Fotografia de Tiane
Quarta-feira, 26 de agosto de 2009. Céu azul e tempo excelente para iniciar a descida do rio Caí. Em 23 de abril de 2008 eu havia partido do mesmo lugar [por favor veja postagens de abril de 2008], a ponte da BR116 entre Nova Petrópolis e Caxias do Sul. Naquela época havia encerrado a descida precocemente em São Sebastião do Caí, após acampamento em local perigoso e tumultuado. Desta vez estava participando de uma expedição de 150 km e previsão de cinco dias de remada com a colaboração do pessoal da loja Guenoa de Caxias do Sul (que havia convidado amigos e clientes para participarem).
No primeiro dia o trajeto compreenderia a descida até a cidade de Feliz, a pouco mais de trinta quilômetros de distância. Para me acompanhar, Tiane havia trazido o "Quindim Precioso" (caiaque amarelo). Seria a quarta vez em que ela entraria em um caiaque e teria que aprender a remar em águas um pouco agitadas, tendo em vista que somente conhecia as águas calmas do Delta do Jacuí e Guaíba, em Porto Alegre. Fiquei muito feliz com a sua iniciativa, ainda mais por estar o rio Caí um pouco acima do seu nível normal devido às chuvas de dias anteriores.
Fotografia de Tiane
Chegamos ao rio Caí por volta das nove horas e vinte minutos. O pai me ajudou a soltar e retirar os caiaques - o Quindim Precioso, amarelo, da Tiane, e o ilegal!, branco, meu. Retiramos as tralhas da Variant 75 vermelha do pai e tratamos de acomodar as bagagens nos caiaques.
Pouco antes das dez horas da manhã estávamos prontos para partir. Tiramos as últimas fotografias e guardamos as máquinas, pois alguns metros à frente enfrentaríamos o primeiro trecho com algumas pedras e águas rápidas.
Acenei para o pai, agradecendo por toda a ajuda, enquanto deslizávamos pelos primeiros metros rio abaixo. Fui explicando para a Tiane como proceder para evitar problemas: desviar sempre de árvores e galhos presos pela correnteza, evitar a água rápida passando por debaixo da vegetação nas margens e procurar manter o barco sempre com seguimento em relação à água ao redor - mesmo quando estivesse descendo uma corredeira, para manter o controle sobre o caiaque -, para manter a segurança sempre em primeiro lugar.
Descemos os primeiros quilômetros sem problemas.
Descíamos o rio tranquilamente, em ritmo de passeio, auxiliados pela correnteza. Quando encontramos uma curva para a direita, a água era desviada com força contra as rochas, causando um turbilhão que necessitava de um pouco de prática para ser transposto. Fui primeiro, orientando acerca do procedimento e mostrando o caminho. Tiane seguia atrás e não demorou a tomar o primeiro caldinho, desequilibrando o caiaque em uma área de transição entre o fluxo turbulento e as águas mais calmas: água!!! Quando reapareceu na superfície, ela só conseguia dizer, ofegante: "A má... A má... A má..." Quando conseguiu alcançar o pé no fundo do leito do rio e começar a sair da correnteza é que consegui entender: "A máquina!" Ela estava preocupada com a máquina fotográfica. Na agitação do momento, esquecera completamente que eu havia guardado a máquina para ela em um saco plástico estanque, dentro do saco resistente à água que transportava sobre o caiaque, logo atrás do cockpit. Não passou de um susto!
Retiramos a água do caiaque e aproveitei a parada para explicar o que havia acontecido e por que ela havia capotado. Foi o batismo nas águas do Caa-y!!!
Tiane depois do primeiro susto, com a camiseta molhada presa ao caiaque.
Águas brancas!
Águas brancas!
Ao longo do dia passamos por várias corredeiras, algumas pequenas e outras um pouco maiores, mas nada realmente assustador. O volume de água do rio facilitava a descida, evitando que o caiaque ficasse batendo ou trancando nas pedras, o que aconteceria se o nível estivesse baixo.
