Primeiro dia: Canela, São Francisco de Paula e proximidades de Tainhas.
Saída de Canela
Desde a pedalada pela Costa Verde (litoral Norte de São Paulo e Sul do Rio de Janeiro) em 2009 - por favor clique nesse link para visualizar a primeira postagem da Costa Verde - estava sem pedalar com o amigo Clayton. Como ele passou a residir em Canela, programamos um pedal saindo daquela cidade. Tiane não poderia participar de toda a pedalada e nos encontraria mais adiante, no terceiro dia.
Em frente à catedral de pedra de Canela
O dia estava excelente para pedalar, com sol e algumas nuvens bem brancas no céu azul. A temperatura estava muito agradável. Saímos de Canela e começamos a subir e descer coxilhas, terreno característico dos Campos de Cima da Serra. Fizemos uma pequena parada em um dos locais onde há uma bela vista da paisagem, nas proximidades da praça de pedágio. Felizmente não precisamos pagar por estarmos pedalando!
Parada nas proximidades do posto de pedágio para admirar a paisagem e algumas pequenas flores
Após a parada continuamos pedalando pelas coxilhas, subindo e descendo rumo a São Francisco de Paula, onde pretendíamos parar para almoçar e visitar rapidamente o tio do Clayton.
Acesso para São Francisco de Paula
Homenagem ao chimarrão na avenida principal do centro de São Francisco de Paula
Em São Chico, como é apelidada a cidade, paramos para algumas fotografias e para o almoço em um buffet. Um primo do Clayton nos encontrou enquanto estávamos sentados almoçando e cobrou uma visita. Clayton argumentou que estávamos almoçando no restaurante porque não havíamos avisado antes que estaríamos na cidade e combinamos que depois da refeição passaríamos para dizer olá ao tio. Foi o que fizemos, passando pelo belo lago São Bernardo, cartão postal da cidade.
Hotel Cavalinho Branco, às margens do lago São Bernardo.
Depois da parada, voltamos a pedalar. Deixamos o centro da cidade e seguimos em direção a Tainhas.
Meninada curiosa ao ver as bicicletas carregadas na saída de São Francisco de Paula
Subindo e descendo coxilhas
Encontrei uma perdiz (ou codorna) cambaleante na estrada, que Clayton tratou de colocar em local abrigado bem longe da rodovia
Excelente dia para pedalar!
Os dias já não estavam mais tão longos quanto os do Verão. Com o entardecer, tratamos de começar a procurar local para acampamento. Enxergamos um pequeno lago nas proximidades da estrada, o que proporcionaria água (que seria devidamente filtrada) para prepararmos a refeição. Precisamos descer uma encosta e empurrar as bicicletas pela vegetação e atravessamos um pequeno córrego (originado pelo lago) até encontrarmos um local para montar o acampamento. Cada um escolheu uma área plana e tratou de montar sua barraca.
Procurando local para montar as barracas
Empurramos as bicicletas pela vegetação e atravessamos um córrego
Acampamento montado. Hora de jantar!
Com o cair da noite chegaram alguns mosquitos. Tratei de apanhar água, utilizando um filtro portátil para tratá-la antes do consumo. Preparamos comida liofilizada e jantamos sob o céu estrelado. Ficamos conversando enquanto ouvíamos o som grave de sapos e agudo de pererecas. Um bando de aves chegou no lago, provavelmente para passar a noite. Fomos dormir, nem imaginando a tempestade que se aproximava...
Informações do ciclocomputador:
distância pedalada no dia: 72,01 km;
tempo de pedalada no dia: 4 h 1 min 46 s;
velocidade média no dia: 17,8 km/h;
velocidade máxima no dia: 51,9 km/h.
Segundo dia: acampamento nas proximidades de Tainhas, Estrada do Crespo, Serra do Faxinal e Praia Grande.
Acordei à noite com o barulho dos trovões anunciando um forte temporal. Chuva intensa e vento fustigaram a serra por tempo considerável, que custou a passar dentro da barraca. Com a chegada do amanhecer chegou a melhora do tempo.
"- Tudo bem por aí?" - perguntei ao Clayton, na barraca ao lado.
"- Tudo, mas aqui está molhado e tive que segurar a barraca durante o temporal!".
Assim começou o segundo dia de nossa pedalada em direção à Serra do Faxinal e morros do litoral.
Antes de tomar café e desmontar o acampamento tratei de registrar algumas imagens do local onde pernoitamos.
