Décimo oitavo dia (09/01/01 – terça) – Laboulaye a Vicuña Mackenna
Distância pedalada no dia: 101,97 km.
Distância total acumulada: 1976,06 km.
Tempo pedalado: 4 h 05 min 48 s.
Velocidade média: 24,9 km/h.
Velocidade máxima: 38,0 km/h.
Acampados ao lado de um posto de gasolina, desde o raiar do dia percebemos que o tempo seria chuvoso. Antecipando-nos à chuva, recolhemos todo o material antes de sentirmos os primeiros pingos gelados. Debaixo de um telhado arrumamos o equipamento, ensacando tudo o que não poderia molhar. Enquanto tomávamos café, um raio caiu nas proximidades com um forte estrondo.
Na minha opinião, foi o pior momento em toda a viagem. Pedalar debaixo de chuva e com raios caindo bem próximos é um teste para o sistema nervoso. Para piorar um pouco mais o clima, tive um raio da roda traseira quebrada, o que diminuía sensivelmente o desempenho da bicicleta.
Quando a chuva começou a se dissipar estávamos nas proximidades de General Lavalle. Paramos para almoçar e aproveitei a oportunidade para trocar o raio quebrado. Tive uma surpresa desagradável ao perceber que os raios de reserva que levava não tinham as mesmas dimensões daqueles que estavam nas rodas. Obra de uma oficina de bicicletas bem conhecida em Caxias do Sul, onde dois irmãos se revezam no atendimento. A falta de seriedade na prestação do serviço me obrigou a seguir com uma roda torta em plena viagem no centro da Argentina. O temporal voltou a se formar no horizonte, mas não nos atingiu antes de chegarmos ao nosso objetivo naquele dia, a cidade de Vicuña Mackenna. Fomos a uma oficina de bicicletas, consegui arrumar a roda e comprar raios de reserva – estes sim, de tamanho adequado. Os de Caxias do Sul foram para o lixo.
Aproveitamos a visita à cidade para tomarmos sorvete e, enquanto a chuva dava uma trégua, iniciamos a montagem do acampamento nas proximidades de um posto de gasolina. No horizonte percebemos uma mancha branca se destacando sobre um fundo azul escuro. Logo sentimos a força do temporal, carregado de granizo. Uma enorme pedra de gelo – como nunca havíamos visto, do tamanho de uma bola de tênis – caiu ao lado do acampamento. Passado o temporal, tomamos chimarrão e tratamos de preparar a janta. Uma chuva fraca chegou para ficar e o que nos restou foi o conforto do saco de dormir, esperando que no dia seguinte o tempo melhorasse.
Décimo nono dia (10/01/01 – quarta) – Vicuña Mackenna a Villa Mercedes
Distância pedalada no dia: 118,28 km.
Distância total acumulada: 2094,34 km.
Tempo pedalado: 5 h 45 min 35 s.
Velocidade média: 20,5 km/h.
Velocidade máxima: 34,5 km/h.
Pela manhã o tempo parecia bom, um pouco frio mas com vento contrário. Egon percebeu um raio quebrado e voltamos à oficina de bicicletas da véspera para trocá-lo. Seguindo viagem, enfrentamos um forte vento contrário andando em grupo, desta vez liderado por Fabrice. Durante a pedalada percebemos que estávamos continuamente subindo, pois Fabrice possuía altímetro na bicicleta e confirmou que, nos últimos dois dias, subíramos duzentos e cinqüenta metros. Jacson voltou a pedalar sozinho e ficou para trás, o que nos obrigou a parar para esperá-lo. Egon estava preocupado com a demora, pois algum problema mecânico poderia ter ocorrido. Depois de algum tempo, porém, chegava nosso colega, no mesmo ritmo de sempre. Na cidade seguinte – Justo Daract – paramos para tomar suco e aproveitamos para perguntar o que era uma forte nebulosidade que percebíamos ao longe. Alguns caminhoneiros disseram que se tratava de uma nova tormenta se formando. Ficamos intrigados, pois parecia uma cortina de fumaça. Na realidade nunca saberíamos, pois a tal tormenta não chegou e no dia seguinte a névoa havia desaparecido.
