Tuesday, August 21, 2012

Ilhabela: do Veloso ao Bonete

Praia do Veloso, em Ilhabela.

Após o encontro para conferir e arrumar as tralhas e a reunião preparatória, em São Paulo, saímos (Ipe, Danilo e eu) na camionete do Ipe e passamos na casa de um amigo que emprestaria um caiaque para Danilo. Isso foi na grande São Paulo, onde uma cidade está ligada na outra, é um mar de prédios, um formigueiro humano, uma loucura!

[Google Earth]

Como alguém pode passar uma vida inteira nesse ambiente e nunca ter contato com a natureza? E ainda achar que isso é normal???
.....

Acabamos chegando no litoral, em São Sebastião, somente à noite; um local onde possivelmente poderíamos pernoitar, nas proximidades de uma praia (propícia para o início da remada) não estaria disponível, de modo que partimos para um "plano B" e seguimos de balsa para Ilhabela. Na realidade Ilhabela é o nome do município, enquanto a ilha propriamente dita chama-se Ilha de São Sebastião - ou, na linguagem indígena, Maembipe: local de resgate de prisioneiros e troca de mercadorias.
Em Ilhabela partimos para procurar uma pousada - depois de uma tentativa infrutífera de parar em um camping, caríssimo, e em outra pousada -, parando felizmente bem próximos da Praia do Veloso, na pousada de mesmo nome.


Acabamos chegando no litoral, em São Sebastião, somente à noite; um local onde possivelmente poderíamos pernoitar, nas proximidades de uma praia (propícia para o início da remada) não estaria disponível, de modo que partimos para um "plano B" e seguimos de balsa para Ilhabela. Na realidade Ilhabela é o nome do município, enquanto a ilha propriamente dita chama-se Ilha de São Sebastião - ou, na linguagem indígena, Maembipe: local de resgate de prisioneiros e troca de mercadorias.
Em Ilhabela partimos para procurar uma pousada - depois de uma tentativa infrutífera de parar em um camping, caríssimo, e em outra pousada -, paramos felizmente bem próximos da Praia do Veloso, na pousada de mesmo nome.


 Pousada e restaurante Veloso

 Riacho no caminho para a praia




O dia amanheceu nublado e quase sem vento. Levantei e fui olhar a praia antes do café da manhã.


 Praia tranquila na manhã da partida

Após o café, fomos com tralhas e caiaques para o local de saída e tratamos de organizar tudo. O carro ficaria em segurança ao lado da pousada.

 Descarregando caiaques e tralhas

Depois que cada tralha encontrou seu devido lugar dentro dos caiaques, Ipe fez uma breve preleção sobre as condições que esperávamos encontrar e sobre o caminho a seguir. Também reverenciamos o mar e pedimos passagem segura até o nosso primeiro destino, a praia do Bonete.

 Danilo conferindo a preleção do Ipe sobre o caminho a seguir



 Tudo pronto para a partida

Ipe e Danilo já aguardavam na água, mais adiante, quando terminei de inicializar o gps, fechar a saia e ligar a filmadora. O caiaque, pesado, custou a flutuar. Começava a remada na Ilhabela!!!

  Partindo com a esperança de chegar... de novo ao Veloso!!!

"- Que venha o Veloso!" - comentei; alguém corrigiu, dizendo que estávamos rumando para o Bonete. Expliquei, afirmado que o que eu gostaria era chegar novamente ao Veloso, depois de circunavegar a Ilhabela...

Flutuando



A água estava muito calma e mesmo na área mais aberta, bem adiante, não havia sinal de complicações. A previsão do tempo estava favorável para iniciarmos pelo Sul da ilha, tendo pela frente dois dias com trechos longos bastante expostos e quase sem possibilidades de refúgio.

  Ponta do Veloso


Nas proximidades da Ponta da Figueira encontramos um pinguim (Spheniscus magellanicus - pinguim-de-magalhães) morto provavelmente recentemente, pois estava praticamente intacto. Logo depois dessa ponta, passamos pela primeira ponta dotada de farol, a Ponta da Sela, onde a costa da ilha passava a ter orientação Norte-Sul por aproximadamente duas milhas náuticas.


 Ponta da Sela, a primeira com farol.


