Final de tarde, tempinho feio, carregado. Nada de novo no front, aproveitei para fazer mais um treininho. Água lisa na saída, encrespando na entrada da lagoa.
Lá pelas tantas, sinto algo no meu pé esquerdo. Que estranho, parece meio molhado, meio gosmento... o que será?
Procuro não mexer muito o pé até ter condições de checar... Vai saber, pode ser uma lagartixa inofensiva - tem muitas no Recanto -, uma aranha, quem sabe uma cobra que procurou refúgio dentro do caiaque? Tem várias em Maquiné também...
É incrível como a mente humana é capaz de produzir as sensações mais bizarras... Se não fosse assim, o que seria dos filmes de terror? :)
Em todo o caso, vamos pecar pelo excesso de precaução, pensei. Remei até um tronco de árvore encalhado dentro da lagoa, pois estava remando com o ilegal! - o meu caiaque mais instável - e o que eu queria era justamente estabilidade para parar de remar, abrir a saia e dar uma olhada para dentro do cockpit.
Encostei no tronco, consegui me estabilizar e deixei o remo debaixo do elástico do deck. Abri a saia e a primeira coisa eu vi foi uma planta aquática, que retirei e devolvi a água.
Há! Resolvido o problema! Viu o que dá ser cagão e ficar imaginando coisas???
Voltei a remar, como se fosse para o meio da lagoa, aumentando o vigor e a velocidade da remada, como que para compensar o tempo "perdido". Com isso, o caiaque passou a bater mais nas pequenas ondas. Algum tempo depois, sinto a mesma sensação, no mesmo pé... Mas será possível? Não era aquela planta???
Mais uma vez os pensamentos mais sombrios começam a se esgueirar na mente... Não deve ser nada, vou continuar remando... Será?...
Mmmm. Deixa eu ver, cadê a margem mais próxima?
Faço uma curva acentuada para a direita, quase um cotovelo, seguindo para a linha de juncos. Lá devo encontrar um lugar para descer...
Remo, olho, remo, procuro um lugar na floresta de juncos...
Ah! Ali vou conseguir desembarcar!
Uma pequena abertura leva à terra firme, uma mistura de rochas e de capim baixo, parece até uma grama. Excelente!
Com todo o cuidado encosto, encalhando o caiaque, deixo o remo do lado e abro a saia, puxando com toda a calma os pés para fora. Pronto, agora posso ver qual o monstro que assola o meu pensamento...
Abaixo mais a cabeça, chegando perto da abertura do cockpit, mas nem preciso me aproximar muito. Uma simpática rãzinha, que quase posso imaginar com cara de assustada, está parada, me olhando! Como num passe de mágica todo aquele receio se desfaz e fico com pena da coitadinha, que deve ter balançado um bocado trancada no cockpit no meio das ondas... Com a mão ajudo-a a sair, ela pula para fora e para a margem. Boa sorte, companheira!
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