Acampamos em Villa Mercedes. Estávamos bem no centro do mapa do Cone Sul, todos estavam bem, contentes por ter chegado lá com a força das próprias pernas. Mas na Argentina que já havíamos conhecido as pessoas estavam sofrendo com a fúria das tormentas: na grande Buenos Aires, destruição, mortos e feridos.
Vigésimo dia (11/01/01 – quinta) – Villa Mercedes a San Luís
Distância pedalada no dia: 111,13 km.
Distância total acumulada: 2205,48 km.
Tempo pedalado: 5 h 51 min 24 s.
Velocidade média: 19,0 km/h.
Velocidade máxima: 48,0 km/h.
Acordamos com a temperatura bem mais baixa do que na véspera. No diário de viagem encontramos o registro da pedalada:
No início da pedalada tentamos andar em grupo, mas não funcionou. A velocidade era muito baixa, nem chegávamos a vinte por hora. O movimento estava bastante grande e os caminhões ultrapassando ou se cruzando não eram nada agradáveis. Várias vezes tínhamos que sair da pista, já que não havia acostamento para transitar.
Subimos praticamente todo o dia até chegarmos em um local chamado La Cumbre, onde paramos para almoçar. Tomamos um monte de suco e comemos uns sanduíches imensos. Depois do almoço estava bastante quente ao sol, apesar do vento um pouco fresco. Decidimos esperar e descansar, como os argentinos, fazendo uma “siesta”.
Por volta das três horas da tarde seguimos viagem, percebendo as primeiras elevações ao longe. Pedalamos lomba abaixo e paramos em frente a um monumento saudando quem chega a San Luís. Seguimos até um posto YPF, mas não pudemos ficar por lá, pois o chefe do posto havia decidido não mais se responsabilizar pelo que pudesse acontecer com quem pernoitasse por lá. O perigo de roubos era grande.
Um espinho furou o pneu dianteiro da minha bicicleta quando entrávamos em San Luís. Encontramos uma oficina de bicicletas onde foram feitos alguns reparos nas bicicletas. Circulando um pouco pelo centro da cidade, conhecemos a praça central e a igreja, aproveitamos a oportunidade para tomarmos um sorvete e saímos à procura de um local para pernoitar. Nos postos de gasolina não havia lugar – por estarmos dentro da cidade, nem área verde tinham – e na polícia descobrimos que não poderiam autorizar (nem proibir) o acampamento em qualquer lugar. Resumindo, lavavam as mãos. Sem perspectivas de encontrar um local para ficarmos, fizemos compras em um supermercado e saímos em desabalada carreira pela estrada – afinal, estava anoitecendo.
Pedalando noite adentro, fomos nos afastando da cidade, em busca de local para as barracas. Ao lado da estrada avistamos uma pequena casa. Pedimos permissão e acampamos em frente à cerca da propriedade, esperando que ninguém resolvesse levar nossas coisas durante a noite. Após a janta coletiva na barraca-refeitório de Jacson, caímos em sono profundo.
Vigésimo primeiro dia (12/01/01 – sexta) – San Luís a La Dormida
Distância pedalada no dia: 147,87 km.
Distância total acumulada: 2353,36 km.
Tempo pedalado: 6 h 00 min 48 s.
Velocidade média: 24,6 km/h.
Velocidade máxima: 37,5 km/h.
Assim como durante a noite, de manhã ventava bastante. Após o café desmontamos acampamento e seguimos viagem. O forte vento lateral ora ajudava, ora atrapalhava o andamento das bicicletas. Pedalamos por uma incrível reta com 40 quilômetros de extensão!
O relevo e a vegetação começavam a mudar, pois pedalávamos por baixadas e elevações mais pronunciadas e nas laterais da estrada só havia árvores espinhentas. Algumas paisagens lembravam os filmes de velho oeste americanos. Entre os poucos pontos de referência deste trajeto encontramos o rio Desaguadero, onde paramos para tomar suco e descansar. Nesse local havia um posto de controle de fronteira entre as províncias de San Luís e de Mendoza, onde acabávamos de entrar. Finalmente chegávamos às terras próximas da Cordilheira dos Andes: Mendoza, terra do sol e do bom vinho!!!
