Trigésimo segundo dia (23/01/01 – terça) ao
trigésimo quarto dia (25/01/01 – quinta) – Santiago do Chile
Chegando em Santiago, reencontramos nossos amigos de pedalada no Hostelling International (Albergue da Juventude). Jacson havia comprado a última passagem de ônibus para Porto Alegre e viajaria na terça-feira. Meu pai e eu teríamos que esperar até o dia 26, sexta-feira, pois todos os horários disponíveis até aquela data estavam lotados. Aproveitamos então para conhecermos um pouco mais a respeito da capital do Chile.
A cidade de Santiago situa-se em um vale, ao pé da Cordilheira dos Andes. Este vale é a parte norte do Gran Valle Central de Chile, que se estende por quase 1.000 km até Puerto Montt. A cidade possui um declive de leste para oeste, variando de uma altitude de 800 até 474 metros acima do nível do mar. A Cordilheira dos Andes não somente demarca os contornos da cidade, como projeta-se no próprio centro através do Cerro San Cristóbal, com 880 metros de altitude. Fomos visitar esse local de bela vista, subindo com um horripilante teleférico que balançava pendurado em um cabo de aço; na descida, conhecemos o funicular, composto por dois carros que deslizam em trilhos e que são unidos pelo mesmo cabo de aço – quando um sobe, outro desce. Apenas no centro do trajeto, de 45o de inclinação e 502 metros de extensão, os trilhos se dividem para dar passagem aos dois carros simultaneamente.
A ocupação da área da cidade de Santiago ocorreu a partir do ano de 1540, com a chegada de Pedro de Valdivia. Em 12 de fevereiro do ano seguinte a cidade foi batizada e, seis meses depois, arrasada pelos homens do Cacique Michimalongo, sendo posteriormente reconstruída no mesmo local, no vale do Río Mapocho. Este rio corta a cidade e, na primavera, recebe um grande aumento em seu volume; as águas de degelo, provenientes da cordilheira, são responsáveis pelo efeito.
Em 460 anos de crescimento a cidade, de quase cinco milhões de habitantes, estendeu seus limites, ocupando hoje 35 km de norte a sul e 40 km de leste a oeste. Uma organizada rede de metrôs corta os principais pontos de interesse. Visitamos várias atrações, desde prédios famosos como o Palacio de La Moneda, até um museu – Museo Chileno de Arte Precolombino (em português, pré-colombiano).
Fabrice seria o próximo a partir. Continuando sua Tour du Monde (viagem de volta ao mundo de bicicleta), seu próximo destino seria a China. [Para ver o interessante site do Fabrice, entre em tdmfabrice.free.fr] Pesquisando as opções de vôos e seus custos, optou por seguir para a Europa e de lá para a China, pois seria mais econômico do que ir aos Estados Unidos. No albergue, conversando com outros viajantes de todo o mundo, pudemos nos dar conta da exploração a que somos submetidos, como subdesenvolvidos. Em um país razoavelmente desenvolvido pode-se trabalhar em qualquer profissão menos qualificada e receber remuneração suficiente para, nas férias, viajar a qualquer parte do mundo.
No dia 25, quinta-feira, comemoramos com uma torta o aniversário de meu pai. Aproveitamos para passear e arrumar a bagagem, pois no dia seguinte tomaríamos o ônibus para Porto Alegre e, depois das exaustivas 36 horas de viagem, tomaríamos outro ônibus até Nova Petrópolis.
Trigésimo quinto dia (26/01/01 – sexta-feira) – Santiago
Distância pedalada no dia: 3,20 km.
Distância total acumulada: 3000,74 km.
Tempo pedalado: 14 min 19 s.
Velocidade média: 13,5 km/h.
Velocidade máxima: 29,0 km/h.
Na manhã dessa sexta-feira colocamos nossa bagagem nas bicicletas e rumamos para a estação rodoviária, percorrendo pouco mais de 3 quilômetros. Era a distância que faltava para completar o que havia sido previsto no início do projeto, quando as distâncias percorridas foram estimadas. Três mil quilômetros pedalados!!!