Em uma das corredeiras com maior intensidade eu seguia à frente e acabei capotando. Tiane, ao me ver, já foi perdendo as esperanças e capotou também! A correnteza estava forte e tive um pouco de dificuldade para atingir a margem e arrastar o caiaque cheio d´água por cima de algumas pedras para finalmente desvirá-lo, esvaziando-o. Com um olho no caiaque e outro na minha colega de infortúnio, que era arrastada rio abaixo, rapidamente reembarquei e tratei de auxiliá-la. Seu caiaque tem um compartimento estanque na popa (a parte de trás da embarcação), mas a proa não tem nenhuma reserva de flutuação; com o caiaque cheio d´água, a popa fica verticalmente para fora da água, enquanto o restante do caiaque fica verticalmente para baixo (parecendo um iceberg!). É o que, em inglês, conhece-se por Cleopatra's Needle [por favor veja em http://www.useakayak.org/recoveries_rescues/cleos_needle2.html um artigo bastante interessante acerca da situação]. Arrastar o caiaque completamente cheio d´água em meio à correnteza segurando o remo e procurando não perder as botas de neoprene de tamanho bem maior do que o pé não é tarefa fácil, de maneira que procurei não perder tempo para ajudar a Tiane. Conseguimos chegar a uma margem bem precária, com encosta íngreme e cheio de barro. Provisoriamente retiramos a água e reembarcamos, seguindo para uma praia de cascalhos rio abaixo.
Na praia de cascalho retiramos os caiaques da água e a água de dentro dos caiaques. Resultado do capotamento: as roupas secas de reserva da Tiane ficaram completamente molhadas, assim como a máquina fotográfica pequena da mãe que eu estava levando emprestada dentro do colete salva-vidas. Sem perder o humor, colocamos tudo ao sol e aproveitamos para fazer a parada para almoço.
Aproveitando a parada para almoço e a pequena corredeira ao lado, mostrei para a Tiane como é a movimentação geral da água em um rio e qual a consequência de um obstáculo no meio da água corrente. O fluxo de água se divide ao encontrar o obstáculo e, à jusante, forma-se um refluxo (fluxo contrário ao movimento da água descendo o rio) onde é possível "estacionar" o caiaque e encontrar águas tranquilas.
Com almoço feito e sobremesa degustada, recolhemos as tralhas e as roupas (um pouco menos encharcadas) e tratamos de continuar a descida, aproveitando o belíssimo dia.
Pouco antes das três horas da tarde chegamos à ponte de Vale Real. Não havia espaço suficiente para passar remando, então fizemos uma pequena portagem (transporte dos barcos por terra), atravessando pela ponte até a margem esquerda, onde havia melhores condições de reembarque.
Logo após a ponte de Vale Real encontramos mais uma corredeira, que foi transposta sem dificuldade mas com alguma emoção. Nesse primeiro dia de Expedição Caa-y encontramos poucos locais com águas paradas, de modo que o rendimento foi bastante satisfatório. De qualquer maneira, não estávamos preocupados em remar rápido, pois o objetivo era passear e aproveitar a paisagem. As margens alternavam presença de mata ciliar com trechos completamente desmatados onde a erosão mostrava-se intensa, demonstando a ignorância do homem no trato da terra cortada pelo rio.
Proximidades da área urbana de Feliz
Por volta das cinco horas da tarde chegávamos à cidade de Feliz, objetivo desse primeiro dia de remada. Paramos pouco adiante da ponte de ferro amarela, em local onde há acesso para o rio.
Deslocamento diário: 32,0 km;
Tempo em movimento: 3 h 44 min;
Tempo parado: 4 h 03 min;
Velocidade média em movimento: 8,5 km/h;
Velocidade média geral: 4,1 km/h;
Velocidade máxima: 18,9 km/h;
Distância total percorrida: 31,99 km.
Tiane havia combinado encontro com seu pai, que a levaria de volta a Porto Alegre. O dia estava terminando e eu havia telefonado para o pai me trazer o remo reserva, que eu havia esquecido. Resolvi aceitar a sugestão da Tiane e dormir em Linha Imperial em vez de procurar um local já no escuro (pois seria prudente sair da cidade) para acampar.
Entardecer em Feliz
1 comment:
Parabéns....
Muito bonito o lugar por onde remaram, é muito bom estar em contato com a natureza...
Brothers Adventure
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