Wednesday, September 02, 2009

Expedição Caa-y - primeiro dia (26/08/09) - Nova Petrópolis/Caxias do Sul a Feliz


O pai e eu retirando os caiaques

Fotografia de Tiane

Quarta-feira, 26 de agosto de 2009. Céu azul e tempo excelente para iniciar a descida do rio Caí. Em 23 de abril de 2008 eu havia partido do mesmo lugar [por favor veja postagens de abril de 2008], a ponte da BR116 entre Nova Petrópolis e Caxias do Sul. Naquela época havia encerrado a descida precocemente em São Sebastião do Caí, após acampamento em local perigoso e tumultuado. Desta vez estava participando de uma expedição de 150 km e previsão de cinco dias de remada com a colaboração do pessoal da loja Guenoa de Caxias do Sul (que havia convidado amigos e clientes para participarem).

Fotografia de Tiane

No primeiro dia o trajeto compreenderia a descida até a cidade de Feliz, a pouco mais de trinta quilômetros de distância. Para me acompanhar, Tiane havia trazido o "Quindim Precioso" (caiaque amarelo). Seria a quarta vez em que ela entraria em um caiaque e teria que aprender a remar em águas um pouco agitadas, tendo em vista que somente conhecia as águas calmas do Delta do Jacuí e Guaíba, em Porto Alegre. Fiquei muito feliz com a sua iniciativa, ainda mais por estar o rio Caí um pouco acima do seu nível normal devido às chuvas de dias anteriores.
A ponte da BR116 sobre o rio Caí
Fotografia de Tiane

Chegamos ao rio Caí por volta das nove horas e vinte minutos. O pai me ajudou a soltar e retirar os caiaques - o Quindim Precioso, amarelo, da Tiane, e o ilegal!, branco, meu. Retiramos as tralhas da Variant 75 vermelha do pai e tratamos de acomodar as bagagens nos caiaques.

Fotografia de Tiane


Pouco antes das dez horas da manhã estávamos prontos para partir. Tiramos as últimas fotografias e guardamos as máquinas, pois alguns metros à frente enfrentaríamos o primeiro trecho com algumas pedras e águas rápidas.

Tiane bem disposta, apesar de estar um pouco nervosa!

Acenei para o pai, agradecendo por toda a ajuda, enquanto deslizávamos pelos primeiros metros rio abaixo. Fui explicando para a Tiane como proceder para evitar problemas: desviar sempre de árvores e galhos presos pela correnteza, evitar a água rápida passando por debaixo da vegetação nas margens e procurar manter o barco sempre com seguimento em relação à água ao redor - mesmo quando estivesse descendo uma corredeira, para manter o controle sobre o caiaque -, para manter a segurança sempre em primeiro lugar.
Descemos os primeiros quilômetros sem problemas.
Rochas na margem do rio



Muitos anos de ação da água sobre as rochas


Descíamos o rio tranquilamente, em ritmo de passeio, auxiliados pela correnteza. Quando encontramos uma curva para a direita, a água era desviada com força contra as rochas, causando um turbilhão que necessitava de um pouco de prática para ser transposto. Fui primeiro, orientando acerca do procedimento e mostrando o caminho. Tiane seguia atrás e não demorou a tomar o primeiro caldinho, desequilibrando o caiaque em uma área de transição entre o fluxo turbulento e as águas mais calmas: água!!! Quando reapareceu na superfície, ela só conseguia dizer, ofegante: "A má... A má... A má..." Quando conseguiu alcançar o pé no fundo do leito do rio e começar a sair da correnteza é que consegui entender: "A máquina!" Ela estava preocupada com a máquina fotográfica. Na agitação do momento, esquecera completamente que eu havia guardado a máquina para ela em um saco plástico estanque, dentro do saco resistente à água que transportava sobre o caiaque, logo atrás do cockpit. Não passou de um susto!
Retiramos a água do caiaque e aproveitei a parada para explicar o que havia acontecido e por que ela havia capotado. Foi o batismo nas águas do Caa-y!!!

Tiane depois do primeiro susto, com a camiseta molhada presa ao caiaque.

Águas brancas!









