Friday, March 18, 2011

Remada de Imbé à Lagoa da Porteira - primeiro dia

[Fotografia de Germano Greis]
Nosso grupo preparado para a partida, em Imbé.
Da esquerda para a direita: Leonardo Esch, Tiane, Fabiano, Otávio e Márcio.

[Fotografia de Germano Greis]

O dia amanheceu feio, com céu encoberto e chuvisqueiro intermitente, nada encorajador para quem estava na expectativa para dois dias de remada com acampamento pelas lagoas costeiras do litoral Norte do Rio Grande do Sul.
As inúmeras lagoas estão interligadas por canais, alguns deles pouco mais do que áreas alagadas com pouca profundidade. Nas margens das lagoas é muito comum a presença de junco; um junco é uma haste extremamente fina e comprida, o que não seria empecilho nenhum, não fosse pela quantidade - milhares de juncos bloqueiam completamente a visão e, muitas vezes, estão tão compactados que chegam a dificultar muito - e até impedir! - a navegação em caiaques, considerando que o ponto de vista de um remador está muito próximo da superfície da água e, portanto, não tem visão ampla da região em que se encontra. Os canais entre as lagoas poderiam estar escondidos entre os juncos. Essa seria a principal dificuldade relativa à navegação que poderíamos encontrar e foi por isso que marquei previamente no gps pontos próximos aos acessos aos canais (visualizados no Google Earth). [Agora, escrevendo essa postagem após concluída a remada, posso afirmar com segurança que essa providência foi essencial - não fossem os pontos de referência, estaríamos até agora procurando as entradas de canais que ligam as lagoas...]
O local escolhido para a saída foi Imbé, onde havíamos concluído a última remada pelas lagoas, saindo de Osório - cujo relato pode ser lido aqui. Nosso grupo de remadores foi composto por Fabiano (Porto Alegre), Márcio e Otávio (Grupo Osório de Canoagem), Tiane e eu. Contamos com o apoio do Germano Greis (Canoas - que levou a Filhinha e a Chupinha) e do Black (Osório - profundo conhecedor da região).

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Preparativos na saída, em Imbé.

Tudo pronto para remar

Foi com chuva fina soprada pelo vento Nordeste que começamos a remar da Lagoa de Tramandaí para a Lagoa do Armazém. Depois das minhas duas primeiras experiências utilizando uma pequena vela para auxiliar na propulsão do caiaque - ideia bastante difundida pelos remadores da Austrália em geral e pelo excelente blog Gnarlydog News em particular -, uma verdadeira "febre" pela confecção e uso de velas rapidamente se espalhou entre os amigos remadores. Fabiano fez uma versão "um ponto zero" baseado no conceito de vela em "V" usada principalmente para ventos de popa, Márcio e Otávio não haviam terminado a sua (e resolveram levar um grande guarda sol para usar como vela) e Germano - que infelizmente não nos acompanhou nessa remada - também estava planejando a sua vela.

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Saída debaixo de chuva

 [Trajeto sobre imagem do Google Earth]
Lagoas do litoral e o percurso realizado nos dois dias

[Trajeto sobre imagem do Google Earth]
 Percurso realizado no primeiro dia

[Trajeto e legendas sobre imagem do Google Earth]
Início da remada, lagoas de Tramandaí e do Armazém e o primeiro canal

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Primeiras remadas

Percorremos rapidamente o pequeno trecho pela Lagoa de Tramandaí e passamos a remar nas águas extremamente rasas da Lagoa do Armazém, desviando das redes de camarão e encalhando com frequência. Seguimos para o primeiro canal da jornada, que liga a Lagoa do Armazém com a Lagoa da Custódia. 

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Remando no baixio da Lagoa do Armazém


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Canoa tocada a pano

Na entrada do canal fiquei para trás para ajustar o estaiamento do mastro da vela, que estava muito frouxo e aproveitei para filmar a entrada de uma canoa "tocada a pano". Era uma versão mais moderna, com motor, das antigas canoas que navegavam pelas lagoas litorâneas movimentadas por taquaras e, quando o vento era favorável, por panos usados como velas - daí a expressão "canoa tocada a pano".

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Parada no canal

Canal entre a Lagoa do Armazém e a Lagoa da Custódia


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Remando no canal

 "Ponte do Camarão"

Fizemos uma breve parada perto da "Ponte do Camarão" e continuamos pelo canal, agora admirando mansões com grandes pátios cercados na beira da água. Em várias delas foi construída uma margem artificial com pedras, de maneira a evitar a erosão, já que a mata ciliar foi completamente destruída.

