Friday, February 03, 2012

De caiaque de Bom Retiro do Sul a Morretes - terceiro dia


Durante a montagem do acampamento decidi não colocar o sobreteto na barraca e não me arrependi. Ficou mais arejada e passei uma noite tranquila. Antes de dormir ainda ouvia o ruído dos zilhões de mosquitos que ficaram do lado de fora...


Acordei antes do sol nascer em um céu absolutamente limpo. Nenhuma nuvem à vista, prometendo um dia quente. Já estávamos nos movimentando quando os primeiros raios de sol começaram a atingir o acampamento.
Recebi uma ligação telefônica da esposa do Germano, que havia tentado contato sem sucesso - o telefone do Germano estava desligado. As novas que chegaram não foram boas, pois noticiavam o falecimento de um parente do Germano.




Houve mudança de planos: Germano remaria até Fanfa (local também conhecido por Estação Fanfa) onde encontraria carro para transportá-lo para casa. Obviamente decidimos alterar o rumo da remada para acompanhá-lo a Fanfa, mesmo ele afirmando que não seria necessário.


Nesse clima de tristeza, saímos para o terceiro dia de jornada.




Para contrastar com a tristeza, em uma margem encontrei um simpático "jaguara" que veio dar bom dia, todo feliz e abanando o rabo! Foi chegando perto e até subiu no caiaque, feliz com o carinho que recebeu. Quando tratei de me afastar para continuar a remada (estava quase perdendo de vista o Maciel, que estava bem mais à frente), deu vontade de levar o novo amigo junto, tão grande parecia sua vontade de seguir comigo! Acompanhou-me pela margem por um tempo e depois retornou para onde estavam outro cachorro e um homem, provavelmente seu dono.





Seguindo para Fanfa, alteramos o rumo inicialmente planejado, seguindo para a esquerda. Germano e Maciel optaram pelo caminho mais curto, mas exposto ao vento que começava a aumentar e às ondas contrárias, enquanto eu segui remando abrigado pela margem das ilhas à minha direita. Passamos por uma área de grande concentração de barcos areeiros trabalhando a todo vapor.


Aqui jaz um barco...



Chão "florido"


Na outra margem, Fanfa.


Ao pesquisar sobre Fanfa para esta postagem, descobri que:


"Ao tomar conhecimento da proclamação da República Rio-Grandense, na Batalha do Seival, as forças de Bento Gonçalves levantam o sítio que infligiam à cidade de Porto Alegre, e passam a deslocar-se, beirando o rio Jacuí, para junção com as forças de Neto. Devido à época de cheias, era necessário atravessar o rio na ilha de Fanfa, no atual município de Triunfo.
As tropas imperiais, sob o comando de Bento Manuel Ribeiro, deslocam-se a partir de Triunfo, de modo a impedir a passagem dos farroupilhas. Araújo Ribeiro, alertado por Bento Manuel, envia a marinha, comandada pelo mercenário inglês John Grenfell. Assim, 18 barcos de guerra, escunas e canhoneiras foram postos a guardar o lado sul da ilha. Os barcos só foram percebidos pelos farrapos depois de estarem na ilha.
Em 3 de Outubro de 1836, as forças imperiais fecham o cerco por terra. As forças farroupilhas resistem, sabedores da proximidade de tropas lideradas por Crescêncio de Carvalho. Repelem os marines que desembarcam na ilha pela costa sul e as tentativas de travessia pelo norte. Naquela noite, porém, negociam um acordo pelo qual os farrapos entregariam as armas, capitulariam e voltariam livres para suas casas.
Pela manhã do dia 4 de outubro era formalizada a capitulação. Muitos revoltosos jogaram suas armas no rio, ao invés de entregá-las aos imperiais. No momento em que confraternizavam as tropas, chega Araújo Ribeiro, em pessoa, trazido por John Grenfell. Imediatamente ordena a prisão dos farrapos, desprevenidos e desarmados, não aceitando o acordo. Bento Manuel colabora com a captura. Entre outros, Bento Gonçalves, Tito Lívio ZambeccariPedro BoticárioJosé de Almeida Corte RealOnofre Pires e José Calvet são presos. Por esse motivo, além de ser conhecido como a derrota do Fanfa, o episódio é também chamado de traição do Fanfa.
Foi um confronto estratégico onde os comandantes já se conheciam e tinham lutado lado a lado em diversas oportunidades, na mesma guerra, como também, anteriormente, na guerra da Cisplatina. Foi, ainda, um dos momentos em que a participação de Bento Manuel, então lutando pelo Império, mostrou-se decisiva para a vitória. O episódio custaria a Bento Manuel, quando resolveu voltar para o lado farroupilha, grande desconfiança por parte dos líderes da revolução.
A rendição dos farroupilhas e a prisão de Bento Gonçalves retiraria o general do confronto até sua fuga do Forte do Mar, na Bahia, em 1837. A guerra, porém, continuou. Neto assumiu o comando militar farroupilha e Gomes Jardim substituiu Bento Gonçalves na presidência da república."



