Friday, May 24, 2013

Remada na Ilha de Santa Catarina - parte 3

A praia do acampamento

Após uma noite tranquila no acampamento na bela propriedade em que paramos, acordamos cedo com dia nublado e ainda sem sol. Combinamos desmontar as barracas e guardar todas as tralhas sem tomar o café da manhã para começarmos a remar cedo, evitando o vento que, segundo a previsão, aumentaria ao longo do dia, culminando com a entrada de uma frente fria que traria chuvas vindas do Sul. A ideia para esse dia seria remarmos todos até Ponta das Canas, onde Maria Helena e Tiane terminariam a remada. Trieste seguiria a partir dali com o caiaque da Tiane e o duplo ficaria com as "gurias" no carro. Prevíamos então que essa parada demandaria algum tempo para organizar a troca de caiaques e equipamentos. Depois disso Trieste e eu ainda teríamos uma bela remada em mar mais exposto até Ingleses. Esse, ao menos, era o plano...

Caiaque pronto

Começamos a remar antes dos primeiros raios de sol conseguirem chegar na água, que estava bem calma, lisa. Foi decidido que deixaríamos a visita à Fortaleza de Santo Antônio de Ratones (na ilha de Ratones Grande) para uma outra oportunidade, então traçamos o rumo em direção a uma praia na Ponta da Daniela.

Começando a remada




 
 
 
 
Rolamento
 
 
 

No centro, as Ratones; à direita, a ponta que forma Daniela.

Maria Helena e Trieste no caiaque duplo

Tiane

A ponte, ao longe.


Ratones Grande

Fortaleza de Santo Antônio de Ratones

Ponta da Daniela

Passando pela Ponta da Daniela começamos a remar em águas um pouco mais expostas e uma leve brisa de Nordeste começou a soprar. Continuamos a remar bem perto da areia por algum tempo.



Na praia Daniela afastamo-nos um pouco mais da orla, procurando um rumo direto para a Praia do Forte, onde acreditávamos que encontraríamos algo aberto para o café da manhã. Pouco a pouco a ondulação foi aumentando e mais ao longe era possível ver alguns carneirinhos no mar.
Na Praia do Forte passamos por alguns barcos de pesca e aproamos para a praia.



Praia do Forte - ao fundo, Daniela.

Na Praia do Forte aproveitamos cadeiras e mesas de um restaurante, pois estavam na faixa de areia. Como ainda não estava aberto, sacamos nossas provisões e preparamos nosso café da manhã. Enquanto isso o sol chegou para ficar e o vento foi aumentando mais um pouco.

[Foto de Tiane]
Café da manhã na Praia do Forte

Apesar de as condições não estarem desfavoráveis, Tiane manifestou desconforto e um pouco de cansaço, o que era preocupante, pois estávamos recém no início da remada. Tanto ela quanto Maria Helena já davam sinais de que gostariam de parar o quanto antes. Trieste e eu argumentamos que elas poderiam remar ao menos até a próxima praia - Jurerê -, contornando assim a Ponta Grossa, onde fica a Fortaleza de São José da Ponta Grossa. Voltamos para a água...

Condições do mar na Praia do Forte

Voltamos ao mar, seguindo para o Norte com ondulação e vento pela proa.
A ondulação estava pequena, cerca de meio metro, mas algumas cristas começavam a arrebentar pela ação combinada do vento. Trieste e Maria Helena começaram a se distanciar à frente e eu seguia lentamente ao lado e às vezes um pouco atrás da Tiane, filmando.