 Mansões bem na margem do canal


 Quase na saída do canal

 Saída do canal para a Lagoa da Custódia

Aproximando-nos da saída do canal, com maior largura, começamos a perceber o vento novamente. Aproveitei para usar a vela durante praticamente toda a extensão da Lagoa da Custódia, o que foi muito prazeroso.

 Caiaque à vela na Lagoa da Custódia


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Lagoa da Custódia

[Trajeto e legenda sobre imagem do Google Earth]
Lagoa da Custódia e o canal onde almoçamos


 Aerogeradores

Tiane no Quindim Precioso
Márcio e Otávio no Biguá Albino
Fabiano


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Chegando no canal

A entrada no canal não era óbvia, mas com a ajuda do ponto previamente marcado no gps não foi difícil encontrá-la. A vegetação nas margens do canal proporcionava proteção contra o vento.
 Canal entre a Lagoa da Custódia e a Lagoa do Gentil




Paramos na margem do canal para almoçar. A chuva havia parado, mas nuvens baixas sopradas pelo vento traziam umidade e escondiam as partes altas de alguns geradores eólicos.
Parada para almoço




Após a parada para almoço continuamos pelo canal, chegando à Lagoa do Gentil, que cruzamos rapidamente. Na extremidade Sul da lagoa entramos em mais um canal, dessa vez bem mais estreito, que nos conduziria à Lagoa do Manuel Nunes. Foi uma remada bem interessante, serpenteando por entre junco e vegetação.
[Trajeto e legenda sobre imagem do Google Earth]
Lagoa do Gentil e o próximo canal


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Na Lagoa do Manuel Nunes mais uma vez fomos auxiliados pelo vento em popa. Fabiano pôde utilizar sua vela e Otávio e Márcio abriram seu guarda sol improvisando uma vela, mas Tiane não tinha nenhum recurso a não ser caiaque e remo, enfrentando a situação com muita coragem. À medida em que avançávamos para o Sul as ondas aumentavam e o vento forçava o Quindim Precioso para fora do rumo, obrigando correções constantes da Tiane.
Final da Lagoa do Manuel Nunes

[Trajeto e legenda sobre imagem do Google Earth]
Lagoa do Manuel Nunes e a procura pelo canal





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No final do percurso na Lagoa do Manuel Nunes custamos a encontrar a entrada do canal, mesmo com o auxílio do gps, pois o pequeno curso d´água estava obstruído pela areia e apenas um filete corria para dentro do mar de juncos da margem. Arrastamos os caiaques carregados e logo eles flutuavam em novas águas, serpenteando rumo à Lagoa da Fortaleza, onde mais emoções nos aguardavam.
Início do canal entre a Lagoa do Manuel Nunes e a Lagoa da Fortaleza





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Antes de chegarmos à lagoa encontramos uma pequena represa e precisamos fazer uma portagem. Os caiaques foram primeiro arrastados margem acima e durante o processo Márcio acabou se machucando quando Otávio escorregou na lama da margem. O caiaque duplo caiu bem em cima do tornozelo, que logo inchou, mas felizmente não sofreu danos de maior monta.


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 [Trajeto e legenda sobre imagem do Google Earth]
Lagoa da Fortaleza, onde encontramos vento forte.


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Na Lagoa da Fortaleza encontramos vento forte desde o início. Mesmo próximo da margem o vento dificultava a manutenção do rumo. Quanto mais avançávamos, maiores ficavam as ondas. Quando chegamos ao final da lagoa e seguíamos rumo ao canal, Tiane sucumbiu às condições extremas e começou a perder o controle e entrar no pantanoso terreno do pânico, onde o medo dá as cartas e as adversidades parecem bem maiores do que são. Entramos no primeiro corredor sem junco que encontramos, que dava acesso à margem mas não ao canal. Quando ficou sabendo que Fabiano havia virado, Tiane disse que não continuaria, que as ondas e o vento estavam muito fortes. Uma situação complicada.





