Wednesday, June 18, 2008

Pedalada Viamão - Floripa - Curitiba: parte 5


Florianópolis, 27 de maio de 2008. Alvorada: 7 h 30 min. Após o café da manhã despedi-me dos anfitriões Cléia e Giovanni e saí pedalando pela ilha às 9 e meia da manhã, seguindo rumo à Lagoa da Conceição. O vento noroeste estava bastante forte.
Após parada breve para fotografias, iniciei a subida do morro onde há um belo mirante para a lagoa. Mais ou menos no meio da subida, problemas: ao pedalar, o pedivela girava em falso, deixando de transmitir a força aplicada nos pedais para a roda traseira. Olhando bem atentamente, percebi uma grande rachadura ao longo de todo o cubo traseiro. Em vários anos de pedaladasm nunca havia observado algo semelhante nem nunca soube de algum relato desse tipo de problema. Solução: seguir empurrando a bicicleta lomba acima.No mirante parei para tomar fôlego, avaliar melhor a situação e pensar no que fazer. Teria duas opções: (1) terminar a pedalada ali mesmo, seguindo para a rodoviária e retornando de ônibus para o Sul, num final melancólico para uma jornada que deveria se mais longa, com visita ao Valdo em Joinville – preparando-se para dar a volta ao mundo; (2) seguir empurrando a bicicleta até uma das duas grandes lojas com oficina de bicicleta que eu sabia que existiam nas proximidades da Beira-Mar Norte para tentar uma substituição da roda traseira – o que poderia ser caro e demorado. Optei pela segunda alternativa e segui caminhando, empurrando a bicicleta carregada.
Parei em uma interessante área de mangue para dar uma olhada nessa vegetação, desconhecida no Rio Grande do Sul. No caminho encontrei um ciclista que me indicou o caminho à loja mais próxima, situada nas proximidades do presídio. Lá chegando fui informado que não saberiam me dizer se seria possível uma substituição da roda e o mecânico só chegaria por volta das 13 h 45 min, após o fechamento da loja ao meio-dia. Sem opção, deixei a bicicleta por lá e fui almoçar.
Retornei no horário combinado e fui esquecido por um bom tempo, pois os funcionários estavam envolvidos na modificação de bicicletas e móveis de lugar. Depois de algum tempo meu problema pôde ser encaminhado ao mecânico, que me tratou muito bem. A roda com problemas foi retirada e o cassete foi colocado em outra, nesse meio-tempo confeccionei uma caixa de papelão recortado de sobras de caixas de bicicleta e embalei a roda com problema, seguindo até a agência dos Correios para despachá-la para o meu pai e posteriormente trocá-la por uma roda sem problemas.
A bicicleta ganhou uma roda nova, que ficou pronta somente às quatro e meia da tarde, quando segui viagem, passando pela Beira-Mar Norte e deixando a ilha no final da tarde. A luz estava muito bonita para fotografar, o que teria sido muito bem aproveitado se eu tivesse uma máquina fotográfica em condições de fazê-lo. (Somente a título de curiosidade, minha pequena máquina compacta está quase completamente fora de ação, pois apenas registra a imagem, que não pode ser vista nem no momento da captura nem posteriormente. Preciso descarregar todas as fotos em um computador para poder ver o resultado...) No continente parei em uma pequena loja para comprar a terceira fita para a filmadora. Na BR 101 parei para comer uma rosca e tomar refrigerante.
Depois de passar por São Miguel, já no escuro, a câmara da roda dianteira esvaziou. Parei no acostamento de capim da rodovia e retirei os alforjes, desmontei a roda e troquei a câmara. Novamente o furo fora causado por um problema provavelmente na confecção da câmara, pois estava localizado na parte interna. Mais uma vez olhei bem todo o aro para ver se poderia haver algum problema, algum raio que talvez estivesse saliente, o que foi descartado. O problema havia sido, mais uma vez, de falta de qualidade de material.
Problema solucionado, voltei a pedalar por volta das oito da noite. Em Tijucas, seguindo a recomendação que haviam me fornecido, parei para tentar encontrar um local para pernoite. O primeiro hotel estava lotado. O segundo e o terceiro, idem. Só restava um pequeno hotel em uma das entradas da pequena localidade, para onde fui, sem acreditar que encontraria vaga. Felizmente consegui. O lugar não dava mostras de ser muito recomendado e o preço não se justificava, mas diante da falta de opções foi o que me restou. Pude tomar banho e dormir um bom sono dentro do saco de dormir, sem olhar muito para o chão, que não deveria ver água por um longo tempo...

