Friday, July 16, 2010

Remada: Marina Pública - Sans-Souci - Arroio do Conde

[Trajeto e legendas sobre imagem do Google Earth]
O percurso da remada em um contexto amplo


[Trajeto e legendas sobre imagem do Google Earth]

A remada para Sans-Souci e Arroio do Conde foi uma das mais bonitas do ano e infelizmente não contamos com a presença do amigo Germano, que havia percorrido trajeto semelhante com o Padaratz alguns dias antes. Suas fotografias e textos podem ser vistas clicando-se nos respectivos links ao lado direito desta postagem.
Tiane e eu iniciamos a remada na Marina Pública de Porto Alegre que, segundo informações recentes, está com os dias contados devido ao novo projeto de "revitalização" do cais do porto. Provavelmente esse pequeno espaço gratuito destinado ao lazer náutico será fechado - esperamos que não! - ou jogado para outra área. É a famosa falta de visão e iniciativa dos governantes eleitos legítima e democraticamente pelo povo se manifestando...


O dia estava muito frio - um dos dias mais frios do ano -, de maneira que começamos a remar somente às onze e meia da manhã. Observados por uma garça branca empoleirada no cais em colapso, rumamos tranquilamente em direção ao Sul, costeando a margem esquerda do rio.

Gasômetro e o barco de turismo Noiva do Caí II

A água estava quase lisa e apenas uma aragem gelada perturbava sua superfície oleosa. Seu nível ainda estava acima do normal, escondendo parcialmente as praias e originando correnteza, mais pronunciada no canal de navegação.

Elevações distantes pareciam ilhas


Atravessamos o canal de navegação passando pelo par de boias - encarnada número 135 e verde 144 - e sentindo os efeitos da correnteza. A boia encarnada provavelmente deve ter sido abalroada por alguma embarcação, pois está com as ferragens entortadas.

A boia encarnada, entortada.

Tiane passando pela boia verde. Ao fundo, o centro de Porto Alegre.

À direita da boia percebe-se na água o movimento causado pela correnteza


À medida em que fomos nos afastando do canal de navegação em direção à Ilha das Pombas, passamos a navegar em águas cada vez mais rasas. Segundo a carta náutica 2111, entre 1 e 3 metros de profundidade. Nessas águas encontramos um grande tronco de árvore encalhado. De que floresta, rio acima, teria vindo? Quanto tempo e por que distância teria viajado até encalhar ali? Qual seria seu destino? Será que algum dia chegará ao mar, percorrendo todo o rio Guaíba e a grande Lagoa dos Patos?

[Fotografia de Tiane]

Dia e noite, mês após mês, ano após ano,  faça chuva ou faça sol, a poluição reina em Guaíba...

À direita da foto, um objeto branco...
... passando em frente à Ilha das Pedras Brancas...
... e deslocando-se para a esquerda...

Pensando em viagens de troncos e na poluição, seguimos pelas águas tranquilas do Guaíba. Olhando para o horizonte, percebi um objeto branco ao longe. Poderia ser uma construção, mas parecia flutuar sobre a água... E estava se movendo!!! Não poderia ser uma vela, pelo formato. Nem um navio, pois não tinha casco! Intrigado com o que poderia ser, recorri ao zoom da máquina fotográfica para tentar decifrar o enigma...

Acima, visão com o zoom máximo da máquina fotográfica. Abaixo, um recorte da mesma imagem com a identificação do objeto. Tratava-se de uma chata - embarcação de casco longo e baixo, com mastros na proa e casario na popa, destinada geralmente ao transporte de grãos ou areia. Devido à curvatura terrestre e ao efeito da diferença de temperatura entre as camadas de ar, não era possível enxergar o casco e o casario aparecia refletido.
Acima, identificação dos elementos citados. Abaixo, ampliação da ampliação, mostrando o efeito espelho.