Após um breve café, tratei de desmontar a barraca e guardar minhas coisas, o que fiz com mais rapidez do que o Clayton. Isso permitiu que eu levasse a minha bicicleta até a estrada e pudesse ajudá-lo a guardar suas coisas, aproveitando para fotografar como foi a trabalheira para sair do acampamento, atravessar o riacho (de onde retiramos água para beber) e retornar à estrada, alguns metros e várias moitas de capim acima.
Prontos para o segundo dia de pedal
Alguns poucos quilômetros depois, encontramos um trecho que bem representa a realidade das estradas estaduais do Rio Grande do Sul. O trânsito pesado de caminhões de transporte de madeira (oriunda das extensas plantações de pínus que deformam a paisagem outrora chamada de Campos de Cima da Serra), aliado à completa falta de planejamento e manutenção, deterioraram a rodovia de tal forma que os buracos do asfalto foram se unindo até passarem de exceção para regra. A estrada voltou a ser chão batido esburacado. Em vez de reforma, ganhou uma placa: "Fim do asfalto". Eu acrescentaria: mais do que o fim do asfalto, o fim da vergonha na cara, o "fim da picada"...
[Fotografia do Clayton]
[Fotografia do Clayton]
Café Tainhas
Mais alguns poucos quilômetros e chegamos a Tainhas, onde paramos no restaurante de mesmo nome. Aproveitamos a comodidade para um bom café com leite com torradas. A partir dali seguiríamos por um pequeno trecho da Rota do Sol em direção ao Leste até o acesso para Cambará do Sul, onde pedalaríamos na direção geral Norte.
Plantações nos outrora Campos de Cima da Serra
Uma das maiores subidas do dia
[Fotografia do Clayton]
Por volta do meio dia chegamos ao restaurante e lancheria no início da Estrada do Crespo, aproveitando para almoçarmos. A partir dali começaria o trecho de estrada sem pavimentação.
Início da estrada de chão
Isso é cicloturismo!
Observação sobre a legenda da fotografia acima: para mim, a essência do cicloturismo é viajar autonomamente utilizando prioritariamente a bicicleta como meio de transporte. Os passeios guiados em que o participante somente pedala enquanto todo o seu material é transportado por um carro de apoio (e, ao meu ver, erroneamente denominados de "expedição" - palavra que parece estar na moda atualmente) ou a viagem de um ciclista "montado em uma bicicleta e num cartão de crédito" com certeza podem ser considerados por muitas pessoas como cicloturismo - e respeito quem pense assim -, mas com certeza não estão no meu rol de preferências.
[Fotografia do Clayton]
Ao longe, a cidade de Cambará do Sul (acima e abaixo).
Na Estrada do Crespo passamos por um prédio identificado como Posto de Controle e Informação pertencente à administração dos parque Aparados da Serra e Serra Geral. Nenhum controle e tampouco informação, já que estava fechado...
Acima e abaixo, entroncamento entre a Estrada do Crespo e a estrada de ligação entre Cambará do Sul (RS) e Praia Grande (SC), descendo a Serra do Faxinal.
Acesso ao Parque Nacional Aparados da Serra, onde situa-se o canyon Itaimbezinho.
Bem em frente ao acesso (pago e restrito a dias determinados e em trilhas previamente demarcadas) para o Parque Nacional Aparados da Serra encontramos uma placa (acima) a respeito do Parque Nacional da Serra Geral, dizendo:
"1 - Fica restrito à visitação pública apenas as trilhas da borda sul do canyon Fortaleza.
2 - Fica proibido a prática de camping, permanência noturna e uso de fogueiras nas áreas do parque.
3 - Horário de visitação: 8:00 às 18:00 horas de 2ª aos Domingos."
Um pouco adiante dessa placa acima, no acesso para a mesma área, lê-se, em outra placa (abaixo):
"Agro Latina Ltda - Propriedade Particular - Entrada Proibida".
Para acessar e permanecer na região dos belíssimos canyons Malacara e Churriado, portanto, pode-se escolher entre violar regras estúpidas atribuídas a um Parque Nacional ou invadir propriedade particular onde se pratica a monocultura do pínus dentro de um Parque Nacional...
Aproximando-nos da borda da serra, pudemos ver o nevoeiro - ou "viração", como conhecido na região - elevando-se ao lado dos penhascos de pedra.
Ao longe, o oceano.
