Saturday, November 08, 2008

Caminhada no Litoral Sul - 29/10/08

Litoral Sul, quarta-feira. Descobri que estava no Rancho 3 Amigos. O tempo estava instável, nublado, com névoa e chuvisqueiro.
Desmontei acampamento decidido a retornar para Hermenegildo e de lá para Santa Vitória do Palmar. Chegando na praia, vi que ao norte havia movimentação de pescadores. Caminhei até lá e encontrei Volnei e Guto, que recém haviam tirado uma rede do mar e recolhiam os peixes. Perguntei se iriam a Hermenegildo e responderam que sim, mas iriam recolher e limpar os peixes primeiro. Perguntei se podia ajudar, ao que acenaram positivamente. Na rede havia peixes de diversas espécies e tamanhos, bem como uma tartaruga marinha bem jovem afogada. Os peixes pequenos e a tartaruga foram deixados na praia e segui com os pescadores para o rancho, chamado Barraco Condor.
O Barraco Condor visto da praia...
... e nas proximidades da entrada.
O lugar, muito bonito, conta com várias cabanas. Externamente não têm boa aparência, por serem pintadas com óleo queimado, o que aumenta a durabilidade da madeira. Há, porém, uma estrutura considerável, com gerador de energia elétrica e antena parabólica.
Acima e abaixo, os dois cachorros de estimação.
Aproveitei a estadia para fotografar as belas flores do local e acompanhar o trabalho dos pescadores. Por volta do meio-dia fui convidado para comer peixe, muito bem preparado pelo Volnei. contribuí com chocolates para sobremesa. Durante a tarde o trabalho com os peixes continuou.
Tive sentimentos ambíguos em relação aos pescadores. Pude perceber que a pesca não é o principal sustento para eles, mas uma espécie de lazer lucrativo. Os peixes são transformados em filé, pelo que pude compreender, por estarem fora das medidas adequadas. Ou seja, não deveriam ter sido pescados, e transformá-los em filés mascara esse fato. Com isso uma grande quantidade do peixe acaba "sobrando" e é jogada fora (em fotografia acima, dentro de um cesto). Além disso, peixes vão ficando para trás (os peixes da foto acima) e, por estarem no sol, são simplesmente descartados de volta na praia juntamente com os restos do cesto. Os filés são colocados em uma caixa com gelo e levados para venda. Concordo que a pesca industrial deva causar danos muito mais significativos, com barcos praticando pesca com redes de arrasto bem junto à costa, sem nenhum tipo de fiscalização. Mas a ação de muitos pescadores ditos "artesanais" (embora não necessitem dessa atividade para sobreviverem), ao longo de muitos anos, com certeza tem um impacto negativo considerável. Não se trata de uma crítica pessoal aos pescadores que me acolheram. Não gostaria de prejudicá-los por isso. Trata-se apenas de uma constatação de alguém que observa de fora e que não está influenciado pelo meio.
Obrigado pela acolhida, Volnei e Guto!
Recebi uma carona e a oportunidade de andar em uma legítima "gaiola" movida a gás e construída em casa!
Ao voltar, vendo as aves em revoada na beira da praia, lembrei-me da exposição do professor Lauro durante a apresentação do projeto Larus: as aves migratórias atualmente são influenciadas pelo tráfego na costa, pois não conseguem se alimentar de maneira correta, tendo que voar para fugir dos veículos. Bandos de aves foram inclusive observados em pleno início do inverno, alimentando-se no litoral, quando já deveriam estar longe, migrando muitas vezes para o outro hemisfério. É a ação degradante do homem na natureza. Muitas vezes não-intencional, mas sempre efetiva...
Com relação aos pescadores, imagino que uma alternativa para a ação predatória de pesca seria o turismo - ou ecoturismo -, que certamente com uma estrutura mínima seria comercialmente viável, particularmente em uma área tão especial como o Litoral Sul.
Recebi mensagem via celular do amigo Evânder, que estava se preparando para viajar de bicicleta para Montevidéo:
"O merecimento maior é do homem que se encontra na arena com o rosto coberto de suor e sangue, que conhece as grandes devoções e os grandes entusiasmos, pois mesmo tendo fracassado jamais será substituído por essas almas tímidas e frias que não conhecem derrotas nem vitórias."
Obrigado, amigão!

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