Distância pedalada no dia: 101,97 km.
Distância total acumulada: 1976,06 km.
Tempo pedalado: 4 h 05 min 48 s.
Velocidade média: 24,9 km/h.
Velocidade máxima: 38,0 km/h.
Acampados ao lado de um posto de gasolina, desde o raiar do dia percebemos que o tempo seria chuvoso. Antecipando-nos à chuva, recolhemos todo o material antes de sentirmos os primeiros pingos gelados. Debaixo de um telhado arrumamos o equipamento, ensacando tudo o que não poderia molhar. Enquanto tomávamos café, um raio caiu nas proximidades com um forte estrondo.
Na minha opinião, foi o pior momento em toda a viagem. Pedalar debaixo de chuva e com raios caindo bem próximos é um teste para o sistema nervoso. Para piorar um pouco mais o clima, tive um raio da roda traseira quebrada, o que diminuía sensivelmente o desempenho da bicicleta.
Quando a chuva começou a se dissipar estávamos nas proximidades de General Lavalle. Paramos para almoçar e aproveitei a oportunidade para trocar o raio quebrado. Tive uma surpresa desagradável ao perceber que os raios de reserva que levava não tinham as mesmas dimensões daqueles que estavam nas rodas. Obra de uma oficina de bicicletas bem conhecida em Caxias do Sul, onde dois irmãos se revezam no atendimento. A falta de seriedade na prestação do serviço me obrigou a seguir com uma roda torta em plena viagem no centro da Argentina. O temporal voltou a se formar no horizonte, mas não nos atingiu antes de chegarmos ao nosso objetivo naquele dia, a cidade de Vicuña Mackenna. Fomos a uma oficina de bicicletas, consegui arrumar a roda e comprar raios de reserva – estes sim, de tamanho adequado. Os de Caxias do Sul foram para o lixo.
Aproveitamos a visita à cidade para tomarmos sorvete e, enquanto a chuva dava uma trégua, iniciamos a montagem do acampamento nas proximidades de um posto de gasolina. No horizonte percebemos uma mancha branca se destacando sobre um fundo azul escuro. Logo sentimos a força do temporal, carregado de granizo. Uma enorme pedra de gelo – como nunca havíamos visto, do tamanho de uma bola de tênis – caiu ao lado do acampamento. Passado o temporal, tomamos chimarrão e tratamos de preparar a janta. Uma chuva fraca chegou para ficar e o que nos restou foi o conforto do saco de dormir, esperando que no dia seguinte o tempo melhorasse.
Décimo nono dia (10/01/01 – quarta) – Vicuña Mackenna a Villa Mercedes
Distância pedalada no dia: 118,28 km.
Distância total acumulada: 2094,34 km.
Tempo pedalado: 5 h 45 min 35 s.
Velocidade média: 20,5 km/h.
Velocidade máxima: 34,5 km/h.
Pela manhã o tempo parecia bom, um pouco frio mas com vento contrário. Egon percebeu um raio quebrado e voltamos à oficina de bicicletas da véspera para trocá-lo. Seguindo viagem, enfrentamos um forte vento contrário andando em grupo, desta vez liderado por Fabrice. Durante a pedalada percebemos que estávamos continuamente subindo, pois Fabrice possuía altímetro na bicicleta e confirmou que, nos últimos dois dias, subíramos duzentos e cinqüenta metros. Jacson voltou a pedalar sozinho e ficou para trás, o que nos obrigou a parar para esperá-lo. Egon estava preocupado com a demora, pois algum problema mecânico poderia ter ocorrido. Depois de algum tempo, porém, chegava nosso colega, no mesmo ritmo de sempre. Na cidade seguinte – Justo Daract – paramos para tomar suco e aproveitamos para perguntar o que era uma forte nebulosidade que percebíamos ao longe. Alguns caminhoneiros disseram que se tratava de uma nova tormenta se formando. Ficamos intrigados, pois parecia uma cortina de fumaça. Na realidade nunca saberíamos, pois a tal tormenta não chegou e no dia seguinte a névoa havia desaparecido.
