Tuesday, September 08, 2009

Expedição Caa-y - segundo dia (27/08/09) - Feliz a Pareci Novo

Quinta-feira, 27 de agosto de 2009. Mais um dia excelente!!!
Alguns dias antes eu havia recebido um telefonema de Ademir, de São Sebastião do Caí, perguntando acerca de matéria em jornal que havia sido publicada sobre a descida de caiaque. Ele demonstrara grande interesse e inclusive havia combinado um encontro em Feliz para remar comigo até São Sebastião do Caí e ficar hospedado em sua casa. Uma das preocupações que eu tinha seria evitar um novo acampamento na cidade, de maneira que fiquei muito feliz com o convite e com a companhia para remar. Mas, no dia combinado, nem notícias do Ademir!!!

Fiquei pensando acerca do ocorrido, concluindo que poderia ser um contratempo de última hora ou algo do gênero, mas até a data de digitação do texto dessa postagem não tive mais notícias do Ademir.... Alguns amigos me disseram que é assim mesmo: muitos falam, poucos fazem...

Não quero tirar conclusões negativas acerca do ocorrido, então renovo o convite para o Ademir e para os demais amigos que quiserem remar ou participar de alguma atividade em contato com a natureza. Não se acomodem na frente da televisão, saiam para viver a vida!!!

Retornei a Feliz contando com a ajuda do pai, a bordo da inestimável Variant 75 vermelha, exatamente ao mesmo lugar onde havia chegado na véspera. Nesse dia eu remaria sozinho.
Iniciei a remada pouco depois das nove horas da manhã, com tranquilidade. Enquanto a água passava debaixo do casco do caiaque eu refletia sobre essa estrada viva por onde estava passando. Em muitas ocasiões eu havia observado grandes canos sugando a água do rio para irrigar plantações nas margens. O problema mais grave nem seria a captação da água, mas o retorno dessa água carregada de defensivos agrícolas e resíduos químicos provenientes da adubação artificial, afetando toda a imensa teia de vida dependente diretamente daquela água. Pensei não somente naquele rio, que antigamente havia sido nomeado Caa-y - Rio da Mata - pelos índios, mas em todos os milhares de rios que sofrem com o mesmo problema, conduzindo não somente lixo, mas poluição invisível para seus estuários e, finalmente, para o oceano... Quanto tempo levará para que se perceba que o oceano é grande, mas não infinito? Que uma vez comprometido, alterará processos que nem começaram a ser compreendidos pelo homem? A "modernidade" tem o seu preço e a velocidade das transformações cobra juros sobre juros...
Apenas meia hora depois de iniciar a jornada encontrei um local que merecia uma pausa. Uma praia de cascalhos em frente a um belo paredão rochoso convidava para parar e registrar a paisagem.