Maciel chegando


Germano chegando



"A estação de Porto Baptista foi inaugurada em 1938 pela VFRGS, na variante Diretor Pestana-Barreto. Em 14 de dezembro de 1939, seu nome passou a ser Fanfa, ilha no rio Jacuí, próximo à estação, célebre pelo combate travado na Revolução Farroupilha entre as tropas legalistas e republicanas em 1836. "Eu me lembro daquele trágico acidente de Fanfa onde dezenas morreram. Ainda recordo do chefe da estação passando correndo frente à casa do meu tio em direção ao hospital para avisar do ocorrido. Eu era guri na época, alguma coisa eu me lembro do que foi o maior acidente de trem do RS. Um trem se não me engano carregado de paralelepípedos não parou num cruzamento e chocou-se com o trem misto que vinha de Porto Alegre. A maioria das pessoas trabalhava na capital ou retornava para passar o fim de semana, não lembro bem isto deve ter ocorrido em meados de 1967 ou 1968. Falavam na época que o maquinista do cargueiro teria dormido ao passar por uma estação onde receberia ordem para parar a 100 m do entroncamento. Sei que o maquinista não foi julgado e o crime prescreveu (30 anos)" (Cesar A. S. Pereira, Pântano Grande, RS, 04/2007). Foram, na verdade, 68 mortos e 60 feridos no dia 27 de janeiro de 1968. O trem misto, apelidado de "Leiteiro", colidiu com um cargueiro de 689 toneladas próximo ao bairro de Porto Batista, às 17 h 50 e a cerca de 100 m da estação de Fanfa, atingindo dois carros de passageiros. A estação deixou de receber trens de passageiros em fevereiro de 1996, quando estes foram suprimidos entre Porto Alegre e Uruguaiana."




Seguindo viagem

Após uma breve parada em Fanfa, seguimos viagem, agora sem o amigo Germano. Ainda tínhamos um longo caminho pela frente, tentando escolher margens abrigadas do vento para remar.




Em certo momento não havia mais escapatória, pois o rio fazia uma curva e o vento era afunilado pelas margens. Precisamos enfrentá-lo com paciência e tenacidade.





Paramos para almoçar em uma praia minúscula na margem esquerda. Depois do almoço precisaríamos atravessar o canal de navegação para remar ao abrigo de mais uma ilha:


Chegando em águas abrigadas, a remada ficou bem mais tranquila. Ao longe avistávamos as grandes torres de energia elétrica que ficam nas duas margens do rio, já às portas do Delta do Jacuí.







Chegando ao Delta do Jacuí teríamos duas opções: (1) seguir para a direita (Sul) em direção ao cais do porto e à Usina do Gasômetro ou (2) seguir para a esquerda, passando pela Ilha do Lino e entrando no rio Caí, terminando a remada em Morretes. Escolhemos a segunda opção, para evitar o forte vento contrário que vinha do Sul e era afunilado pelas margens do rio.

À frente, Ilha do Lino.



Entrando no rio Caí

Terminal do cimento


Morretes


Fizemos uma boa escolha seguindo para o rio Caí, onde nos últimos metros até tivemos o prazer de remar a favor do vento :) !!!
Uma pena não podermos contar com a companhia do sempre bem humorado amigo Germano nesse último trajeto (ainda mais lamentando a sua ausência por um motivo tão triste para sua família), pois apreciamos sua companhia.


Germano concluiu o trajeto de Fanfa a Morretes alguns dias mais tarde, na companhia do amigo Fernando Bueno. Por favor visite o blog do Germano para ver texto e fotos.

Várias pessoas perguntam a respeito do caiaque, sua capacidade de carga e o que costumamos levar. Como curiosidade, posto uma foto do caiaque e das tralhas abaixo.

[Por favor clique na imagem para ampliá-la]

Informações disponibilizadas pelo gps:

Distância remada: 38,67 km;
Tempo remado: 7 h 6 min;
Velocidade média: 5,4 km/h;
Velocidade máxima: 9,0 km/h;
Tempo parado: 3 h 6 min;
Velocidade média geral: 3,8 km/h.

Distância total remada: 118,14 km.

[Trajeto e legendas sobre imagem do Google Earth]
Percurso remado no terceiro dia

[Trajeto e legendas sobre imagem do Google Earth]
Percurso do acampamento ao almoço

[Trajeto e legendas sobre imagem do Google Earth]
Percurso do almoço até Morretes

[Trajeto e legendas sobre imagem do Google Earth]
Percurso realizado nos três dias de remada

3 comments:

Walter Hasenack said...

Gostei da história dos mosquitos. Já passei noites em beira de rio sem barraca com mosquiteiro,... meu, é de chorar!

Mike said...
This comment has been removed by the author.
Mike said...

Grande Leonardo!

Teus posts são ótimos, as fotos então!!! Como moro perto de bom retiro, quero fazer essa remada no futuro, quando comprar um oceânico!!! Abraço! Michel Machado