Dst 1 (distância percorrida no dia): 78,31 km;
Dst 2 (distância acumulada): 579,16 km;
Odo (odômetro - registro contínuo de distância): 6209,4 km;
Tm (tempo pedalado - e caminhado...): 5 h 11 min 29 s;
Av (velocidade média pedalada): 15,1 km/h;
Mx (velocidade máxima pedalada): 40,0 km/h.
Acordei no pequeno hotel em Tijucas às 7 h. Depois de um breve café, segui pela estrada às 8 h 15 min. Dia perfeito para pedalar, com tempo bom e quase sem vento, apenas uma leve brisa contrária. Teria uma boa jornada pela frente, pois a idéia era chegar em Joinville. Pedalei bastante forte na primeira parte da manhã, passando pelo túnel de pouco mais de 1 km no Morro do Boi (pouco antes de Balneário Camboriú).
Parei no meio do túnel para registrar a passagem. A passarela para pedestres e ciclistas não é muito amigável, com diversas estruturas de ferro para fora da parede que exigem um pouco de atenção.
Almocei à margem da rodovia e em Barra Velha parei para tomar um litro de leite e comer três bananas, aproveitando para tirar os tênis e apanhar um pouco de sol olhando para o mar. Depois de meia hora de pausa voltei a pedalar. Nesse dia passei a observar as placas indicativas de quilometragem, pois sabia que Joinville não estava muito longe do início da marcação dessa quilometragem, na fronteira entre Santa Catarina e o Paraná. Nas proximidades de Joinville havia um acesso secundário e fiquei em dúvida se deveria seguir por ali ou pedalar até um eventual acesso principal. Optei por seguir em frente, passando pela entrada principal (acho...) onde há um belo pórtico e uma réplica de moinho de vento. Segui rumo ao centro da cidade e saquei o mapa improvisado que havia feito para encontrar a casa do Valdo. Subi inúmeras ladeiras bastante íngremes até chegar à rua certa, mas não encontrava o número. Perguntei a uma senhora que inicialmente não sabia, mas que depois reconheceu quando eu lhe disse que Valdo era um ex-padre que andava de bicicleta. O que eu não sabia é que havia um caminho muito mais fácil do que eu escolhera...
Chegando finalmente ao endereço correto, esperei até a chegada de Ivone e João, um casal extremamente simpático. Ivone é irmã de Valdo, que estava fora para utilizar a internet. Após uma ligação telefônica ele estava a caminho e chegou rapidamente. Fui muito bem recebido, Valdo realmente é uma figura bastante carismática e uma pessoa bastante receptiva. Ofereceu-me sua própria cama e me deixou muito à vontade. Muito obrigado Valdo, valeu!

Nesse dia os dados do ciclocomputador foram:

Dst 1 (distância percorrida no dia): 134,73 km;
Dst 2 (distância acumulada): 713,90 km;
Odo (odômetro - registro contínuo da distância): 6344,1 km;
Tm (tempo pedalado): 6 h 14 min 20 s;
Av (velocidade média pedalada): 21,6 km/h;
Mx (velocidade máxima pedalada): 51,0 km/h.

No dia 29, quinta-feira, apesar das previsões de tempo contraditórias, o dia amanheceu sem chuva. Pude conhecer melhor a Cruzbike, bicicleta em que o Valdo pretende dar sua volta ao mundo. Ele ainda está em fase de testes, desenvolvendo melhor o potencial que a bicicleta oferece. Em uma pequena volta pude perceber que é uma maneira completamente nova de pedalar. Como Valdo mesmo afirmou, é preciso reaprender a pedalar quando se começa a utilizar a Cruzbike. Detalhes podem ser vistos nos relatos do próprio Valdo em sua página e blog, cujos links encontram-se ao lado. Aproveitamos a manhã para um passeio pela cidade, começando pelo jardim botânico que ficava no caminho para o mirante, uma torre no topo de um morro.
Após uma subida íngreme pudemos observar uma excelente vista de toda a cidade (bem maior do que eu imaginava), da serra e do litoral – baía da Babitonga e região das proximidades de São Francisco do Sul.
Descendo o morro, fomos em direção ao centro da cidade, deixando as bicicletas em um shopping com espaço exclusivo com cadeados acionados por moeda.
Visitamos o Museu Nacional de Imigração e Colonização e almoçamos em um buffet. Tentamos visitar o Museu da Bicicleta, mas estava fechado para reformas. Em uma loja de revelação fotográfica aproveitei para descarregar as fotografias da máquina e gravá-las em um cd (sim, pude vê-las brevemente também!!!). Com o final da tarde se aproximando, Valdo tratou de seguir para o local onde trabalha na atualização do site e blog e eu segui novamente para o centro da cidade, chegando debaixo de forte chuva. Acabei ficando ilhado pelo mau tempo e aproveitei para obter algumas informações sobre o Paraná e o trem de Curitiba a Paranaguá. Por via das dúvidas, anotei também o telefone da rodoviária. Devido à previsão de vários dias sucessivos de mau tempo eu estava indeciso entre seguir pedalando ou voltar para o Sul. Valdo havia me convidado para pedalarmos até Itapema do Norte, no litoral, onde parentes possuíam casa e seria possível pernoitar, mas estávamos aguardando uma definição da previsão do tempo. Pedalar até lá com chuva não seria de modo algum agradável, mas somente no dia seguinte decidiríamos...