Acampamos em Villa Mercedes. Estávamos bem no centro do mapa do Cone Sul, todos estavam bem, contentes por ter chegado lá com a força das próprias pernas. Mas na Argentina que já havíamos conhecido as pessoas estavam sofrendo com a fúria das tormentas: na grande Buenos Aires, destruição, mortos e feridos.
Vigésimo dia (11/01/01 – quinta) – Villa Mercedes a San Luís
Distância pedalada no dia: 111,13 km.
Distância total acumulada: 2205,48 km.
Tempo pedalado: 5 h 51 min 24 s.
Velocidade média: 19,0 km/h.
Velocidade máxima: 48,0 km/h.
Acordamos com a temperatura bem mais baixa do que na véspera. No diário de viagem encontramos o registro da pedalada:
No início da pedalada tentamos andar em grupo, mas não funcionou. A velocidade era muito baixa, nem chegávamos a vinte por hora. O movimento estava bastante grande e os caminhões ultrapassando ou se cruzando não eram nada agradáveis. Várias vezes tínhamos que sair da pista, já que não havia acostamento para transitar.
Subimos praticamente todo o dia até chegarmos em um local chamado La Cumbre, onde paramos para almoçar. Tomamos um monte de suco e comemos uns sanduíches imensos. Depois do almoço estava bastante quente ao sol, apesar do vento um pouco fresco. Decidimos esperar e descansar, como os argentinos, fazendo uma “siesta”.
Por volta das três horas da tarde seguimos viagem, percebendo as primeiras elevações ao longe. Pedalamos lomba abaixo e paramos em frente a um monumento saudando quem chega a San Luís. Seguimos até um posto YPF, mas não pudemos ficar por lá, pois o chefe do posto havia decidido não mais se responsabilizar pelo que pudesse acontecer com quem pernoitasse por lá. O perigo de roubos era grande.
Um espinho furou o pneu dianteiro da minha bicicleta quando entrávamos em San Luís. Encontramos uma oficina de bicicletas onde foram feitos alguns reparos nas bicicletas. Circulando um pouco pelo centro da cidade, conhecemos a praça central e a igreja, aproveitamos a oportunidade para tomarmos um sorvete e saímos à procura de um local para pernoitar. Nos postos de gasolina não havia lugar – por estarmos dentro da cidade, nem área verde tinham – e na polícia descobrimos que não poderiam autorizar (nem proibir) o acampamento em qualquer lugar. Resumindo, lavavam as mãos. Sem perspectivas de encontrar um local para ficarmos, fizemos compras em um supermercado e saímos em desabalada carreira pela estrada – afinal, estava anoitecendo.
Pedalando noite adentro, fomos nos afastando da cidade, em busca de local para as barracas. Ao lado da estrada avistamos uma pequena casa. Pedimos permissão e acampamos em frente à cerca da propriedade, esperando que ninguém resolvesse levar nossas coisas durante a noite. Após a janta coletiva na barraca-refeitório de Jacson, caímos em sono profundo.
Vigésimo primeiro dia (12/01/01 – sexta) – San Luís a La Dormida
Distância pedalada no dia: 147,87 km.
Distância total acumulada: 2353,36 km.
Tempo pedalado: 6 h 00 min 48 s.
Velocidade média: 24,6 km/h.
Velocidade máxima: 37,5 km/h.
Assim como durante a noite, de manhã ventava bastante. Após o café desmontamos acampamento e seguimos viagem. O forte vento lateral ora ajudava, ora atrapalhava o andamento das bicicletas. Pedalamos por uma incrível reta com 40 quilômetros de extensão!
O relevo e a vegetação começavam a mudar, pois pedalávamos por baixadas e elevações mais pronunciadas e nas laterais da estrada só havia árvores espinhentas. Algumas paisagens lembravam os filmes de velho oeste americanos. Entre os poucos pontos de referência deste trajeto encontramos o rio Desaguadero, onde paramos para tomar suco e descansar. Nesse local havia um posto de controle de fronteira entre as províncias de San Luís e de Mendoza, onde acabávamos de entrar. Finalmente chegávamos às terras próximas da Cordilheira dos Andes: Mendoza, terra do sol e do bom vinho!!!
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