Após um sufoco no despacho das bicicletas, quando um “auxiliar” quis ganhar dinheiro por fora para “permitir” o transporte das bicicletas no bagageiro do ônibus, tivemos tempo para pensar no que havíamos feito. Percorrendo as cordilheiras, pudemos reviver os trechos percorridos e avistar as paisagens de outro ângulo. Para quem viajou de bicicleta fica muito claro o quanto se perde – em contato, em sentimentos, em paisagens – quando se viaja de carro ou de ônibus. De bicicleta estamos no lugar, não somente passamos por ele.
Nós chegamos apenas até Santiago, enxergando muito pouco do Chile. Mas podemos afirmar que o país está alguns anos à frente do Brasil. Muito mais organizado e pronto para receber o viajante, explorando a atividade turística e não o turista, como ainda ocorre por aqui, proporciona satisfação e belíssimas paisagens para quem vai viajar. A segunda etapa da viagem De bicicleta pelo Cone Sul pretende percorrer os caminhos do Sul, rumo à terra dos lagos, das geleiras e dos vulcões: a Patagônia. Percorrer uma grande extensão com uma bicicleta não é uma tarefa hercúlea, possível de ser realizada apenas por pessoas especiais com equipamentos caríssimos e tecnologia de ponta. Mas é preciso ter em mente que planejamento e determinação são fundamentais. Quanto mais conhecimento, capacidade de antecipar-se aos problemas e humildade para aprender, melhor. Quem estiver interessado, habilite-se!!!
Esse relato, desenvolvido através de vinte capítulos, certamente não tem a pretensão de contemplar todos os aspectos dessa viagem, mas pode servir de inspiração e estímulo para que mais pessoas levantem-se das poltronas e aproveitem melhor a vida. Trata-se de um ponto de vista particular acerca do projeto, escrito por quem o idealizou e teve o prazer de concretizá-lo. Todas as suas etapas, entretanto, contaram com a colaboração de várias pessoas, inclusive os “críticos de plantão”. Até mesmo eles contribuíram para o desenvolvimento, pois proporcionaram reflexões que aprofundaram dúvidas ou reafirmaram convicções.
Gostaria de registrar o auxílio e empenho fundamentais de minha família: minha irmã, pelo indispensável apoio moral e financeiro, sem os quais não poderíamos ter partido; minha mãe, pelas precauções que somente uma mãe pode ter, pelos sábios conselhos que sempre nortearam minha vida; meu pai, pelo companheirismo e determinação, por se tornar meu grande amigo e companheiro de viagem. À minha (na época, futura) namorada Elisabeth, por ter me esperado já com saudades, mesmo sem eu saber...
Aos amigos e colegas de estrada, Jacson e Fabrice (França), a certeza de que nos encontraremos em breve em alguma nova aventura.
Aos inúmeros amigos que contribuíram positivamente para o êxito da primeira parte do projeto, muitos dos quais gostariam de ter participado. Gostaria de mencionar especialmente: J. Thomas Elbling, pelo apoio financeiro para aquisição de filmes; Família Endler, pelo empréstimo de valioso material de consulta e pelas conversas e conselhos importantes, principalmente a respeito do Parque Provincial Aconcagua; amigos Renato Grubert, Clayton de Avila Rodrigues, Rainer Scheinpflug, Frederico Kroth, Élise LaForest (Canada), pelas conversas, dicas e palavras de incentivo. Aos amigos da Novotec, principalmente Manuela e Jonas, por todo o apoio e companheirismo que sempre demonstraram na realização dos mais diversos projetos.
Aos amigos do Jornal A Ponte, pela oportunidade de publicar, durante 10 meses, os vinte capítulos desta aventura, que totalizaram mais de 150.000 caracteres e incontáveis fotografias. Sem este espaço seria impossível compartilhar a viagem com os leitores.
Para agendar palestras, ver fotografias ou simplesmente trocar referências bibliográficas, contatos e idéias sobre esta ou outras aventuras, por favor entre em contato.