O efeito espelho observado no casario trata-se de uma miragem. As miragens acontecem quando existe uma mudança na densidade do ar. Esse efeito é muito comum nos quentes dias de verão, quando uma estrada asfaltada aquece o ar logo acima dela. Essa camada de ar aquecido é muito mais quente do que o ar logo acima dela. Conforme a luz refletida pelo objeto passa pelas diferentes camadas de ar, ela é desviada e cria as miragens. Normalmente a luz do Sol atinge um objeto e é refletida em todas as direções; enxergamos o objeto quando nossos olhos detectam e captam essa luz, que vem diretamente do objeto. Em um dia ensolarado (ou particularmente frio, como era o caso, onde o ar próximo era aquecido pela água), uma parte da luz refletida pelo objeto (o casario da chata), que normalmente atingiria a água, acaba se desviando ao se mover de uma camada de ar mais frio e denso para a camada de ar mais quente e menos densa logo acima da água, sendo percebida pelos nossos olhos como o reflexo da imagem original.


Rumo à Ilha das Pombas


Remando no baixio
[Fotografia de Tiane]

Remando na Ilha das Pombas
[Fotografia de Tiane]

Margem direita do rio Guaíba

Passamos pela área de baixio, onde há plantas fixadas ao leito do rio, com as pás dos remos tocando o fundo. Uma sensação interessante, por estarmos tão longe das margens e cercados por água. Deixamos a Ilha das Pombas por boreste (a ilha ficou à nossa direita) e seguimos para a margem direita do rio, procurando pela foz do arroio. Propositalmente eu não havia inserido as coordenadas da foz no gps, pois estávamos remando para conhecer o local e não para rumarmos diretamente para um ponto. Seguimos para um local certamente mais ao Sul do que onde imaginávamos que poderia estar o arroio, de maneira a remarmos pela margem e encontrarmos a foz.


[Trajeto e legendas sobre imagem do Google Earth]

[Trajeto e legendas sobre imagem do Google Earth]

A prática mostrou-se diferente da teoria. Passamos por várias reentrâncias na margem e não encontramos o arroio. Resolvemos parar em Sans-Souci, onde eu havia acampado com o amigo Rainer Scheinpflug muitos anos antes, durante uma velejada muito bacana em um pequeno barco à vela - o Tonto, barco da antiga classe Pinguim.

Chegando em Sans-Souci
[Fotografia de Tiane]

[Fotografia de Tiane]

Apenas ao pesquisar o nome desse local, para escrever esta postagem, descobri que o correto é Sans Souci (com ou sem o hífem, mas com "i" e não Sans-Soucy, como eu já havia encontrado anteriormente). Segundo a Wikipédia

"O município de Eldorado do Sul nasceu na metade do século XVIII. O território onde está situado foi inicialmente ocupado por estancieiros açorianos pertencentes ao grupo pioneiro de Jerônimo de Orellas.
A partir de 1930, a região à margem direita do Rio Guaíba passou a servir de balneário turístico à população de Porto Alegre e de porto para os barcos que vinham para a capital, como meio de transporte. Por volta de 1960, a área passou a ser habitada por colonizadores de origem alemã, que deram à localidade o nome de Balneário Sans Souci."

Interessante notar que alemães utilizaram-se de um nome francês - que significa "sem preocupação" para batizar o lugar. Havia ali grandes árvores (eucaliptos) que foram cortadas, mas estão crescendo novamente. Um trapiche de madeira também foi construído.


Trapiche de Sans-Souci



O almoço foi frugal e não muito demorado, pois a brisa estava gelada e o céu encoberto por algumas nuvens. De vez em quando os raios de sol chegavam para aquecer. Nas proximidades um bando de caturritas fazia um alarido tremendo bem acima de um ninho imenso.

Caturritas


Após o almoço tiramos algumas fotografias e resolvemos encontrar o Arroio do Conde que, segundo a carta náutica, não poderia estar muito longe. Deveria estar logo ali, adiante da ponta de terra que avistávamos. Tiane confirmou a informação com um senhor que pescava nas proximidades e lá fomos nós!

Encontrando a entrada para o Arroio do Conde
[Fotografia de Tiane]

Não demoramos muito para encontrar a foz do arroio. Na ida a Sans-Souci havíamos passado bem em frente, sem enxergar. Seguimos subindo lentamente contra a correnteza.

Subindo o arroio
[Fotografia de Tiane]

Estreitamento no arroio


Minha ideia inicial, observando as imagens do Google Earth, era subir o arroio até encontrar a ponte da rodovia que liga Eldorado do Sul a Guaíba. Subindo o arroio, passamos por vários pesqueiros (locais onde os pescadores permanecem na margem, pescando) e por estreitamentos. Em alguns lugares belas árvores debruçavam-se da margem sobre o arroio. Bom ver lugares onde ao menos a mata ciliar ainda está preservada!

