Amanhecer na ilha Lambari
Acampamento
Apesar das trovoadas ouvidas à noite, não voltou a chover em nosso acampamento na ilha Lambari. A noite foi tranquila, mas ao amanhecer o tempo já estava bastante encoberto.
Por causa dos mosquitos, cada um tomou o café da manhã em sua própria barraca e dava para ouvir o zunido alto da "esquadrilha" de mosquitos do lado de fora, pronta para o café!
Passado algum tempo, Maciel foi o primeiro a sair, dizendo que não havia mais mosquitos. Oba! Tratamos de desmontar acampamento, arrumar as tralhas e guardar tudo nos caiaques e pouco depois das sete e meia da manhã começamos a remar.
O céu já estava bem mais encoberto do que no dia anterior e fiquei imaginando a possibilidade de pegarmos um temporal durante a remada. Posso remar com vento, ondas, frio ou calor, mas o que definitivamente não me deixa à vontade são os raios...
Passamos por uma área onde a margem do rio estava protegida por algo como uma cerca gigante feita de enormes postes de eucalipto interligados.
Eu estava remando bem perto da margem, aproveitando para filmar, enquanto Maciel e Germano seguiam pelo meio do rio, logo atrás. Depois de filmar a margem, rumei na direção da draga, quando um sujeito entrou rapidamente em um barco de alumínio na traseira da draga, ligou o motor e fez uma curva fechada a toda velocidade, fazendo menção de vir em minha direção. Quando saiu da parte de trás da draga, deve ter visto que eu não estava sozinho, que mais dois caiaques se aproximavam, aí simplesmente desistiu, ficando embarcado perto da areeira. Quando me aproximei, acenei para o barco, um trabalhador da draga abanou de volta, mas o sujeito do barquinho estava com cara de poucos amigos... Coisa boa não estavam fazendo!
Margem desprotegida
Continuando a remada, passamos por algumas ilhotas. Em um trecho do rio onde havia uma ilha grande Germano sugeriu que seguíssemos por um braço do rio à direita, em vez de remarmos pelo canal principal à esquerda; rapidamente deliberamos e rumamos para lá. O canal se abriu, formando uma espécie de lago, onde paramos em uma praia de areia grossa e fizemos um lanche. Dali continuamos costeando pela margem esquerda e o lago formava uma espécie de saco, onde não parecia haver saída. De onde estávamos, não dava para ver por onde continuava o rio.
Entrando no "lago"
Pouco antes de chegarmos ao final do saco, apareceu uma abertura à esquerda e a correnteza não deixou dúvidas: era por ali. Seguimos por um canal relativamente estreito no meio de uma mata bonita e algumas vezes negociamos a passagem em meio a troncos submersos. Havia alguns braços de rio menores que desembocavam nesse canal sinuoso; pouco a pouco o canal foi se alargando e já seguia paralelamente à direção do canal principal do rio. O gps confirmava que não havia dúvidas - estávamos na direção certa.
Banhos para refrescar o calor!
Encontramos novamente o canal principal do Jacuí e enxergamos casas na margem oposta (esquerda); o rio fazia uma grande curva para a esquerda, de modo que o atravessamos para encurtar caminho e logo em seguida chegamos ao camping municipal em Monte Alegre, no município de Vale Verde.
Chegando no camping
O calor estava grande. Procurei por pilhas pequenas no bar em frente ao camping, mas não havia. Acabei comprando um refrigerante de dois litros para nos refrescarmos no almoço, que foi em uma sombra perto de onde desembarcamos. Mesmo na sombra, estava muito quente. Caminhei pelas proximidades e encontrei outro bar - e lá havia pilhas! Também consegui usar um telefone rural para ter notícias de casa e do Costelinha - ele estava bem ruinzinho, mas já melhorava. Comprei também um garrafão de cinco litros de água para garantir o estoque e encher meu reservatório. Com o calor que fazia, nenhuma água seria demais.
Enquanto Germano lavava sua panela e seus talheres, aproveitei para me refrescar na água. Já não havia mais sol, mas um mormaço muito grande e nuvens cada vez mais escuras.
Havíamos combinado sair às 13 h e 30 min, mas acabamos antecipando e voltamos a remar pouco depois da uma hora da tarde.
As nuvens foram fechando rapidamente e atrás de nós dava para ver cortinas de chuva. Começamos a ouvir trovoadas mais e mais perto.
Eu remava um pouco à frente, procurei uma abertura no mato por entre os galhos de uma árvore grande. O lugar era bem ruim para desembarcar, com raízes, galhos e um pequeno barranco, mas conseguimos prender os caiaques e chegamos à terra firme. Mais ou menos firme, diga-se de passagem, pois era um mato e uns dez metros adiante já havia um pântano. De qualquer maneira, melhor do que continuar na água, pois as trovoadas continuavam.