Saída do canyon Malacara
Montagem com sobreposição de fotografias
[por favor clique na imagem para ampliá-la]
No início da descida da Serra do Faxinal tivemos uma bela visão dos arredores. À nossa esquerda (e ao Norte, portanto) víamos os penhascos das proximidades do canyon Malacara, enquanto à nossa direita (ao Sul) podíamos ver a saída do canyon Faxinal com o rio Mampituba no fundo e a bela região dos morros do litoral que percorreríamos no dia seguinte.
Morros do litoral
Montagem com sobreposição de fotografias
[por favor clique na imagem para ampliá-la]
Bem ao longe, Torres.
Descida da Serra do Faxinal
A bela descida da Serra do Faxinal, de aproximadamente 15 quilômetros de extensão, foi no entardecer. Chegamos em Praia Grande - que não tem praia e não é grande... - com os últimos raios de sol tingindo as nuvens mais altas. Quando nos alojamos em um pequeno hotel já conhecido em outras viagens já estava escuro.
Informações do ciclocomputador:
distância pedalada no dia: 66,85 km;
tempo de pedalada no dia: 4 h 22 min 51 s;
velocidade média no dia: 15,2 km/h;
velocidade máxima no dia: 55,3 km/h;
distância acumulada: 138,86 km.
Terceiro dia: Praia Grande, Mampituba, Costão, Morrinhos do Sul, Lajeadinho, Poço das Andorinhas.
Depois de uma bela noite de descanso, bem vinda após o temporal da véspera, tomamos café e arrumamos as tralhas nas bicicletas.
O dia estava nublado, com nuvens prenunciando chuva para o decorrer do período. Chegando ao rio Mampituba, divisa entre Santa Catarina e o Rio Grande do Sul, percebemos que a ponte baixa havia sido destruída pela força das águas. Atravessamos pela ponte pênsil (pinguela).
[Fotografia do Clayton]
[Fotografia do Clayton]
De volta ao Rio Grande do Sul, seguimos por uma simpática estrada de chão batido que seguia em meio a arrozais em direção aos morros, deixando Praia Grande para trás.
Percebe-se que em pouco tempo essa estrada será asfaltada, pois está sendo preparada para receber o pavimento. Na fotografia acima, marcações ao lado da estrada. Abaixo, uma cena insólita:
Clayton, dentro de uma nuvem...
...de poeira!
Passamos pela localidade de Costão
Rio Mengue
Costeando os morros pela estrada nova
Em Morrinhos do Sul paramos para almoçar em um buffet. O descanso foi na praça em frente, onde encontramos um Louva-a-Deus dividindo a sombra conosco. Ficamos algum tempo observando e fotografando essa admirável e inofensiva criatura que muitas vezes é incompreendida pela ignorância das pessoas. Muito já ouvi falarem que esse pequeno animalzinho é "terrivelmente venenoso"...
Após a breve pausa, continuamos a pedalar. Logo logo teríamos companhia, pois a Tiane viria para se juntar ao grupo. Por telefone avisamos que dali a poucos minutos estaríamos passando por Lajeadinho, uma localidade próxima a Três Cachoeiras, seguindo pela estrada de chão batido em direção ao Poço das Andorinhas.
Quando paramos para aproveitar a refrescância das águas límpidas do Rio do Terra sentimos os primeiros pingos da chuva que se avizinhava. Pouco adiante a Tiane nos encontrou, trazida pelo seu pai.
Tratamos de montar a bicicleta e colocar os alforjes. Em poucos minutos estava tudo pronto. Agradecemos e despedimo-nos, pedalando rumo ao Sul por entre os morros.
Atravessamos o rio e pouco depois começou a chover.
Chegamos ao Poço das Andorinhas com chuva e no final da tarde
Escolhemos um lugar para o acampamento e fomos ver o poço
Poço das Andorinhas
Banho gelado!
A chuva continuou, fraquinha, durante o jantar e noite adentro.
Informações do ciclocomputador:
distância pedalada no dia: 53,17 km;
tempo de pedalada no dia: 3 h 35 min 59 s;
velocidade média no dia: 14,7 km/h;
velocidade máxima no dia: 44,0 km/h;
distância acumulada: 192,03 km.
Quarto dia: Poço das Andorinhas, Poço dos Morcegos, travessia do morro, Itati, Rota do Sol, Estrada do Mar e Rondinha - tudo debaixo de chuva!!!
