação e, procurando seguir "nas costas" de uma onda, acabei ficando perto demais... caldo na certa!!! :)
Acima, sequência da capotagem e tentativa de rolamento.
Depois de capotar ainda tentei rolar, mas não consegui. Em meio a toda a confusão, a haste da filmadora se manteve firme no lugar e passou no teste!!!
Sequência da capotagem vista da praia
Nadando... :)
O dia foi bem aproveitado! Remamos bastante, contornamos a Ilha dos Lobos pela primeira vez (para nós três), superando o desafio do desconhecido, levamos caldos das ondas e aprendemos um pouco mais. Sobretudo, curtimos a canoagem oceânica na companhia de amigos!
Tiane ajudou bastante, também se divertiu e tomou conta do Tombinho, que se revela parceiro para todas as horas!
Meus pais também apareceram. Depois da remada, fomos todos almoçar e confraternizar. Que beleza!!!
[Trajetos e legendas sobre imagem do Google Earth]
[Trajetos e legendas sobre imagem do Google Earth]
Em vermelho, o percurso realizado com Marcio (volta na ilha no sentido anti-horário) e em verde o percurso realizado com Trieste (volta na ilha no sentido horário).
[Trajetos sobre imagem do Google Earth]