Saturday, April 05, 2014

Um Cupim na Ilha dos Lobos

 Tchau!

Encontrei-me com Egon em Torres, no extremo Norte do litoral gaúcho, após o convite que eu havia feito através do nosso grupo de e-mails do Google "Vamos remar". Os amigos dos Brothers Adventure de Torres não poderiam remar de manhã, então marquei com Egon para remarmos até a Ilha dos Lobos e para a parte da tarde marcamos com todos uma sessão de surf.
Egon também estava com remo groenlandês e com caiaque oceânico, mas ainda não havia experimentado uma remada em mar aberto. Eu também estava em situação semelhante, pois, apesar de já ter remado em águas abertas, era a primeira vez que o Cupim saía para águas salgadas.
Encontramos uma rampa para acessar o rio Mampituba nas proximidades da ponte e arrumamos o equipamento. Dona Lena e Seu Roberto, meus sogros, apareceram para ver a saída e desejar boa remada. Obrigado!
Também apareceu por lá o "brother" Rogério, confirmando nosso encontro para o surf da tarde.

 Catamarã de passeios Marina 2000

Passamos pelo catamarã turístico atracado na margem do rio, pela ponte pênsil e seguimos em direção à desembocadura do rio Mampituba no oceano Atlântico. A foz do rio é mantida estável por dois molhes de pedras e na extremidade de cada molhe existem faroletes de auxílio à navegação. Ao nos aproximarmos dos molhes, fomos começando a sentir o swell; conforme indicação do Rogério, a melhor estratégia para ganhar o mar aberto seria passar bem pela direita, rente ao molhe Sul, onde não precisaríamos passar por ondas quebrando.

 Molhes de Torres: saída do rio Mampituba para o oceano Atlântico

Seguimos a orientação e ganhamos a água aberta passando por uma bela ondulação que trouxe um pouco de emoção ao batismo na água salgada. A passagem sem ondas estava bem estreita e próxima ao molhe.

Swell na saída do Mampituba

Pouco a pouco a profundidade foi aumentando, o swell diminuindo e a água clareando. A visão de Torres a partir do mar, com a água lisa, foi das mais bonitas. Egon estava contente com a remada, dava para perceber que o pouco de tensão que tinha ia aos poucos desvanecendo. Marcamos o rumo na direção da ilha e seguimos, remando e conversando.

Torres

As condições estavam muito propícias para uma remada tranquila. Ausência de vento, swell minúsculo, céu azul com pequenas nuvens de tempo bom. Pouco a pouco as rochas baixas da ilha foram ganhando contornos mais nítidos.

 Ilha dos Lobos

Aproveitei as boas condições para me aproximar bem da ilha, que estava sem a presença de seus visitantes mais ilustres. Somente algumas poucas aves e suas marcas brancas nas pedras. Sugeri ao Egon darmos a volta na ilhota e acabamos fazendo duas circunavegações, uma em cada sentido.

 Bem perto das rochas

 Contornando a ilha

Ao Sul da ilha existe uma onda que, em condições muito especiais em alguns poucos dias por ano, fica realmente grande, a ponto de ser considerada uma das maiores ondas do Brasil. Mesmo nas condições calmas em que remávamos, não deixou de ser emocionante descer na pontinha da onda, enxergando as rochas da ilha bem perto e a costa de Torres láááá longe...!

 Onda na Ilha dos Lobos

[Fonte: www.surfmappers.blogspot.com.br]
A famosa onda da Ilha dos Lobos

Acima, uma imagem de como fica a onda em alguns poucos dias do ano. Abaixo, link para uma página com uma história interessante e vídeo sobre o local.



 Remando para os morros

Depois da visita à ilha apontamos nossas proas para os morros e seguimos na direção da Guarita, a mais famosa das praias de Torres. Conseguimos nos aproximar bem dos morros mas mantivemos distância segura da praia, cheia de banhistas.






Praia da Guarita à frente

Em frente à Guarita fizemos meia volta e em seguida começamos a seguir paralelamente à linha da costa. Eu estava um pouco próximo demais dos morros e por pouco não fui surpreendido por uma arrebentação que vez por outra se formava por ali. Tratei de remar um pouco mais afastado, seguindo na direção do Egon, que remava com muito mais precaução.


 Paramotor sobrevoando Torres




Remando na direção dos molhes, avistamos à direita o catamarã cheio de turistas que retornava de uma volta pela ilha. À nossa esquerda, as praias repletas de banhistas e os surfistas no canto dos molhes.
A estratégia para entrar no rio seria a mesma, remar perto do molhe da esquerda e evitar as ondas à direita. Mas não seria meio sem graça, sem ao menos descer uma ondinha com o Cupim...?

