Vigésimo quarto dia (15/01/01 – segunda) – Mendoza a Uspallata
Distância pedalada no dia: 122,48 km.
Distância total acumulada: 2580,56 km.
Tempo pedalado: 6 h 20 min 32 s.
Velocidade média: 19,3 km/h.
Velocidade máxima: 62,0 km/h.
Preparamo-nos para deixar a bela cidade de Mendoza, com suas ruas arborizadas e as características canaletas para água do degelo. Arrumamos o equipamento nos alforjes das bicicletas, tomamos café, posamos para uma fotografia em frente ao albergue e colocamos o pé na estrada, deixando esse local tão simpático para trás. Cruzamos o rio Mendoza, que mais tarde acompanharíamos em seu curso pelo interior da cordilheira.
Primeiramente desviamos para o sul, passando pela refinaria de petróleo de Luján de Cuyo e por pequenas propriedades onde o cultivo de frutas parecia ser uma regra. Desviamo-nos da estrada principal e tomamos uma simpática rodovia ladeada por árvores, extremamente agradável. Estávamos felizes pela aproximação da cordilheira, o ponto alto (em todos os sentidos) da viagem. E logo pudemos contemplá-la, em todo o seu esplendor, com altos picos cobertos de neve eterna.
Avançando pela Ruta 7, fomos nos aproximando cada vez mais da pré-cordilheira até que começamos a pedalar entre as montanhas. Inicialmente houve uma subida constante e uma grande descida até a localidade de Potrerillos, onde paramos para almoçar. Quase sem perceber, já estávamos em uma região típica da pré-cordilheira, a 1351 metros de altitude. Nessa parada para o almoço encontramos o Daniel, um ciclista argentino que estava fazendo uma pequena viagem ao Chile. Oferecemos a nossa alegre companhia e o grupo aumentou para cinco ciclistas. Teríamos ainda cinqüenta quilômetros sem pontos de reabastecimento para percorrer, então tratamos de levar toda a água possível.
A estrada seguia sempre ao lado da antiga ferrovia trans-andina, que ora estava numa, ora na outra margem do rio Mendoza. A construção dessa ferrovia deveria ter sido uma tremenda obra de engenharia, pois ela seguia serpenteando espremida entre o rio e os paredões de pedra das montanhas. Com o advento do transporte rodoviário (e toda a pressão econômica daí advinda) a ferrovia foi esquecida e abandonada. Avalanches e desmoronamentos de pedras destruíram vários trechos em locais mais expostos. Algumas vezes montanhas imensas desciam diretamente até a estrada, obrigando-nos a passar por uma sucessão de túneis.
No diário de viagem escrevi que a paisagem nesse dia foi belíssima, pois passávamos por gargantas estreitas bem ao lado do rio Mendoza, cujas águas marrons bem agitadas eram um convite para uma descida de caiaque ou de bote. As montanhas tinham várias cores e formatos e no topo das mais altas a neve branca contrastava com a aridez do restante da paisagem. Quando faltavam aproximadamente 20 km para Uspallata as nuvens se tornaram negras e vez por outra se ouvia o barulho das trovoadas. Tive que parar para ensacar algumas coisas e para colocar uma capa de chuva, pois pingos grossos começaram a cair. Choveu pouco mas o suficiente para molhar tudo o que não estava protegido.
Quando chegamos nas proximidades da cidade, paramos em um posto de gasolina para tomar suco. O vento já estava relativamente frio se comparado àquele ao qual estávamos acostumados.
A aridez do verdadeiro deserto onde pedalávamos era enigmática. Mesmo às margens do rio Mendoza, apenas pequenos arbustos conseguiam sobreviver. Esse panorama modificou-se quando atravessamos o caudaloso rio por uma ponte metálica e o vale estreito onde pedalávamos foi dando lugar a uma grande região plana cercada por altas montanhas, o Pampa de Tobolango. Algumas construções e o surgimento de vegetação – inclusive grandes árvores – denunciavam a proximidade da nossa próxima escala na viagem pela cordilheira: a cidade de Uspallata.
Chegando na cidade, procuramos o camping mas, ao negociarmos um desconto, acabamos ficando alojados em uma cabana, ao custo de oito pesos por pessoa. Depois de um bom banho quente, fomos a um mercado comprar alimentos. A janta foi composta por salsichão e carne no forno (preparados por Egon), massa (feita pelo Daniel), pão e suco de laranja. Durante a janta percebemos que a comunicação havia mudado um pouco, pois Daniel falava apenas espanhol. Agora tínhamos alguém para nos ajudar na tradução. Preparei café com leite e Fabrice lavou a louça. O diário de viagem foi atualizado. Durante essa tarefa era possível olhar para o mapa geral do roteiro e admirar todo o caminho que já havíamos percorrido. Estávamos finalmente na tão comentada cordilheira, na pequena cidade de Uspallata, a 1751 metros acima do nível do mar. As montanhas nos deixavam maravilhados pela sua beleza. O ar, extremamente limpo, permitia a visualização de grandes extensões. Realmente um cenário magnífico, escolhido inclusive pelo diretor Jean-Jacques Annaud para a realização do filme épico – protagonizado por Brad Pitt – Sete Anos no Tibet. Nesse cenário, no dia seguinte, teríamos oitenta quilômetros de subidas, ultrapassando os três mil metros de altitude em pleno coração da Cordilheira dos Andes...