Inicialmente a remada era contra a ondulação, mas em pouco tempo teríamos que começar a seguir para a direita, contornando a Ponta Grossa. A partir dessa mudança de direção Tiane foi ficando cada vez mais desconfortável, pois as ondas começavam a ficar paralelas ao caiaque. Eu tinha certeza de que para ela não faltavam condições físicas e nem técnicas para remar naquelas condições; sem sombra de dúvidas, já remamos em condições muito mais desafiadoras. Mas o psicológico começou a pesar e a sensação de "aquela onda vai me virar" passou a dominar; o desconforto virou medo e o medo virou pavor. Quando começa a se instalar o pânico, fica difícil argumentar e mesmo as conclusões mais lógicas e óbvias parecem não fazer sentido para quem está imerso nos mais sombrios pensamentos. Fomos lentamente contornando a ponta, em alguns lugares sentindo um pouco das ondas de rebote que atingiam a costa rochosa e retornavam. Tiane começava a gritar, dizendo que iria virar, que não ia conseguir... Volta e meia ameaçava virar o caiaque de proa para a ondulação, em busca de mais estabilidade, mesmo sabendo que essa direção não levaria a lugar nenhum, muito menos à praia. Contornada a ponta, tratei de fazê-la aproar para a areia, mesmo com muitos protestos. Era só questão de manter a calma, seguir remando junto com a ondulação e eventualmente fazer alguma remada de apoio quando alguma crista arrebentasse, mas isso já estava fora de questão para a Tiane. Ela chegou mesmo a enxergar a praia lotada de banhistas, imaginando uma colisão iminente do caiaque carregado e capotado com alguma pessoa...


Na  realidade, na praia somente algumas pessoas caminhavam tranquilamente pela areia e não havia banhistas nas proximidades. Por um momento fiquei com vontade de pedir que ela capotasse, pois dentro d'água poderia ter uma melhor percepção da situação. Teria ciência de que as condições não estavam assim tããão difíceis e treinaria um reembarque assistido, percebendo que capotar não seria o fim do mundo. Mas ela seguiu em frente, remando sem olhar para os lados, sem sentir o ritmo do mar - e eu diria, exagerando, sem piscar!!!
Trieste e Maria Helena já estavam na areia quando Tiane embalou e conseguiu chegar quase à areia entre uma onda e outra. Bem na beirinha da praia, capotou. Com essa capotada e sentindo a "terra firme" sob os pés, o turbilhão de emoções veio à tona e ela pôde descarregar.

Depois de algum tempo, analisamos a situação. As mulheres não queriam mais remar, isso estava fora de questão. Ainda faltava um trecho de mar até Ponta das Canas, onde estava o carro; o carro estava em condições bem duvidosas e deveria ser levado imediatamente para a oficina. Entramos em contato com o amigo Giovanni, que estava nas proximidades velejando com a filha. Quando ele se aproximou, fui ao seu encontro de caiaque. Ele dizia que as condições estavam bem mais calmas para o lado de Canasvieiras; mesmo assim, as 'gurias' haviam decidido não remar mais. 

 Encontro com Giovanni e sua filha

 Surf em Jurerê, quem diria...


Considerando o tempo que levaríamos com a logística para buscar carro, fazer troca de caiaques e tralhas para o Trieste (que usaria o caiaque da Tiane para continuar), considerando que estava prevista a entrada de uma frente fria (tínhamos planejado acampar na praia, em Ingleses, nesse dia), considerando que as mulheres possivelmente teriam problemas em andar com o carro (avariado e carregado com o caiaque duplo) e considerando que, mesmo que tudo desse certo, ainda teríamos bastante água para correr pela quilha, decidimos abortar a circunavegação.
Trieste teria que ir para Ponta das Canas tentar buscar o carro e decidimos que eu iria fazer o périplo para buscar a Spacefox láááá no Sul da ilha... Não vou contar com detalhes a maratona nos quatro ônibus que tomei, num calorão desgraciado. Resumindo bem, fui buscar o carro e Trieste foi a Ponta das Canas, enquanto Maria Helena e Tiane aguardavam na praia com os caiaques.

No final do dia estávamos todos bem, frustrados, é verdade, mas o carro de Trieste e Maria Helena estava encaminhado para o mecânico e já havíamos combinado com o Marcio sobre a mudança de planos. O dia seguinte seria ventoso e chuvoso, de forma que ficamos em stand by para mais alguma remada na ilha, o que acabou realmente ocorrendo.


Fim de jornada

Informações disponibilizadas pelo gps:

Distância remada no dia: 8,96 km;
Tempo remado: 2 h 5 min;
Velocidade média: 4,3 km/h;
Velocidade máxima: 15,9 km/h;
Tempo parado: 1 h 53 min 35 s;
Velocidade média geral: 2,2 km/h;

Distância acumulada: 54,36 km.

[Trajetos e legendas sobre imagem do Google Earth]

 [Trajetos e legendas sobre imagem do Google Earth]

[Trajetos e legendas sobre imagem do Google Earth]