Ao longo do dia passamos por várias corredeiras, algumas pequenas e outras um pouco maiores, mas nada realmente assustador. O volume de água do rio facilitava a descida, evitando que o caiaque ficasse batendo ou trancando nas pedras, o que aconteceria se o nível estivesse baixo.
Em uma das corredeiras com maior intensidade eu seguia à frente e acabei capotando. Tiane, ao me ver, já foi perdendo as esperanças e capotou também! A correnteza estava forte e tive um pouco de dificuldade para atingir a margem e arrastar o caiaque cheio d´água por cima de algumas pedras para finalmente desvirá-lo, esvaziando-o. Com um olho no caiaque e outro na minha colega de infortúnio, que era arrastada rio abaixo, rapidamente reembarquei e tratei de auxiliá-la. Seu caiaque tem um compartimento estanque na popa (a parte de trás da embarcação), mas a proa não tem nenhuma reserva de flutuação; com o caiaque cheio d´água, a popa fica verticalmente para fora da água, enquanto o restante do caiaque fica verticalmente para baixo (parecendo um iceberg!). É o que, em inglês, conhece-se por Cleopatra's Needle [por favor veja em http://www.useakayak.org/recoveries_rescues/cleos_needle2.html um artigo bastante interessante acerca da situação]. Arrastar o caiaque completamente cheio d´água em meio à correnteza segurando o remo e procurando não perder as botas de neoprene de tamanho bem maior do que o pé não é tarefa fácil, de maneira que procurei não perder tempo para ajudar a Tiane. Conseguimos chegar a uma margem bem precária, com encosta íngreme e cheio de barro. Provisoriamente retiramos a água e reembarcamos, seguindo para uma praia de cascalhos rio abaixo.

Secando as roupas após a segunda capotagem
Na praia de cascalho retiramos os caiaques da água e a água de dentro dos caiaques. Resultado do capotamento: as roupas secas de reserva da Tiane ficaram completamente molhadas, assim como a máquina fotográfica pequena da mãe que eu estava levando emprestada dentro do colete salva-vidas. Sem perder o humor, colocamos tudo ao sol e aproveitamos para fazer a parada para almoço.
Aproveitando a ótima cuca de chocolate da Tiane

Tudo molhado!

Aproveitando a parada para almoço e a pequena corredeira ao lado, mostrei para a Tiane como é a movimentação geral da água em um rio e qual a consequência de um obstáculo no meio da água corrente. O fluxo de água se divide ao encontrar o obstáculo e, à jusante, forma-se um refluxo (fluxo contrário ao movimento da água descendo o rio) onde é possível "estacionar" o caiaque e encontrar águas tranquilas.


Com almoço feito e sobremesa degustada, recolhemos as tralhas e as roupas (um pouco menos encharcadas) e tratamos de continuar a descida, aproveitando o belíssimo dia.


Pouco antes das três horas da tarde chegamos à ponte de Vale Real. Não havia espaço suficiente para passar remando, então fizemos uma pequena portagem (transporte dos barcos por terra), atravessando pela ponte até a margem esquerda, onde havia melhores condições de reembarque.

Fotografia de Tiane




Nessa parada aproveitamos para passar protetor solar


Logo após a ponte de Vale Real encontramos mais uma corredeira, que foi transposta sem dificuldade mas com alguma emoção. Nesse primeiro dia de Expedição Caa-y encontramos poucos locais com águas paradas, de modo que o rendimento foi bastante satisfatório. De qualquer maneira, não estávamos preocupados em remar rápido, pois o objetivo era passear e aproveitar a paisagem. As margens alternavam presença de mata ciliar com trechos completamente desmatados onde a erosão mostrava-se intensa, demonstando a ignorância do homem no trato da terra cortada pelo rio.

Fotografia de Tiane

Quase chegando em Feliz, felizes!



Proximidades da área urbana de Feliz

Por volta das cinco horas da tarde chegávamos à cidade de Feliz, objetivo desse primeiro dia de remada. Paramos pouco adiante da ponte de ferro amarela, em local onde há acesso para o rio.

O gps armazenou os seguintes dados:
Deslocamento diário: 32,0 km;
Tempo em movimento: 3 h 44 min;
Tempo parado: 4 h 03 min;
Velocidade média em movimento: 8,5 km/h;
Velocidade média geral: 4,1 km/h;
Velocidade máxima: 18,9 km/h;
Distância total percorrida: 31,99 km.
Tiane havia combinado encontro com seu pai, que a levaria de volta a Porto Alegre. O dia estava terminando e eu havia telefonado para o pai me trazer o remo reserva, que eu havia esquecido. Resolvi aceitar a sugestão da Tiane e dormir em Linha Imperial em vez de procurar um local já no escuro (pois seria prudente sair da cidade) para acampar.

Tiane com expressão cansada, mas feliz!



Entardecer em Feliz

1 comment:

Brothers Adventure said...

Parabéns....
Muito bonito o lugar por onde remaram, é muito bom estar em contato com a natureza...


Brothers Adventure