Distância pedalada no dia: 122,48 km.
Distância total acumulada: 2580,56 km.
Tempo pedalado: 6 h 20 min 32 s.
Velocidade média: 19,3 km/h.
Velocidade máxima: 62,0 km/h.
Preparamo-nos para deixar a bela cidade de Mendoza, com suas ruas arborizadas e as características canaletas para água do degelo. Arrumamos o equipamento nos alforjes das bicicletas, tomamos café, posamos para uma fotografia em frente ao albergue e colocamos o pé na estrada, deixando esse local tão simpático para trás. Cruzamos o rio Mendoza, que mais tarde acompanharíamos em seu curso pelo interior da cordilheira.
Primeiramente desviamos para o sul, passando pela refinaria de petróleo de Luján de Cuyo e por pequenas propriedades onde o cultivo de frutas parecia ser uma regra. Desviamo-nos da estrada principal e tomamos uma simpática rodovia ladeada por árvores, extremamente agradável. Estávamos felizes pela aproximação da cordilheira, o ponto alto (em todos os sentidos) da viagem. E logo pudemos contemplá-la, em todo o seu esplendor, com altos picos cobertos de neve eterna.
Avançando pela Ruta 7, fomos nos aproximando cada vez mais da pré-cordilheira até que começamos a pedalar entre as montanhas. Inicialmente houve uma subida constante e uma grande descida até a localidade de Potrerillos, onde paramos para almoçar. Quase sem perceber, já estávamos em uma região típica da pré-cordilheira, a 1351 metros de altitude. Nessa parada para o almoço encontramos o Daniel, um ciclista argentino que estava fazendo uma pequena viagem ao Chile. Oferecemos a nossa alegre companhia e o grupo aumentou para cinco ciclistas. Teríamos ainda cinqüenta quilômetros sem pontos de reabastecimento para percorrer, então tratamos de levar toda a água possível.
A estrada seguia sempre ao lado da antiga ferrovia trans-andina, que ora estava numa, ora na outra margem do rio Mendoza. A construção dessa ferrovia deveria ter sido uma tremenda obra de engenharia, pois ela seguia serpenteando espremida entre o rio e os paredões de pedra das montanhas. Com o advento do transporte rodoviário (e toda a pressão econômica daí advinda) a ferrovia foi esquecida e abandonada. Avalanches e desmoronamentos de pedras destruíram vários trechos em locais mais expostos. Algumas vezes montanhas imensas desciam diretamente até a estrada, obrigando-nos a passar por uma sucessão de túneis.
No diário de viagem escrevi que a paisagem nesse dia foi belíssima, pois passávamos por gargantas estreitas bem ao lado do rio Mendoza, cujas águas marrons bem agitadas eram um convite para uma descida de caiaque ou de bote. As montanhas tinham várias cores e formatos e no topo das mais altas a neve branca contrastava com a aridez do restante da paisagem. Quando faltavam aproximadamente 20 km para Uspallata as nuvens se tornaram negras e vez por outra se ouvia o barulho das trovoadas. Tive que parar para ensacar algumas coisas e para colocar uma capa de chuva, pois pingos grossos começaram a cair. Choveu pouco mas o suficiente para molhar tudo o que não estava protegido.
Quando chegamos nas proximidades da cidade, paramos em um posto de gasolina para tomar suco. O vento já estava relativamente frio se comparado àquele ao qual estávamos acostumados.
A aridez do verdadeiro deserto onde pedalávamos era enigmática. Mesmo às margens do rio Mendoza, apenas pequenos arbustos conseguiam sobreviver. Esse panorama modificou-se quando atravessamos o caudaloso rio por uma ponte metálica e o vale estreito onde pedalávamos foi dando lugar a uma grande região plana cercada por altas montanhas, o Pampa de Tobolango. Algumas construções e o surgimento de vegetação – inclusive grandes árvores – denunciavam a proximidade da nossa próxima escala na viagem pela cordilheira: a cidade de Uspallata.
Chegando na cidade, procuramos o camping mas, ao negociarmos um desconto, acabamos ficando alojados em uma cabana, ao custo de oito pesos por pessoa. Depois de um bom banho quente, fomos a um mercado comprar alimentos. A janta foi composta por salsichão e carne no forno (preparados por Egon), massa (feita pelo Daniel), pão e suco de laranja. Durante a janta percebemos que a comunicação havia mudado um pouco, pois Daniel falava apenas espanhol. Agora tínhamos alguém para nos ajudar na tradução. Preparei café com leite e Fabrice lavou a louça. O diário de viagem foi atualizado. Durante essa tarefa era possível olhar para o mapa geral do roteiro e admirar todo o caminho que já havíamos percorrido. Estávamos finalmente na tão comentada cordilheira, na pequena cidade de Uspallata, a 1751 metros acima do nível do mar. As montanhas nos deixavam maravilhados pela sua beleza. O ar, extremamente limpo, permitia a visualização de grandes extensões. Realmente um cenário magnífico, escolhido inclusive pelo diretor Jean-Jacques Annaud para a realização do filme épico – protagonizado por Brad Pitt – Sete Anos no Tibet. Nesse cenário, no dia seguinte, teríamos oitenta quilômetros de subidas, ultrapassando os três mil metros de altitude em pleno coração da Cordilheira dos Andes...
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