Mais adiante nos deparamos com uma criatura do mar. Inicialmente somente uma barbatana podia ser vista para fora da água, o que causou várias tentativas de identificação curiosas - tubarão, arraia gigante, filhote de baleia... Mas não era nada disso, tratava-se de um enorme peixe-lua:


 Passando sobre um enorme peixe-lua


"O peixe-lua (Mola mola, Rolim, entre outras designações), pertencente à ordem Tetraodontiformes, é o maior peixe ósseo conhecido, chegando a atingir 3 metros e cerca de 2300 km. O peixe-lua distingue-se pela forma circular do corpo, pouco habitual nos peixes que são em geral fusiformes. Esta espécie não tem barbatanas caudais e a locomoção é feita pelo movimento conjugado das barbatanas dorsal e anal. O peixe-lua habita as zonas temperadas e quentes dos oceanos Atlântico e Pacífico e alimenta-se de zooplâncton e pequenos peixes. Por causa das grandes dimensões da barbatana dorsal, este animal é por vezes confundido com um tubarão quando observado da superfície. O peixe-lua é considerado, em algumas culturas, um petisco apetecível, mas a sua carne contém neurotoxinas em quantidades apreciáveis. Este peixe é geralmente um viveiro de parasitas, tendo chegado a encontrar-se mais de cinquenta tipos diferentes de endo e exoparasitas num único exemplar. O peixe-lua é por vezes avistado a boiar na superfície dos oceanos num comportamento que se pensa ser destinado a aquecer o corpo depois de mergulhos prolongados a grande profundidade."



Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Peixe-lua]


Quando eu era pequeno, mal entrava em um carro e já começava a sentir enjoos; quando viajava de ônibus, precisava sentar na janela e abrir o vidro ou colocar a cabeça para fora, para apanhar vento. Minha propensão para enjoar sempre foi bastante grande. Normalmente quando estou envolvido diretamente na ação (dirigindo, por exemplo) eu não fico enjoado, mas nesse primeiro dia de remada na Ilhabela comecei a sentir os efeitos do balanço do mar. Apesar de o swell estar bem pequeno (menos de um metro), como remávamos relativamente perto da costa, sofríamos efeito da reflexão das ondas pela costa, o que tornava o mar um pouco mexido em alguns trechos. Eu tentava remar um pouco mais afastado para amenizar o problema, mas Ipe insistia em que nós nos mantivéssemos mais próximos.





O mal estar foi aumentando e a balinha de gengibre que eu chupava era tão doce que só aumentou a sensação ruim. Quando fico enjoado parece que tudo incomoda, e no primeiro dia de remada naquele lugar paradisíaco eu estava me sentindo cada vez menos à vontade - já não aguentava mais ouvir o Danilo cantando com sotaque paulista...
Meu colega de remada estava feliz com a jornada, alegre com a paisagem estonteante e com a boa sensação de remar em uma costa inóspita na companhia de amigos, mas eu, mareado, não via as coisas da mesma forma. Essa sensação só passou quando o conteúdo estomacal foi parar nas águas límpidas do Atlântico, servindo de comida aos peixes...


 Enjoando...


Embora chateado por estar nessa condição já no primeiro dia de remada, eu estava gostando muito de remar novamente no mar, ainda mais em um local belíssimo como Ilhabela. Passando pela Ponta de Sepituba seguimos em direção à praia do Bonete após uma reavaliação das condições meteorológicas, que continuavam francamente favoráveis.
Quase chegando no Bonete o mal de mer voltou, quando a terra firme já estava quase ao alcance... Não havia mais nada sólido para dar de comer aos peixes...


 Enjoando de novo, quase em terra firme...


Antes da remada, a parada no Bonete foi motivo de preocupação, pois conforme o swell as ondas poderiam estar bastante grandes, dificultando sobremaneira a aterragem. Chegando lá, no entanto, encontramos condições excepcionalmente calmas, pois o swell nem chegava a um metro em mar aberto; como fizemos a aproximação pelo lado esquerdo da praia, mais protegido, as ondas estavam bem pequenas.


 Small surf - Bonete
 


Danilo foi o primeiro a chegar, tomando um caldinho que acabou custando caro: a máquina fotográfica, que em princípio estaria em um recipiente estanque, acabou completamente alagada. Seria preciso deixar a máquina desligada para secar completamente, o que provavelmente seria inviável devido à água salgada. Pensando friamente, estávamos com uma ferramenta a menos para atingir nosso objetivo coletivo - circunavegar Ilhabela, registrando por meio de fotos e vídeos. Mas o que mais importava era estarmos bem, concluindo a primeira perna em segurança em um local de beleza peculiar, singelo e tranquilo.


 Veículos estacionados


Deixamos nossos veículos náuticos estacionados ao ar livre perto das canoas de pescadores, protegidas por telhados. Seguindo em direção à vila...


 Tão tranquilo... nem as folhas têm pressa por aqui...

Uma praça diferente...

... a praça da conversa mole!

Carrinho de mão, meio de transporte comum em Bonete.