Passeio em Joinville:

Dst 1 (distância pedalada no dia): 39,61 km;
Dst 2 (distância acumulada): 753,51 km;
Odo (odômetro - registro contínuo de distância): 6383,8 km;
Tm (tempo pedalado): 3 h 09 min 39 s;
Av (velocidade média pedalada): 12,6 km/h;
Mx (velocidade máxima pedalada): 27,7 km/h.

No dia 30 de maio, sexta-feira, o dia amanheceu com tempo bom e sol em um céu absolutamente azul. Exatamente o oposto ao que a meteorologia previra. Durante a manhã acompanhei Valdo em algumas lojas de bicicleta de Joinville. Ele está fazendo algumas alterações na Cruzbike, como a troca de quadro e rodas (provavelmente utilizará aro 24 em vez de 26). Uma sugestão que fiz foi a mudança de posição dos trocadores de câmbio e manetes de freio, que poderiam ser colocados na vertical em vez de permanecerem na horizontal, visto que a posição mais cômoda para as mãos na bicicleta de Valdo é no prolongamento vertical do guidom. Após o almoço decidimos seguir até o litoral, mais precisamente até Itapema do Norte, não muito longe da divisa com o estado do Paraná. Pernoitaríamos na casa de parentes do Valdo e no dia seguinte eu continuaria viagem para Paranaguá e Valdo retornaria para Joinville. Arrumamos a bagagem e eu me despedi da Ivone e do João, agradecendo sinceramente pela acolhida em sua casa: "o convite para irem ao Sul foi feito, as portas estarão sempre abertas para vocês! Muito obrigado!"

Pequena pedalada em Joinville:

Dst 1 (distância pedalada no dia): 12,38 km;
Dst 2 (distância acumulada): 765,90 km;
Odo (odômetro - registro contínuo de distância): 6396,1 km;
Tm (tempo pedalado): 57 min 03 s;
Av (velocidade média pedalada): 12,9 km/h;
Mx (velocidade máxima pedalada): 24,7 km/h.

Tudo acondicionado nos alforjes, despedida feita, saímos pedalamos por ruas em Joinville até chegarmos em um trecho de estrada de chão que nos levaria até a balsa. Valdo não tinha certeza do horário da travessia, então procuramos acelerar a cadência. Não foi necessário, pois quando chegamos a embarcação estava ainda na outra margem, o que não nos aborreceu; ao contrário, sobrou mais tempo para apreciarmos a paisagem. O cenário dessa região é belíssimo; a Baía da Babitonga tem diversos braços que contornam elevações e atravessaríamos um desses braços de mar.
A bicicleta e o próprio Valdo sempre despertam atenção e curiosidade por onde passam. Lembrei-me que Valdo havia perguntado que cor eu sugeria para o quadro da bicicleta e eu respondera que os cicloturistas em volta ao mundo geralmente preferem uma cor neutra, que não chame a atenção, de maneira a permanecerem com a maior discrição possível, o que evita a cobiça de possíveis "amigos do alheio". Porém, no caso da Cruzbike em geral e do Valdo em particular, o conjunto todo chamava tanto a atenção que a cor da bicicleta seria o fator menos preponderante. A Cruzbike, por ter tração dianteira e permitir uma posição extremamente confortável, chama bastante a atenção. Pilotada pelo Valdo, um senhor de mais de 60 anos, com cabelo e barba branca, que várias crianças espontaneamente chamam de "Papai Noel", não passa despercebida em lugar algum – ao contrário!!!
Na balsa ocorreu justamente isso e Valdo prontamente tratou de responder aos inúmeros questionamentos dos colegas de travessia enquanto eu me deliciava com a paisagem. Ao chegarmos na margem, Valdo me alertou que teríamos oito subidas pelo caminho. Após a primeira eu me preparei psicologicamente para uma pedalada desgastante. Ao passarmos por uma pequena lomba, porém, ouvia Valdo anunciando: "duas já foram"! Foi o que bastou para cair na gargalhada, pois esperava uma série de grandes elevações, o que não era o caso. Na verdade foram doze subidas, se é que poderiam ser consideradas. Algumas eram pequenos aclives bem curtos. Alternamos trechos em meio a uma bela vegetação com trajetos praticamente à beira-mar, enxergamos São Francisco do Sul no outro lado da Baía da Babitonga, passando por Freguesia da Glória e pedalamos por uma estrada de areia que por muita sorte estava bem compactada pela chuva da véspera; se não tivesse chovido, teríamos enfrentado uma dura pedalada por areia fofa.

Chegamos ao cair da noite em Itapema do Norte logo após passarmos por Itapoá; pode-se dizer que foi uma pedalada prazerosa em meio à mata atlântica e ao belo litoral norte de Santa Catarina.

Dados do ciclocomputador:

Dst 1 (distância pedalada no dia): 49,44 km;
Dst 2 (distância acumulada): 815,35 km;
Odo (odômetro - registro contínuo de distância): 6445,6 km;
Tm (tempo pedalado): 3 h 15 min 43 s;
Av (velocidade média pedalada): 15,1 km/h;
Mx (velocidade máxima pedalada): 36,5 km/h.

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