Retornei ao rio para encontrar mais um belo lugar aproximadamente meia hora depois. Bem diferente da praia de seixos rolados, a margem apresentava uma série de degraus esculpidos na rocha.
As corredeiras haviam diminuído sensivelmente se comparadas com as do dia anterior, o que significava uma diminuição na declividade do terreno que eu estava percorrendo. Percebi também que a velocidade da correnteza diminuíra. Passei lentamente por um local onde registrei o descaso da população ribeirinha com relação às margens do rio. Em área completamente desmatada, havia construções para abrigo de animais. Na primeira cheia do rio essas margens seriam erodidas pela água, uma vez que não havia a sustentação da camada superficial do solo proporcionada pela trama das raízes das grandes árvores. O solo erodido ficaria acumulado ao longo do leito do rio, diminuindo a sua profundidade. A água em excesso, não tendo onde permanecer, invadiria áreas muito além do curso natural do rio, possivelmente causando enchentes em áreas cultiváveis e invadindo casas, provocando grande número de desabrigados. Quando a falta de educação (ambiental e geral) será vista como a prioridade em nosso país? Quantos desabrigados e quantas mortes serão atribuídos à "fatalidade" ou aos "desastres naturais"???
Passei por apenas uma corredeira com águas bastante turbulentas, onde o caiaque afundava e a água chegava a bater em meu peito nas ondas maiores. Nada além de um pouco de adrenalina e água gelada para afugentar o calor!
Pouco depois das onze horas eu passava sob a ponte rodoviária entre São Sebastião do Caí e Bom Princípio.
Logo depois da ponte encontrei um belo local para parar, com um paredão de arenito debruçado sobre o rio. No paredão andorinhas faziam ninhos em buracos e saíam voando e cantando. Ao lado do arenito havia uma pequena praia de seixos onde encostei o caiaque.
Pausa para o almoço
Após o almoço passei por algumas árvores frondosas, imaginando como deveria ser o rio originalmente chamado Caa-y...
À tarde encontrei mais um belo paredão de arenito, reconhecendo o local por onde havia passado pouco menos de um ano e meio antes. O nível da água estava realmente mais alto, pois lembro que na ocasião eu havia desembarcado para evitar um trecho potencialmente problemático onde a água passava debaixo de árvores, espremida contra o paredão.
Lembrei-me dos amigos de caiaque de Porto Alegre (por favor veja o link "EXA", ao lado), que naquele dia deveriam estar confraternizando com uma linguiça assada e, quanto obtive sinal no telefone celular, mandei mensagem "diretamente da superfície das águas do rio Caí". Mais tarde fiquei sabendo do cancelamento do almoço - mas valeu a intenção!
Mais um belo dia para remar!
Pelo jeito, esse parecia mesmo ser o dia dos paredões! Por volta da uma e meia da tarde passei por mais um, magnífico! Uma área recentemente desgastada podia ser vista na parte superior. À esquerda, uma árvore agarrava-se incrivelmente com raízes expostas, lutando para permanecer no seco e não ser arrastada pelos sucessivos períodos de cheia. Uma escala de tempo diferente, que foge à nossa percepção. Se pudéssemos visualizar (como em um filme acelerado) o aparentemente lento crescimento de uma árvore e as modificações que faz ao longo do tempo para se adaptar ao ambiente, teríamos uma percepção bem diferente dos vegetais... Desculpem-me os vegetarianos, mas não ter olhos, pernas e braços ou mesmo uma cominicação como a nossa não torna esses seres menos "vivos" do que nós...
Contrastando com a exuberância da vegetação nas proximidades do paredão, mais adiante encontrei uma margem completamente desgastada e desprotegida da ação da água. Na base da encosta, uma camada perfeitamente visível de cascalho compactado.
Um objeto não identificado no céu...
... logo se tornou um objeto identificado.
Não consegui compreender o motivo das advertências mas, por via das dúvidas, tratei de me afastar do local. Creio que deva ser uma área perigosa para o banho, talvez com águas profundas e irregularidade no leito do rio.
Às duas e trinta da tarde avistei a ponte de São Sebastião do Caí. Estava bem próximo do local onde havia acampado no ano anterior. Desta vez, teria oportunidade de seguir adiante, procurando um local mais adequado para o pernoite.
São Sebastião do Caí
Escadas escavadas no arenito
Local onde eu havia acampado no ano anterior, um ponto de tráfico e consumo de drogas à noite.
Percebi que o rio havia se modificado nos últimos quilômetros, com completa ausência de corredeiras. A velocidade de deslocamento da água havia diminuído sensivelmente e, a partir dali, provavelmente a velocidade média começaria a diminuir, o que significaria mais esforço traduzido em remadas.
Águas paradas
Biguás
Encontrei mais adiante um piloto de jet ski rebocando um jovem que esquiava e um terceiro que estava na margem, fotografando. Perguntei acerca de opções para acampar e ele me disse que havia um camping seis quilômetros adiante. Por via das dúvidas, voltei a perguntar um pouco depois para um senhor que pescava em uma canoa e ele confirmou a existência do camping, inclusive recomendando como um local muito bom para parar. Às quatro da tarde eu chegava ao Camping do Cascalho, depois de passar por Pareci Novo sem sequer perceber a existência da pequena cidade.
Acesso ao Camping do Cascalho visto do rio
Encostei o caiaque ao lado de dois barquinhos e subi a pé por uma rampa. Falei com o responsável pelo local, que foi muito solícito e me permitiu acampar no local em que preferisse. Explicou-me que o rio estava aproximadamente dois metros acima do nível normal e por isso a praia que dava nome ao campig estava submersa. Voltei ao caiaque e fiz várias subidas transportando todo o equipamento e, finalmente, o próprio caiaque.
Foi mais um belo dia de remada, assim registrado pelo gps:
Deslocamento diário: 39,7 km;
Tempo em movimento: 5 h 14 min;
Tempo parado: 2 h 08 min;
Velocidade média em movimento: 7,6 km/h;
Velocidade média geral: 5,4 km/h;
Velocidade máxima: 18,6 km/h;
Distância total percorrida: 71,68 km.

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