Saturday, March 31, 2007

De bicicleta pelo Cone Sul - décimo sétimo capítulo




Vigésimo sétimo dia (18/01/01 – quinta) – Parque Provincial Aconcagua

Distância pedalada no dia: -
Distância total acumulada: 2660,20 km.

Amanheceu um belo dia, sem nuvens e com pouco vento. Pouco a pouco o calor do sol atingiu o Vale Horcones e elevou a temperatura que, durante a noite, havia baixado significativamente. Verifiquei a influência da sombra e do vento na temperatura: exposto ao sol e abrigado do vento pela barraca, o termômetro marcava vinte graus centígrados; no vento e à sombra, registrava apenas cinco graus!!!
Logo no início da manhã a movimentação incomum em torno do helicóptero de resgate nos chamou a atenção. Pouco depois da decolagem a aeronave retornava, trazendo um cambaleante andinista com olhos vendados. Uma ambulância já o aguardava e rapidamente a vítima foi levada para um hospital. Uma demonstração clara de que a ascensão daquela montanha exigia séria preparação.
Tomamos café e arrumamos o material na barraca, separando o essencial para a caminhada que pretendíamos fazer: casacos, água, um pequeno lanche e, claro, as máquinas fotográficas e os filmes. Pouco depois de deixarmos o acampamento passamos pela bela Laguna Horcones (2900 metros de altitude) e mais uma vez pudemos ver a imagem do Aconcagua refletida em suas águas. Seguimos por uma trilha nitidamente marcada em terreno pedregoso que margeava o Río Horcones. Trinta minutos depois, atravessávamos o rio por uma ponte suspensa por cabos na Quebrada del Río Horcones, bem próxima da Quebrada del Durazno. A partir daí a trilha seguia por terreno um pouco mais íngreme onde curiosas formações rochosas podiam ser admiradas. Algumas rochas pareciam prontas a desabar a qualquer momento; outras, como pontas de flechas, apontavam para o céu. Passamos por uma encosta inclinada onde escorregar não seria aconselhável: muitos metros abaixo, as águas revoltas do rio espremiam-se entre grandes pedras.
Seguindo pela trilha, caminhamos por aproximadamente duas horas e meia e novamente voltamos a nos aproximar do rio. Uma precária ponte improvisada sobre duas pedras permitia a passagem até a trilha que subia pela outra margem do rio. Estávamos chegando na Confluencia, região de encontro entre dois vales importantes na aproximação do Aconcagua. À direita, uma trilha seguia em direção ao Glaciar Horcones Inferior, ponto de passagem obrigatória para os escaladores da perigosíssima Parede Sul; à esquerda, a trilha seguia até o acampamento Confluencia e rumava de lá para a Plaza de Mulas, acampamento base para a grande maioria dos andinistas (que optavam pela rota menos difícil, chamada Via Normal). Atravessando mais uma ponte improvisada, chegamos ao acampamento Confluencia. Entre algumas barracas encontramos a dos amigos Fabrice e Jacson, que lá haviam passado uma fria noite (como saberíamos mais tarde). Deixamos uma mensagem sobre algumas pedras dentro da barraca, tomamos água cristalina e gelada diretamente de um riacho oriundo das geleiras e, após o registro fotográfico, retornamos pela mesma trilha. Se antes o Aconcagua dominava a paisagem por entre as montanhas, agora era a grandiosidade do vale que nos fascinava. Camadas de rocha em todas as direções tornavam as montanhas extremamente interessantes e a extrema limpidez do ar permitia a visão das paisagens mais longínquas. A falta de perspectiva em cenário tão grandioso distorcia nossa capacidade de avaliação: o que pareciam pequenas pedras na verdade eram rochas maiores do que edifícios!!! Foi muito bom poder compartilhar com meu pai, meu verdadeiro amigo, paisagens tão fantásticas.
A poeira acumulada sobre as botas serviu de quadro-negro para o registro: Aconcagua 2001. Quando voltaríamos para esse belíssimo cenário? Algum dia nos atreveríamos a ultrapassar os nossos limites, tentando chegar no alto da montanha? São perguntas que ainda não podemos responder. Quem sabe...

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