Obrigado!
trigésimo quarto dia (25/01/01 – quinta) – Santiago do Chile
Chegando em Santiago, reencontramos nossos amigos de pedalada no Hostelling International (Albergue da Juventude). Jacson havia comprado a última passagem de ônibus para Porto Alegre e viajaria na terça-feira. Meu pai e eu teríamos que esperar até o dia 26, sexta-feira, pois todos os horários disponíveis até aquela data estavam lotados. Aproveitamos então para conhecermos um pouco mais a respeito da capital do Chile.
A cidade de Santiago situa-se em um vale, ao pé da Cordilheira dos Andes. Este vale é a parte norte do Gran Valle Central de Chile, que se estende por quase 1.000 km até Puerto Montt. A cidade possui um declive de leste para oeste, variando de uma altitude de 800 até 474 metros acima do nível do mar. A Cordilheira dos Andes não somente demarca os contornos da cidade, como projeta-se no próprio centro através do Cerro San Cristóbal, com 880 metros de altitude. Fomos visitar esse local de bela vista, subindo com um horripilante teleférico que balançava pendurado em um cabo de aço; na descida, conhecemos o funicular, composto por dois carros que deslizam em trilhos e que são unidos pelo mesmo cabo de aço – quando um sobe, outro desce. Apenas no centro do trajeto, de 45o de inclinação e 502 metros de extensão, os trilhos se dividem para dar passagem aos dois carros simultaneamente.
A ocupação da área da cidade de Santiago ocorreu a partir do ano de 1540, com a chegada de Pedro de Valdivia. Em 12 de fevereiro do ano seguinte a cidade foi batizada e, seis meses depois, arrasada pelos homens do Cacique Michimalongo, sendo posteriormente reconstruída no mesmo local, no vale do Río Mapocho. Este rio corta a cidade e, na primavera, recebe um grande aumento em seu volume; as águas de degelo, provenientes da cordilheira, são responsáveis pelo efeito.
Em 460 anos de crescimento a cidade, de quase cinco milhões de habitantes, estendeu seus limites, ocupando hoje 35 km de norte a sul e 40 km de leste a oeste. Uma organizada rede de metrôs corta os principais pontos de interesse. Visitamos várias atrações, desde prédios famosos como o Palacio de La Moneda, até um museu – Museo Chileno de Arte Precolombino (em português, pré-colombiano).
Fabrice seria o próximo a partir. Continuando sua Tour du Monde (viagem de volta ao mundo de bicicleta), seu próximo destino seria a China. [Para ver o interessante site do Fabrice, entre em tdmfabrice.free.fr] Pesquisando as opções de vôos e seus custos, optou por seguir para a Europa e de lá para a China, pois seria mais econômico do que ir aos Estados Unidos. No albergue, conversando com outros viajantes de todo o mundo, pudemos nos dar conta da exploração a que somos submetidos, como subdesenvolvidos. Em um país razoavelmente desenvolvido pode-se trabalhar em qualquer profissão menos qualificada e receber remuneração suficiente para, nas férias, viajar a qualquer parte do mundo.
No dia 25, quinta-feira, comemoramos com uma torta o aniversário de meu pai. Aproveitamos para passear e arrumar a bagagem, pois no dia seguinte tomaríamos o ônibus para Porto Alegre e, depois das exaustivas 36 horas de viagem, tomaríamos outro ônibus até Nova Petrópolis.
Trigésimo quinto dia (26/01/01 – sexta-feira) – Santiago
Distância pedalada no dia: 3,20 km.
Distância total acumulada: 3000,74 km.
Tempo pedalado: 14 min 19 s.
Velocidade média: 13,5 km/h.
Velocidade máxima: 29,0 km/h.
Na manhã dessa sexta-feira colocamos nossa bagagem nas bicicletas e rumamos para a estação rodoviária, percorrendo pouco mais de 3 quilômetros. Era a distância que faltava para completar o que havia sido previsto no início do projeto, quando as distâncias percorridas foram estimadas. Três mil quilômetros pedalados!!!