Que local simpático!!! Logo de cara, a Praça da Conversa Mole, um ambiente aprazível com espaço de sobra para comportar muuuita conversa, debaixo de uma frondosa árvore com muuuita sombra...! As pequenas ruas não passavam de vielas impecavelmente limpas pelos moradores, comportando com folga o tráfego do veículo mais simpático da ilha, o carrinho de lomba! - transporta várias vezes o seu próprio peso, não é poluente e ainda promove a saúde pela atividade física!!!





Passando a ponte e logo em seguida a igreja, o camping é logo ali, nos fundos da casa do Seu Eugênio.


Opa, é ali o camping!!!

Tralhas no camping

Cama pronta!

Eheeee!!!


Levamos as tralhas para o camping e em questão de minutos Ipe e Danilo já estavam com as redes penduradas. Eu precisaria de uns minutos mais para montar minha barraca. Após estarmos devidamente instalados, comemos deliciosas tortillas de queijo preparadas pelo Ipe e depois fomos fazer uma caminhada ao alto do morro nas proximidades - na realidade, fomos para o maciço que forma a Ponta das Enchovas.


Subindo a ladeira!

É bonito o Bonete!!!

E o outro lado também!!!

Ao fundo, o maciço onde situa-se a Ponta do Boi.




Vista 360 graus da Ponta das Enchovas: à esquerda, Bonete; à direita (mas fora de visão) ficam as praias de Enchovas e Indaiatuba; bem ao longe, no horizonte (centro da imagem), o maciço com as pontas do Diogo, da Talhada e do Boi; bem à direita (fechando o círculo), Ponta do Bonete.
[Por favor clique nas imagens para ampliá-las]


Em pouco tempo de caminhada, já chegávamos em algumas pedras com uma bela visão da região. Ipe e Danilo se instalaram em cima de uma pedra e eu continuei em direção à ponta para filmar melhor a paisagem. Que vista espetacular!!!
Fiquei bastante tempo filmando e admirando o encontro do mar com a terra e quando retornei Danilo já subia em minha direção, pois pretendiam descer. Retornando para o camping, fui ao orelhão telefonar para a Tiane e em seguida jantamos arroz com verduras (brócolis, couve-flor, cenoura) e queijo derretido preparados pelo Ipe.
Após a janta Danilo ficou com a tarefa de estudar a carta náutica e expor as opções para o dia seguinte, que seria mais longo e com um grande trecho exposto, passando pelo marco principal de toda a remada, o farol da Ponta do Boi. Combinamos que tentaríamos estar prontos para iniciar a remada às oito horas da manhã no dia seguinte. Arrumei minhas tralhas, organizei o meu material de fotografia (e consegui uma tomada para carregar a bateria da máquina fotográfica) e conectei a GoPro ao computador para tentar carregar um pouco mais a bateria. Fui novamente ao telefone público telefonar para a Tiane e conferir a previsão do tempo: favorável para o dia seguinte, com a entrada de uma frente fria fraca prevista para o dia subsequente.
Às dez e quarenta da noite, terminava de registrar as anotações no diário pessoal. Boa noite!


Vista a partir do canto esquerdo do Bonete

Informações disponibilizadas pelo gps:

Distância remada: 21,43 km;
Tempo remado: 3 h 47 min;
Velocidade média: 5,7 km/h;
Velocidade máxima: 16,2 km/h;
Tempo parado: 7 min 37 s;
Velocidade média geral: 5,5 km/h.

 [Trajeto e legendas sobre imagem do Google Earth]

[Trajeto e legendas sobre imagem do Google Earth]

5 comments:

kayaks e tralhas said...

Que beleza! Vamos esperar as próximas etapas. Aquelas ondas na ponta do Veloso estariam fazendo eu voltar, hehe Parabéns,Germano/Marisa

Leonardo Esch said...

Que nada, Germano, as ondas estavam só no lado direito da praia, na esquerda, por onde aterramos, estava super calmo. Nada de fortes emoções. O ribeirão que desemboca nessa parte esquerda da praia é muito bonito!

Alvaro Walendowsky said...

Que show a expedição Leo!
Quando morei na Nova Zelandia em 04/05 trabalhei um período embarcado na pesca do atum, certa feita, capturamos dois desses peixes lua, gigantes!!!! Lindos! Que grande surpresa acredito voces tiveram!
Abraços

Luciano Duarte said...

Grande relato Esch! Fotos maravilhosas e texto envolvente e explicativo! Aguardamos as outras etapas! Abraço!

Ciência a bordo said...

Caraca ... um peixe lua. Quantas pessoas podem contar uma história assim? rsrs

Parabéns aos trës!

Baita abraço

Cadu e Camila