Cheguei aos molhes, fronteira entre o Brasil e o Uruguai. Fiz um lanche com frutas.
Comecei a caminhar pouco antes do meio-dia. Em apenas meia hora de caminhada percebi que teria bolhas, apesar da estratégia de utilizar duas meias (uma fina, em contato com o pé, e outra mais grossa em contato com o calçado). Além de não caminhar seriamente há bastante tempo, estava com peso em excesso. O vento nordeste dificultava o avanço.
Em Hermenegildo passei por várias construções atingidas pelas ondas em dias de ressaca. O preço a ser pago pela destruição completa das dunas costeiras será amargo...
No final de tarde, quando já procurava o aglomerado de casinhas que havia sido descrito pelo pescador que me oferecera água, vi uma tartaruga grande virada de dorso para baixo, se debatendo. Larguei a mochila no chão e corri para tentar ajudá-la. Com alguma dificuldade (por causa do seu peso) consegui desvirá-la. As ondas chegavam até ela mas ela não conseguia reagir, talvez por ter permanecido tempo demais naquela posição. Consegui arrastá-la o mais para perto da água que pude quando as ondas recuaram e esperei que ela pudesse avançar dentro d´água. As ondas vieram e ela continuou se debatendo. Dava para imaginar o seu sofrimento, foi muito triste para mim. Outras ondas chegaram e não a vi mais. Chorei, cansado e chateado, sentindo-me a mais impotente das criaturas. Já não tinha mais o principal elemento para continuar: vontade.
Encontrei o grupo de casas de pescadores, mas ninguém por perto. Procurei água e encontrei em uma das cabanas uma caixa d´água com canos e um registro por onde teria acesso à água. Resolvi acampar por lá, debaixo de um telhado que protegia bastante do vento. Preparei uma janta à base de massa e café com leite, mas não tinha fome. Através do gps confirmei que havia caminhado 27,5 km desde a Barra do Chuí, de onde havia saído ao meio-dia.
2 comments:
Lindas fotos. Que saudades do Chuí. Pelo que vi na foto, você leva mais de 10 quilos na mochila. É por isso que os pés não aguentaram. Mas não se preocupe que depois de formar uma grossa camada não vai doer mais.
Desejo boas caminhadas, meu amigo Leo.
Abraços
Valdo
E aí, Vivente!
Emocionante o relato, dá pra imaginar (só imaginar, na verdade, não sentir) a sensação de ver a natureza cuja beleza nos faz estar dispostos a tantas aventuras, aparentemente até insensatas, sendo continuamente degradada como se escorresse por entre os dedos distraídos da humanidade que segue seu rumo...
Esperemos que o sofrimento da coletividade ao resolver mudar de idéia não seja tão angustiante quanto deve ter sido o teu, mas que, em todos os casos, o aprendizado seja muito maior!
Parabéns pela coragem, pela perseverança, e pelo bom senso, e que continue a VIDA!
Helton
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