[Trajeto e legendas sobre imagem do Google Earth]

Bela figueira sobre o arroio

Eu fotografando a Tiane...

... e a Tiane me fotografando!
[Fotografia de Tiane]

Mais um pouco arroio acima



Em um ponto, onde já ouvíamos automóveis passando pela rodovia, nos deparamos com uma interrupção à navegação: em frente a uma ponte em ruínas havia uma tubulação bem próxima da água, atravessando de uma margem a outra.

Tubulação em frente a uma ponte em ruínas

E agora?
[Fotografia de Tiane]

O cano impedia a passagem. Para continuar teríamos que ir à margem, procurar um local onde descer e realizar uma portagem a outro ponto, arroio acima, após a canalização. Optamos por deixar para outra oportunidade e fizemos meia volta.

[Trajeto e legendas sobre imagem do Google Earth]

Posteriormente verifiquei (pelo Google Earth) que estávamos bem próximos à rodovia, em um local onde a antiga estrada passava pelo arroio. Na carta náutica ainda consta o traçado original da estrada.

Retornando

De volta à foz do arroio

[Fotografia de Tiane]

Ops! Não é para cá...
... É para lá!

A Ilha das Pedras Brancas ao longe


Passamos por algumas ilhotas e novamente deixamos a Ilha das Pombas por boreste, ou seja, voltamos costeando o lado oposto da ilha, passando ao largo do baixio e rumando para uma passagem por entre ilhotas na extremidade Sul da ilha Mauá.


A água estava muito calma, espelhada em alguns trechos. As nuvens dominavam o céu e de vez em quando os raios de sol iluminavam a cidade ao longe.


Remando para a passagem entre as ilhotas ao Sul da ilha Mauá

O centro da cidade...
... visto atrás da ilha Mauá...
... e as onipresentes chaminés poluidoras da cidade de Guaíba ficando para trás.

Céu nublado


Água ainda calma antes da chegada do vento

Pouco depois de cruzarmos pela extremidade da ilha Mauá, repentinamente chegou o vento, soprando do quadrante Sul. Contrário à correnteza, causou o aparecimento de ondas que tornaram a remada incômoda, ainda mais em um caiaque de fundo arredondado... Procurei um rumo favorável, com vento e ondas pela alheta de boreste - diagonal à direita entre a popa (parte de trás da embarcação) e o través de boreste (90 graus à direita do caiaque) - e só fui encontrar águas mais calmas quando remei rente à margem, na proteção das árvores próximas ao parque Marinha do Brasil), quase no Gasômetro.

[Trajeto e legendas sobre imagem do Google Earth]

Remando na proteção das árvores da margem

Ao longe, ponte sobre o rio Jacuí.


Garças na margem

De volta ao Gasômetro

A partir da chegada à proteção da margem a remada voltou a ficar tranquila. Retornamos à marina pública terminando a remada às cinco e meia da tarde, bem a tempo de ver o entardecer espetacular sobre o rio Guaíba.

Final de remada ao final do dia na marina pública



Informações do gps:

Distância remada: 25 km;
Tempo de remada: 4 h 13 min;
Velocidade média: 5,9 km/h;
Velocidade máxima: 9,6 km/h;
Tempo parado: 1 h 30 min 10 s;
Velocidade média geral: 4,4 km/h.

As fotografias e impressões da Tiane podem ser acompanhadas no seu blog http://seminhabicifalasse.blogspot.com/

4 comments:

kayaks e tralhas said...

Vocês fizeram um belo passeio e com fotos muito bonitas. Parabéns pela caiacada.

Evânder Run and Cycling-up said...

Que lindo passeio, tudo muito legal!
Parabéns, abraço!

Jorge Luiz Padaratz said...

Show! Dou 10 para todas as fotos, em especial para as aves.....os efeitos "tipo miragem" registrados também foram únicos...

Padaratz

Enéias said...

Muito show, me criei nestas aguas e é muito bom ver essas fotos também, belo passeio, o lugar é lindo, muita natureza!!!