Após um sufoco no despacho das bicicletas, quando um “auxiliar” quis ganhar dinheiro por fora para “permitir” o transporte das bicicletas no bagageiro do ônibus, tivemos tempo para pensar no que havíamos feito. Percorrendo as cordilheiras, pudemos reviver os trechos percorridos e avistar as paisagens de outro ângulo. Para quem viajou de bicicleta fica muito claro o quanto se perde – em contato, em sentimentos, em paisagens – quando se viaja de carro ou de ônibus. De bicicleta estamos no lugar, não somente passamos por ele.
Nós chegamos apenas até Santiago, enxergando muito pouco do Chile. Mas podemos afirmar que o país está alguns anos à frente do Brasil. Muito mais organizado e pronto para receber o viajante, explorando a atividade turística e não o turista, como ainda ocorre por aqui, proporciona satisfação e belíssimas paisagens para quem vai viajar. A segunda etapa da viagem De bicicleta pelo Cone Sul pretende percorrer os caminhos do Sul, rumo à terra dos lagos, das geleiras e dos vulcões: a Patagônia. Percorrer uma grande extensão com uma bicicleta não é uma tarefa hercúlea, possível de ser realizada apenas por pessoas especiais com equipamentos caríssimos e tecnologia de ponta. Mas é preciso ter em mente que planejamento e determinação são fundamentais. Quanto mais conhecimento, capacidade de antecipar-se aos problemas e humildade para aprender, melhor. Quem estiver interessado, habilite-se!!!
Esse relato, desenvolvido através de vinte capítulos, certamente não tem a pretensão de contemplar todos os aspectos dessa viagem, mas pode servir de inspiração e estímulo para que mais pessoas levantem-se das poltronas e aproveitem melhor a vida. Trata-se de um ponto de vista particular acerca do projeto, escrito por quem o idealizou e teve o prazer de concretizá-lo. Todas as suas etapas, entretanto, contaram com a colaboração de várias pessoas, inclusive os “críticos de plantão”. Até mesmo eles contribuíram para o desenvolvimento, pois proporcionaram reflexões que aprofundaram dúvidas ou reafirmaram convicções.
Gostaria de registrar o auxílio e empenho fundamentais de minha família: minha irmã, pelo indispensável apoio moral e financeiro, sem os quais não poderíamos ter partido; minha mãe, pelas precauções que somente uma mãe pode ter, pelos sábios conselhos que sempre nortearam minha vida; meu pai, pelo companheirismo e determinação, por se tornar meu grande amigo e companheiro de viagem. À minha (na época, futura) namorada Elisabeth, por ter me esperado já com saudades, mesmo sem eu saber...
Aos amigos e colegas de estrada, Jacson e Fabrice (França), a certeza de que nos encontraremos em breve em alguma nova aventura.
Aos inúmeros amigos que contribuíram positivamente para o êxito da primeira parte do projeto, muitos dos quais gostariam de ter participado. Gostaria de mencionar especialmente: J. Thomas Elbling, pelo apoio financeiro para aquisição de filmes; Família Endler, pelo empréstimo de valioso material de consulta e pelas conversas e conselhos importantes, principalmente a respeito do Parque Provincial Aconcagua; amigos Renato Grubert, Clayton de Avila Rodrigues, Rainer Scheinpflug, Frederico Kroth, Élise LaForest (Canada), pelas conversas, dicas e palavras de incentivo. Aos amigos da Novotec, principalmente Manuela e Jonas, por todo o apoio e companheirismo que sempre demonstraram na realização dos mais diversos projetos.
Aos amigos do Jornal A Ponte, pela oportunidade de publicar, durante 10 meses, os vinte capítulos desta aventura, que totalizaram mais de 150.000 caracteres e incontáveis fotografias. Sem este espaço seria impossível compartilhar a viagem com os leitores.
Para agendar palestras, ver fotografias ou simplesmente trocar referências bibliográficas, contatos e idéias sobre esta ou outras aventuras, por favor entre em contato.
Obrigado!