 
 
 De volta aos molhes

Em vez se entrar bem rente ao molhe, optei por desviar um pouquinho a rota para a direita, procurando um pouquinho de emoção... :)
Eis que surge uma onda, e era até um pouco maior do que eu imaginava... Começo a remar mais forte, acelerando a remada e o coração, adrenalina começando a aparecer... O Cupim vira para a direita, na direção para onde vai quebrar a onda... Faço apoio para a esquerda, conjugando com um leme de popa, me esforçando para mudar de rumo, mas a onda já é íngreme, o caiaque já fica de lado e antes de conseguir fazer um apoio alto para a direita a onda já me pegou...! Tchibum!!!

 
 
 

Nem termino completamente a capotagem na água turva do rio e já sinto a água entrando no cockpit.  A saia abriu, pois é um pouco grande para o Cupim. Saída molhada, em uma fração de segundo já estou ao lado do barco, remo na mão, enxergando Egon entrar bem ao lado do molhe, descendo uma ondulação que não irá quebrar. Que bom que ele está tranquilo, não se apavorou com a minha capotagem, segue entrando pelo rio. Ainda pergunta se está tudo bem e eu confirmo.

 
 

Desviro o caiaque, vamos lá, estabilizar, sentar sobre o caiaque, auto resgate no estilo "caubói". Uma perna para dentro do cockpit, quando é a vez da outra, me desequilibro e tchibum, pra água outra vez...


"Se não subi na primeira, nem tento a segunda" - esse é o meu protocolo, sabendo que tenho o paddle float. Também não poderia ficar brincando muito na saída do rio para o mar, afinal é o ponto de passagem para as outras embarcações. Sempre é algo a se considerar, alguém sempre pode imaginar que um caiaque capotado precisa de resgate - e aí uma diversão pode se transformar em pesadelo, colocando-se outras embarcações em risco. Saco o paddle float, coloco no remo, inflo e em poucos segundos já estou em posição para reembarcar. Chega Egon, pronto a ajudar. Aproveito a estabilidade para usar a bomba e retirar parte da água.


 

Água retirada, saia fechada, lá vamos nós novamente rio adentro. Aparece alguém em uma prancha cor de laranja, perguntando se está tudo bem. Sim, agradeço, tudo está tranquilo. Só quando pergunta nossos nomes é que me dou conta de que era na verdade um salva vidas, checando se estávamos em apuros. Não precisava, mas obrigado de qualquer forma!

Remamos de volta ao ponto de partida, terminando essa pequena jornada por um dos locais mais interessantes do nosso litoral gaúcho, nossa única ilha oceânica.

[Trajeto e legendas sobre imagem do Google Earth]
O ponto da capotagem e a deriva

[Trajeto e legendas sobre imagem do Google Earth]
Percurso remado em Torres

Nessa remada pela manhã remamos 15,15 km. O gps registrou todo o trajeto e as informações, mas esqueci-me de anotar os dados, lembrando apenas da distância.

À tarde o tempo vai fechando, nuvens ameaçadoras e trovoadas surgem ao Norte e ao Sul, mas segundo o Rogério nada vai acontecer por enquanto. Eu duvido, pois parece que o temporal é iminente. Não gosto nada de raios, mas dou meu voto de confiança e lá vamos nós para o surf.
Incrivelmente, o temporal dá voltas em torno de nós, a paisagem é fantástica e o surf também, pois nos divertimos "pra caramba". Aproveito para remar com o Cupim, com o caiaque do Rogério, com o do Fernando e com o Trovão Azul, o meu playboat. Egon está com a família, não se anima muito, entra algumas vezes, se livra de um caldo que poderia ter sido fabuloso ao passar por uma onda, só isso já valeu o dia!!! A parceria não termina por aí, ele ainda se dispõe a filmar algumas tomadas da areia da praia!




 


 
 
 


É bem difícil traduzir em palavras o sentimento após um dia bem vivido como esse, remando em águas calmas e contemplando o encontro do mar com a costa, aproveitando a companhia dos amigos e se divertindo no surf da tarde. Só resta agradecer aos amigos Egon, Rogério e Fernando!

Uhúúúúú!!!

Na hora da "foto do uhúúúúú!!!" nosso amigo Egon já tinha ido, então claro que aproveitamos para fazer uma graça, abraçando simbolicamente o ausente. :)

Valeu, amigos!!!

2 comments:

Fernando Batista said...

muuuito tri esta remada!

Pablo Grigoletti said...

Baita remada. Ainda quero acompanhar vcs numa remada no mar...