Acampamento no Poço das Andorinhas
O dia amanheceu sem novidades, com chuvisqueiro fraco. Preparamos o café da manhã olhando para os morros que nos cercavam, tentando imaginar por onde seguiria o caminho para Itati onde passaríamos mais tarde.
Poço das Andorinhas
Fomos novamente olhar o Poço das Andorinhas e caminhamos até o Poço dos Morcegos. A chuva estava fraca, de modo que levamos as máquinas fotográficas.
Poço dos Morcegos
[Fotografia da Tiane]
O toldo amarelo levado pelo Clayton nos foi muito útil, tanto para uso como área comunitária para refeição quanto para desmontarmos acampamento, deixando os equipamentos para organizá-los nos alforjes.
Tudo pronto para pedalar.
Inicialmente pedalamos pela mesma estrada de acesso ao Poço das Andorinhas, passando por algumas residências de madeira. Ali, no meio dos morros do litoral, não há congestionamentos no trânsito, buzinas de veículos, fumaça, preocupação com muros, cercas e grades por causa de assaltos. Não há shopping com roupas da moda nem fast food e a vida segue um ritmo tranquilo e muito mais lento.
É tranquila a vida no meio dos morros do litoral
Deixando a estrada, seguimos por um caminho que começava a subir um dos morros. Eu tinha ideia aproximada do caminho após ter conversado com o amigo Hélton, adepto do cicloturismo (por favor veja postagem sobre descida do curso superior do Rio dos Sinos aqui ), mas certifiquei-me perguntando a uma moradora se estávamos seguindo pelo caminho certo.
A estrada foi ficando cada vez menor e mais íngreme. Ao tentar desviar, caí da bicicleta ao cruzar por uma carroça carregada com bananas. Estava com sapatilhas de encaixe que, com a terra molhada, trancavam mais do que o normal.
Chuva aumentando!
[Foto de Tiane]
A Tiane, cansada, nem percebeu a beleza ao redor...
Entrando no nevoeiro
Quase chegando no topo do morro...
Clayton esperava tremendo de frio no topo do morro. Como havia subido mais rápido, ficara esperando e já pensava em deixar algum sinal no chão indicando que havia iniciado a descida.
Nem sempre a descida é mais fácil do que a subida...!
De volta ao plano
Ao chegarmos no outro lado do morro, pedalamos pela estrada que liga Itati à cascata Pedras Brancas. O plano original seria acamparmos nas proximidades da cascata, mas a chuva nos fez mudar de ideia. Seguimos rumo à Rota do Sol, parando debaixo de um telhado na frente de um salão paroquial. Desmontei os alforjes, preparamos comida quente e aproveitei uma torneira para limpar a bicicleta, retirando grande quantidade de barro.
Durante a parada conversamos a respeito dos planos e ficou decidido que em vez de subirmos a Serra do Pinto pela Rota do Sol seguiríamos para o lado contrário, rumo à Estrada do Mar, terminando a pedalada em Rondinha.
Pedalando pela Rota do Sol
Nas proximidades do acesso principal para Itati observei que meu ciclocomputador não funcionava. Excesso de umidade...
[Foto de Tiane]
Parei no viaduto sobre a BR 101 para tentar solucionar o problema do ciclocomputador
[Foto de Tiane]
Pouco depois de passar pelo acesso a Itati verifiquei que o ciclocomputador não estava mais funcionando. Fazia muito tempo que não tinha esse tipo de problema, mesmo pedalando debaixo de chuva. Dessa vez, porém, foi diferente. Por mais que eu tentasse secar os contatos ou modificar a posição do sensor, nada adiantou. Alguns dias depois, voltou a funcionar. De qualquer forma, fica o registro das informações do ciclocomputador em Itati:
distância pedalada no dia: 32,99 km;
tempo de pedalada no dia: 2 h 42 min 37 s;
velocidade média no dia: 12,1 km/h;
velocidade máxima no dia: 38,1 km/h;
distância acumulada: 225,02 km.
Pedalamos noite adentro pela Estrada do Mar debaixo de chuva. Em Rondinha foi muito gratificante poder tomar banho quente de chuveiro!!!
Para registro, ficam as informações do ciclocomputador do Clayton, que funcionou até o fim. Ele manteve os dados desde o início da pedalada:
distância pedalada: 254,3 km;
tempo de pedalada: 17 h 23 min 17 s;velocidade média: 14,6 km/h;
velocidade máxima: 57,6 km/h.
A distância pedalada no dia foi calculada como sendo em torno de 62 km.