Germano procurou o toldo que levava no caiaque e, com a ajuda do Maciel, começou a montá-lo. Quando o toldo estava ficando bem esticado, com várias cordas esticadas entre diferentes galhos, a chuva parou... Nesse momento os mosquitos nos descobriram e o repelente parecia ser só mais um complemento na dieta, pois os bichinhos acabaram nos correndo da mata e da terra firme!
Voltamos a remar, seguindo sempre perto da margem esquerda. Mais nuvens escuras estavam à nossa frente, à esquerda e atrás. Não demorou muito e novamente começaram as trovoadas, as nuvens começaram a se juntar e o tempo a ficar ameaçador.
Eu remava mais uma vez na frente e seguia remando e olhando, remando e olhando, procurando um lugar para desembarcarmos. Estávamos na margem esquerda e o rio fazia uma ampla curva para a direita, o que significava um caminho mais longo para avançarmos. Tudo bem, melhor do que remar pelo meio do rio com o temporal nos alcançando. Ao longe enxerguei pontos brancos, que poderiam significar alguma coisa. Apressei a remada, torcendo para encontrar um lugar. Os pontos brancos viraram caixas de abelhas e junto delas havia cabras e bodes. Só podia existir alguma casa! Dito e feito, parei ao lado de uma taquareira, o barranco não era dos mais propícios para um desembarque, pois era bem profunda a água, e a margem meio alta e escorregadia.
Puxei o caiaque para cima e localizei uma aportagem menos pior para o Germano e o Maciel, que já chegavam. Ainda bem, por que o temporal nos alcançava naquele momento, com pesados pingos açoitados por forte ventania. Ajudei o Germano a desembarcar e puxar o caiaque para cima e também a puxar o caiaque do Maciel. Rapidamente deliberamos sobre o local de acampamento e montamos o toldo do Germano com meu cabo de resgate e mais alguns cordeletes que eu levava. Foi uma tremenda chuvarada, felizmente só com trovoadas e sem raios nas proximidades. Acabei tomando um belo banho de chuva!
Depois de algum tempo a chuva se foi e até parecia que o tempo iria melhorar. Montamos acampamento, ajeitamos as tralhas e quando nos preparávamos para comer, apareceram inúmeros bodes, cabras e cabritos. Acabamos não fazendo refeição coletiva, mas dividi um café com o Germano. Até cogitei dormir na barraca sem o sobreteto para diminuir o calor, mas o tempo começou a fechar de novo. Pouco a pouco uma grande linha escura de instabilidade começou a se formar, bonita de se ver, mas meio amedrontadora, mesmo vista da relativa segurança do acampamento. Maciel já estava na barraca e Germano também foi se recolher. Ancorei melhor a minha barraca, prendendo-a com um cabo ao caiaque, aumentando a resistência no lado de onde viria o temporal. Aproveitei também para reforçar o toldo e evitar o cúmulo de água com um apoio central. Guardei a maioria das minhas tralhas na barraca e algumas poucas coisas no caiaque.
Fiquei observando e fotografando a chegada do temporal até começar a ventania e em seguida mais uma forte chuvarada. Felizmente mais uma vez as trovoadas não chegaram a assustar.
A chuva foi bastante intensa no início, diminuindo com o passar do tempo. Estava bom de ficar no conforto da barraca, só ouvindo a chuva lá fora. Já era noite quando chegou um barco e alguém gritou "olááá!!!" - Era Marcelo Morais, o dono da casinha que estava meio escondida mais adiante na mata. Germano e eu mal colocamos as cabeças para fora de nossas barracas e na chuva rapidamente conversamos um pouco com o Marcelo, que queria que usássemos a casinha, pois já estava de saída. Deixaria aberta, se precisássemos poderíamos entrar e nos instalar. Muito bacana a atitude, obrigado! Marcelo saiu de barco para Santo Amaro e nós voltamos para o abrigo das barracas. Antes de dormir, atualizei o diário de bordo.
Informações registradas pelo gps:
Distância remada no dia: 29,89 km;
Tempo remado: 4 h 1 min;
Velocidade média: 7,4 km/h;
Velocidade máxima: 11,5 km/h;
Tempo parado: 1 h 31 min 47 s (exceto parada para almoço, quando desliguei o gps);
Velocidade média geral: 5,4 km/h.
Distância remada em dois dias: 62,47 km.
2 comments:
Como sempre belas fotos e relato rico nos detalhes, parabéns. Será sempre um privilégio fazer parte das remadas desses amigos valiosos.
Ola pessoal! Gostaria de tirar uma dúvida, pela experiência que vocês tiveram, acham que é possível remar uns 60 km por dia? Grande abraço e parabéns pelo trabalho, lindo material.
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