Estávamos bem próximos da entrada do canal que nos conduziria à Lagoa da Cidreira, mas Tiane batia o pé e não admitia prosseguir. A solução foi dada por Márcio e Otávio, que sugeriram puxar os caiaques pela borda do junco até o canal. Tiane foi na frente, seguida de perto pelo caiaque duplo. Em algum momento Márcio e Otávio decidiram embarcar para remar entre o junco e acabaram capotando também, molhando muitos pertences que estavam no caiaque.
Enquanto isso, Fabiano e eu continuamos remando por esse pequeno percurso, aproveitando para enfrentar condições adversas:


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Tiane chegando ao canal no final da Lagoa da Fortaleza

O final do dia se aproximava quando nos reunimos no canal. Márcio, Otávio e Fabiano estavam molhados e Tiane ainda um pouco apavorada com a situação. Precisávamos encontrar um local para o acampamento. Eu havia analisado as imagens do Google Earth previamente e me lembrava que na margem Leste da Lagoa da Cidreira havia local favorável, com mata e dunas de areia, mas meus companheiros de remada achavam que seria muito distante. Logo no início do canal havia uma margem com árvores que proporcionariam ao menos abrigo para o vento. Paramos para verificar e Tiane foi a primeira a desembarcar para olhar o local. Logo surgiu um homem carregando uma espingarda dizendo que não poderíamos acampar ali. A primeira impressão foi péssima pelo tratamento recebido, mas conversando um pouco mais com o sujeito ficamos sabendo que ele era apenas o capataz da área, que já havia sido assaltada várias vezes. Ele entendia a nossa situação, mas estava apenas cumprindo ordens e tentando guarnecer o patrimônio. Seguimos adiante, rapidamente percorrendo o curto canal e entrando na lagoa. Eu continuava com a opinião de seguirmos para a margem Leste, mas como grupo acabamos optando por tentar acampamento em local mais próximo. Mais próximo, entretanto, não significa necessariamente mais rápido, ao menos onde nos encontrávamos. Havia uma espécie de clube - na verdade, um condomínio - onde poderia haver possibilidade de acampamento e a ideia era seguir até lá, mas entre nós e esse local havia grande extensão de juncos que nos fizeram perder bastante tempo e energia. Um rapaz apareceu em um caiaque sit on top e ajudou a encontrar o caminho. Chegando ao local, Fabiano e Otávio foram entrar em contato com o responsável enquanto aguardávamos. O rapaz que nos ajudou pediu para experimentar meu caiaque e acabou capotando, deixando-o cheio de água. Otávio e Fabiano voltaram com más notícias, dizendo que fomos sumariamente convidados a nos retirarmos, não poderíamos permanecer ali, mas poderíamos tentar acampar em uma área ao lado. O sol já havia descido no horizonte e começava a escurecer. Voltamos aos caiaques e remamos até essa nova área.

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Encontramos um local satisfatório, com grama próxima da água. Desembarcamos e sem perder tempo montamos acampamento. Tiane entrou na barraca e praticamente desmaiou, cansada pela atividade física e emocionalmente exausta. Foi acordada algum tempo depois, com a janta pronta: massa com cenoura e brócolis, temperada com queijo. Márcio e Otávio até providenciaram uma fogueira, o que alegrou o ambiente. Mais tarde, sob céu estrelado, descansamos.

[Trajeto e legendas sobre imagem do Google Earth]
Canal e o local de acampamento na Lagoa de Cidreira

Informações disponibilizadas pelo gps:

Distância remada: 37,17 km;
Tempo remado: 6 h 36 min;
Velocidade média: 5,6 km/h;
Velocidade máxima: 13,7 km/h;
Tempo parado: 4 h 1 min;
Velocidade média geral: 3,5 km/h.

2 comments:

kayaks e tralhas said...

Olá Esch,sobre as velas para caiaques, é um assunto interessante e ao mesmo tempo contagiante pela própria razão de se poder fazer uso delas em nossos caiaques.
Aquela do caíco, é uma vela quadrada e das primeiras que surgiram. Foram os Egípcios que a utilizavam no rio Nilo. Elas eram usadas para subir o rio, quando a navegação era contra o fluxo do rio, auxiliado pelos remos e arrastadores. Quando era necessário descer o rio, o mastro era derrubado e o barco seguia pelo fluxo do rio. Essas velas eram simples, quadradas, e inicialmente, mais altas que largas. Com o tempo, elas ficaram mais largas.
http://www.spmodelismo.com.br/howto/vl/evolucao2.php
Bela remada que fizeram e me deu vontade de estar junto.Abraço.

Fabiano Krauze said...

Grande postagem, belas fotos lindas imagens e o videos tambem ficaram muito bons!
Topa repetir essa aventura?